Como tudo o que vem dos Estados Unidos é
sempre visto com bons olhos e costuma, rapidamente, ser adotado por aqui, vale
um alerta a respeito de uma nova moda americana: o comércio de leite humano
O leite materno é o
“padrão ouro” na alimentação infantil. E isso não passou despercebido por
determinados grupos de adultos – pacientes com câncer, fisiculturistas,
fetichistas – que não têm acesso a esse tipo de nutriente de forma livre.
“Além disso, nem todas
as mães, por alguma razão, conseguem amamentar e, movidas pela campanha de
informação sobre os benefícios do leite materno e dos riscos do uso de fórmulas
infantis, buscam o melhor para seus filhos. Porém, nem sempre essas mães fazem
parte do grupo elegível para receber o leite materno doado nos bancos de leite”,
diz o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).
Procura gera oferta.
“Criou-se, assim, um cenário perfeito para que o produto – no caso o leite
materno – seja visto como uma fonte de lucro, com a Internet sendo a fonte mais
ágil e difundida para essa comercialização, que, apesar de à primeira vista
parecer saudável e segura, pode trazer riscos inimagináveis a quem os procura
para consumo, especialmente as crianças”, alerta o médico.
Segundo matéria
recente,
publicada no British Journal of Medicine, sites de comercialização de
leite humano conseguem “vender” o produto por preços mais acessíveis do que os
estabelecidos em bancos de leite (que são regulamentados), por não terem custos
com pasteurização e testagem do “produto” em relação à contaminação na coleta,
armazenamento e distribuição.
“Diferente do que é
exigido nos bancos de leite regulamentados, o leite humano comercializado pelos
sites não passa por testagem sorológica (hepatite B e C, HIV, sífilis)
colocando em risco a transmissão dessas doenças”, afirma o pediatra, que é
autor do blog #EuApoioLeiteMaterno.
Um estudo publicado no Pediatrics comparou amostras
de leite doado a bancos de leite, sem pasteurização (20 amostras) com as que
foram adquiridos on-line, pela internet (101). Os resultados apontavam para um
aumento de todo o tipo de bactérias nas amostras adquiridas pela Internet. O
citomegalovírus foi encontrado em 21% das amostras não controladas, contra
apenas 5% das amostras dos bancos de leite. Apenas 9, entre as 101 amostras da
Internet, não apresentavam qualquer crescimento bacteriano, consequência do
manejo inadequado.
“Como o leite humano comercializado na
Internet não é fiscalizado, em algumas amostras, em outros estudos, já foram
encontrados bisfenol, drogas ilícitas e mistura com leite de vaca e água para aumentar o volume”,
diz o médico.
“Com esse panorama e o risco da ‘importação’
dessa prática no Brasil (se é que ela já não existe), é fundamental a
participação dos profissionais de saúde, acolhendo as mães para que elas se
sintam confortáveis e seguras em compartilhar seus problemas e dificuldades em
relação à amamentação”, orienta Moises Chencinski.
Diante do questionamento
das mães, os profissionais de saúde precisam fornecer respostas embasadas. “As
informações sobre possibilidades mais saudáveis e seguras nesses casos podem
ser transmitidas em consultas com os pediatras, bem como uma forma correta e
recomendada de coleta, armazenamento e reaproveitamento do leite materno,
sempre lembrando que, no Brasil, a amamentação cruzada é proibida por lei. O leite materno testado
e tratado de forma apropriada nos bancos de leite é a segunda melhor opção na
alimentação infantil, ‘perdendo’, apenas, para o leite da própria mãe”, alerta o médico, que também é
membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da
Sociedade de Pediatria de São Paulo.
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