A professora Janaína Paschoal se disse aliviada. Claro:
além do final do dever cumprido, o sentimento de vitória. Mas uma vez, a velha
e sempre nova Academia do Largo de São Francisco influi decisivamente na
história brasileira, ao lado do professor Miguel Reale Júnior e de Hélio
Bicudo, o bravo que demonstrou que tamanho e idade não são documentos. E para
alívio de todos nós.
Com efeito, sentimos, de um lado, a alma lavada pelas
enganações do lulopetismo; de outro, a esperança no futuro.
Lavamos a alva porque foi interrompido um projeto de poder
maligno. Um projeto de dominação de natureza esquerdista-populista. Essa
propensão ao domínio do poder levou-nos à maior crise de todos os tempos. Não é
preciso exemplificar muito. A maioria do povo já se cansou de ler, ver e ouvir
as agressões ao País causadas pelo PT e seus aliados. Cansou-se, nosso povo, de
ver as notícias políticas comporem páginas policiais repugnantes. Para estancar
esse projeto de poder, só poderíamos ter a deposição da Chefe maior, pois com
ela desceu todo o projeto pela enxurrada.
A esperança no futuro porquanto nos desgarramos dos
grilhões da esquerda podre; não porque tenhamos excelentes políticos para nos
conduzir, a partir de agora. Mas, deveremos crescer, sustentavelmente, porque a
democracia ganhou, considerando-se como democracia a livre fluências de
pluralidade de ideias dentro de um mesmo grupo ou partido, o que é bom por uma
razão muito simples: cada um de nós tem uma concepção do homem, da vida e do
mundo, formando um caleidoscópio criativo incapaz de ficar preso no triste
binômio esquerda-direita, capaz de enterrar sob rubras trincheiras
milhares de jovens e o recente gosto pela existência.
Hitlher foi financiado pelo grande capital e sustentado
pelas grandes fortunas, mas, também, milhões de operários integraram as
fileiras do nacional-socialismo; Stálin nada proporcionou à classe operária,
salvo o holocausto de milhões de camponeses que não puderam compreender a
mudança imposta a seus costumes seculares. São os exemplos mais contundentes,
mas o fato é que direita e esquerda deram com os burros n'água.
A esquerda, do tipo da que nos livramos, que, ao constatar
que sua utopia, em todos os lugares do mundo, restou frustrada, substituiu a
realidade apregoada, pelo discurso. Não sendo possível realizar os objetivos
filosóficos, o vazio deveria ser preenchido por falatórios, cada vez mais
sofisticados: os insucessos encobertos, tanto quanto possível, ou convertidos
em "meras conjunturas", mal sucedidas por fatos laterais e tópicos, mas
a estrutura do porvir obedece a um a um "scritp" férreo, descrito
pelo idealismo às avessas desenvolvido com muita proficiência por Karl Marx e
que atraiu em sua atração mágica milhares de explorados, que jamais deixaram
essa condição. O falatório vazio, as promessas descumpridas, os expedientes
malandros, como as "pedaladas", deram a cor de populismo a essa
esquerda incapaz de conviver com uma economia de mercado. É disso de que nos
livramos.
O grande filósofo Raymond Aron, que recentemente teve uma
edição publicada em português do "Ópio dos Intelectuais", nele diz
que a multifacética ideologia humana poderia ser, grosso modo, resumido em três
partidos políticos: a direita ensandecida, que não titubeia em golpear a
democracia; essa esquerda populista; e uma terceira vertente da
social-democracia ou de centro-esquerda. Este último, por ambos demonizado, é
nosso caminho, posto, hoje, pela vitória, à nossa frente.
A sociedade de mercado livre e do bem-estar social.
Óbvio que, como diz a física contemporânea, o ser gera inúmeros sub-seres. Não
sabemos se Temer fará o necessário, que é só um, para sairmos dessa crise
apocalíptica; se os objetivos serão alcançados. Se, mais uma vez, malograrmos,
partiremos em busca em busca de outras soluções, sobretudo sob o aspecto do
regime de governo, sem deixar o caminho afinal encontrado. Mas, de
qualquer modo, estamos aliviados por encontrar a estrada. Poderá ser amena,
rodeada de generosas árvores, ou cheia de pedregulhos. No meio do caminho
brasileiro sempre tem havido uma pedra. Fizemos dela um verso e sempre
superamos nossos desafios.
Amadeu Roberto Garrido de Paula -
advogado e poeta. Autor do livro Universo Invisível e membro da Academia
Latino-Americana de Ciências Humanas.
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