Pessoas com problemas do coração estão entre as principais vítimas da Covid-19, mas pacientes ainda demonstram medo de procurar o hospital
Estudos apontam que nesse período o número de pessoas que morreram em
casa por infarto agudo do miocárdio aumentou. Em outros tempos essas pessoas
provavelmente teriam procurado o hospital. A situação é de grande preocupação
para os médicos, como alerta o cardiologista e intensivista, coordenador da
Unidade Neuro-Cardio Intensiva do Hospital Brasília, Vitor Barzilai. “Estudos
mostram que os infartos domiciliares vêm aumentando durante a pandemia. Se você
sentir desmaio, dor no peito, palpitações, falta de ar ou, ainda, se você tiver
doença do coração conhecida, é importante procurar atendimento médico. Pessoas
com doenças como insuficiência cardíaca, arritmia, principalmente fibrilação
atrial ou doença coronária têm maior morbidade quando enfrentam o coronavírus”,
explica.
Dados de julho da Secretária de Saúde do DF revelaram que 90% das
vítimas do novo coronavírus da capital possuíam alguma doença preexistente.
Distúrbios metabólicos e diabetes estão entre as comorbidades que levaram a
óbito. Há também, em todo Brasil, um aumento de mais de 30% de mortes em
domicílio por Acidente Vascular Cerebral (AVC), infarto e outras doenças
cardiovasculares, em relação ao mesmo período do ano passado. Em 2019, entre os
meses de março e maio, foram 11.990 mortes por doenças cardíacas. Neste ano,
foram 15.847 óbitos, como apontou o estudo de julho feito pela Sociedade
Brasileira de Cardiologia, SBC, e pela Associação dos Registradores de Pessoas
Naturais do Brasil, Arpen.
O especialista Vitor Barzilai explica que a forma como a covid-19 ataca
o coração pode ser ainda mais grave nas pessoas da terceira idade. “A infecção
viral acaba acometendo o coração. Não parece ser por uma infecção direta no
órgão, mas por uma descarga de adrenalina importante. Isso compromete uma
função do coração durante a infecção. A infecção serve de gatilho para o que
conhecemos como a síndrome do coração partido, ou Takotsubo. O coronavírus leva
à descompensação da doença, secundária à infecção do coronavírus”, alerta.
Apesar da pandemia gerar receio nas pessoas de procurarem atendimento, o
cardiologista garante que é mais seguro procurar o hospital e destaca a
importância do diagnóstico precoce. “Quando o paciente chega ao Pronto Socorro,
é feito um rastreamento para o coronavírus, enquanto as emergências
cardiovasculares são levadas para outro lugar. Se a dor no peito, que é um
sintoma clássico cardiovascular, durar mais que vinte minutos, é importante que
o paciente vá para a emergência para fazer avaliação”, conclui o especialista.
Pollyana Cabral
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