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domingo, 20 de setembro de 2020

Combatendo o preconceito: confira alguns mitos e verdades sobre saúde mental

Todo remédio "derruba" o paciente? O psicólogo vai contar tudo que o adolescente fala para os pais? Esses e outros questionamentos, bastante comuns, respondidos por uma psiquiatra e uma psicóloga


De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a cada ano, cerca de 800 mil pessoas tiram a própria vida em todo o mundo. Segundo a psiquiatra credenciada da Paraná Clínicas, Dra. Roberta Petrauskas (CRM-PR 24.786, RQE 2.810), estudos recentes sugerem que apresentar sintomas com necessidade de atenção em saúde mental é apenas uma questão de tempo. Os levantamentos refletem o impacto social e evidenciam ainda mais a grandiosidade do problema: estamos lidando com uma questão de saúde pública. O quadro atual é ainda mais preocupante devido ao isolamento social e às crises de relacionamento que surgiram com a pandemia do novo coronavírus – seja entre casais, familiares, profissionais ou amigos.

O Setembro Amarelo coloca em discussão a prevenção ao suicídio, mas também traz o lembrete de que ainda existem muitas barreiras que impedem a busca por ajuda e que acabam aumentando o sofrimento das pessoas, tornando os quadros ainda mais arrastados. Tudo isso porque muitas pessoas continuam carregando medo dos rótulos que acompanham o tratamento. “Os psiquiatras não são ‘médicos de loucos’. Na verdade, é um grande mito com raízes no histórico da especialidade, que nasceu dentro dos antigos manicômios, quando as medicações ainda não existiam e pouco se podia fazer pelos portadores de transtornos mentais graves”, esclarece Dra. Roberta.

Para tentar combater um pouco desse preconceito, Dra. Roberta e a psicóloga credenciada da Paraná Clínicas, Ana Paula Zanardi, construíram uma lista com mitos e verdades sobre saúde mental:

 

Fazer terapia significa que sou fraco?

Psicóloga: Não. Medos, resistências por julgamento ou crítica, a crença da fraqueza por buscar ajuda e vergonha, estão entre as principais barreiras para o tratamento. Muitos pacientes evitam a psicoterapia porque “o que as pessoas vão pensar se souberem que vou ao psicólogo?”. Mas depois que começam, comentam: se eu soubesse que seria assim, já teria começado antes, pois é libertador.

 

Só psicoterapia não resolve?

Psicóloga: Em alguns casos, dependendo do sofrimento e do impacto que está trazendo ao paciente, se faz necessária uma avaliação com o psiquiatra para um suporte medicamentoso. O trabalho multidisciplinar é sempre bem-vindo e cada caso tem a sua particularidade.

 

Todo tratamento psiquiátrico é baseado em remédio?

Psiquiatra: Não, o tratamento também envolve medidas não farmacológicas e psicoterapia, que são as ferramentas mais utilizadas na prática clínica. Existem também tratamentos neuromoduladores, como a Eletroconvulsoterapia (ECT) e a Estimulação Magnética Repetitiva Transcraniana (EMRT), que são menos utilizados.

 

Com que frequência preciso ir ao psiquiatra?

Psiquiatra: Depende da avaliação individualizada do caso e também da fase do tratamento em que o paciente se encontra. No início do tratamento ou nas fases de agudização do quadro, por exemplo, as consultas podem chegar a ser semanais. Na fase de estabilidade, as consultas podem ser ainda mais espaçadas do que as mensais. O seu médico é quem poderá dizer qual será o melhor intervalo para a próxima reavaliação. Importante ressaltar que ele deve ser comunicado quando acontecer alguma desestabilização do quadro.

 

Se eu começar a tomar remédio, vou ter que tomar para sempre?

Psiquiatra: Depende da avaliação individualizada do seu caso. Alguns dos principais fatores que influenciam na duração do tratamento são: uma boa evolução, a duração dos sintomas antes do início do tratamento e o risco de recorrência das crises.

 

Todo remédio antidepressivo ou ansiolítico “derruba” o paciente?

Psiquiatra: Não. As medicações que usamos em psiquiatria chamam-se psicotrópicos, não são todas iguais e têm propriedades diferentes. A lentificação e a sonolência, que produzem esse efeito de “derrubar” o paciente, são geralmente mais utilizadas em quem está muito agitado ou para quem tem como um de seus sintomas a insônia. Quando esses efeitos estão excessivos, é preciso comunicar o médico o quanto antes para uma adequação de dose ou troca da medicação.

 

O remédio só mascara o problema e não oferece solução?

Psiquiatra: Em geral, os problemas psiquiátricos têm base genética, onde as medicações não têm poder de atuar. Dizemos, então, que os medicamentos conseguem resolver os sintomas, às vezes por completo. Mas, devido ao fato de não terem o poder de mudar as tendências de desenvolvimento do problema novamente, nem sempre podemos dizer que o paciente foi curado.

 

O corpo acostuma com o remédio e é preciso usar medicamentos cada vez mais fortes?

Psiquiatra: Esse é o fenômeno da tolerância, que corresponde a um dos critérios da dependência química. Ele não ocorre com todas as medicações e nem com todos os indivíduos que fazem uso dos psicotrópicos, pois poucos medicamentos realmente causam dependência – os que causam, em geral, são identificados como “tarja preta”. Procuramos utilizá-los de maneira pontual, pelo menor tempo possível e apenas quando são indispensáveis. Às vezes, é preciso o uso contínuo, então tentamos contornar o risco da dependência de outras formas para não causar danos ao paciente.

 

A psicoterapia dura para sempre?

Psicóloga: Não. Cada paciente e cada processo psicoterapêutico tem a sua duração.

 

A psicoterapia aumenta o sentimento de culpa?

Psicóloga: Não. A psicoterapia tem o objetivo da regulação emocional, alívio de sintomas, reestruturação de crenças e mudanças de comportamento.

 

Fazer terapia por obrigação ajuda?

Psicóloga: Não ajuda e ainda pode atrapalhar. O paciente precisa dar abertura ao processo psicoterapêutico.

 

A psicóloga pode convidar outras pessoas para minha sessão?

Psicóloga: Sim. Às vezes, um atendimento familiar traz alívio de sintomas e uma melhor relação familiar para o paciente.

 

No caso de crianças e adolescentes, a psicóloga vai contar todos os segredos para os pais?

Psicóloga: Jamais. Um processo psicoterapêutico é sigiloso e ético. Só é aberto aos pais quando é algo que oferece riscos a criança, como abuso, ideação suicida. Mas a criança será comunicada disso.

 

Por que alguns pacientes precisam ser internados?

Psiquiatra: Porque existem urgências em psiquiatria, nas quais pode haver risco de vida para o próprio paciente e até mesmo para terceiros. Assim como em outras especialidades médicas as internações podem ser indicadas, entre outros motivos, quando há risco de vida e se faz necessário monitoramento constante do paciente. O risco de suicídio, a agressividade, a confusão mental, a perda grave do pragmatismo são algumas das indicações de internamento em psiquiatria, sendo que o objetivo é não só a resolução de sintomas agudos, como também a proteção do indivíduo enquanto as medicações administradas ainda não conseguiram atingir efeito suficiente para diminuir o risco de desfechos graves ou fatais.

 



Paraná Clínicas

www.paranaclinicas.com.br


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