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domingo, 30 de outubro de 2016

Crianças Seletivas




A maioria das pessoas tem alguma restrição em sua dieta. Há aqueles que não gostam de espinafre ou de tomate, e também alguns que preferem não comer carne vermelha. É absolutamente normal que cada pessoa não goste particularmente de algum alimento. Porém, para um grupo de pessoas, a restrição da variedade de alimentos é tão forte que causam um impacto negativo em suas vidas.
75% das crianças brasileiras fazem cara feia para vegetais; 46% dos pequenos não comem no café da manhã e 86% elegem os doces como seus alimentos preferidos. Fatores como esses classificam os brasileirinhos avaliados para o time dos picky eaters (comedores seletivos ou pequenos comedores), termo em inglês que se refere não só a pessoas que rejeitam um grupo de alimentos, mas também àquelas que comem muito pouco, que nunca têm fome ou que pulam refeições.  
Embora não existam critérios formais para diagnóstico, e não esteja atualmente incluído no Código Internacional de Doenças, é um distúrbio que se caracteriza pela rejeição a muitos alimentos, ficando a dieta restrita a cerca de 10 tipos de comida, geralmente carboidratos, alimentos ricos em açúcar e os processados. A criança seletiva manifesta a tríade: recusa alimentar, pouco apetite (relatado) e desinteresse pelo alimento. Geralmente há uma grande aversão a frutas, legumes e verduras. Além da restrição alimentar, há uma recusa em experimentar novos alimentos. Os primeiros anos de vida são fundamentais para a construção de hábitos saudáveis a médio e longo prazo. Os pais precisam incentivar os seus filhos dando o exemplo e oferecendo uma boa variedade de alimentos. Quando a criança fala que não gosta do alimento, é aconselhável fazê-lo de outro modo e apresentar cerca de 12 vezes em diferentes momentos, para se concluir que definitivamente, a criança não gosta do que lhe é oferecido.

Quais são as causas desse comportamento?

Os cientistas apontam que há componentes biológicos e psicológicos na etiologia desse transtorno alimentar. Alguns estudos levantam que essas pessoas poderiam ter um paladar muito aguçado, o que provoca essa rejeição a sabores mais fortes; por outro lado, outros estudos mostram que a rejeição a determinados alimentos se dá muito mais por outras vias sensoriais e não pelo gosto, por exemplo, não gostar do cheiro ou da aparência de um alimento. Em relação ao aspecto psicológico, alguns indivíduos podem associar emoções negativas à alguns alimentos, por exemplo, um mal estar físico causado pela comida, como engasgos ou problemas gastrintestinais. As razões desse comportamento são bastante complexas, devido às interações de características familiares e de contextos sociais. Estudo recente sobre o aspecto psicológico da queixa materna "meu filho não come" revela que é impossível apontar por onde começam as dificuldades em termos causais: se nos sentimentos da mãe ou no comportamento da criança.

Quais são os impactos para a saúde da pessoa?

Os impactos se dão em nível físico, psicológico e social. Ao restringir demais a dieta, o paciente pode sofrer deficiência de diversos nutrientes, desencadeando um déficit de crescimento e desenvolvimento. Como a maioria das situações sociais envolve comida (uma festa, um jantar de confraternização, um encontro com amigos), esses eventos se tornam uma fonte de estresse para o indivíduo. Ao evitar a interação social, surge um impacto no campo emocional, deixando a pessoa mais vulnerável a quadros de ansiedade, por exemplo.

Existe tratamento para esse transtorno?
Sim, e começa no consultório médico, quando o pediatra detecta um mal hábito alimentar e encaminha para a nutricionista. Alguns passos que são tomados dentro do consultório nutricional:
Foco na comida: No horário da refeição, nada de distrações. Desligue televisão, tablets e celulares e o foco é exclusivo na aliemntação. Permita que a criança sinta o cheiro do alimento, que toque e tenha uma experiência de descobrimento.
Horário nas refeições: Estipule horários para a alimentação e inclua na rotina da criança. Mesmo não querendo ou não aceitando, repita os rituais de lanche da manhã e lanche da tarde, até ser um hábito e a criança perceber que os adultos não estão cedendo às suas vontades alimentares.
Não substitua alimentos: Se a criança não aceita a refeição, não dê nenhum tipo de alimento para “compensar” o que não foi aceito na alimentação. Nesse quesito, os leites são campeões. Fazendo isso, nunca criaremos novos hábitos alimentares.

As refeições em família devem ser momentos prazerosos, e acontecer de modo regular para que as crianças possam observar outras pessoas consumindo uma variedade de alimentos. É importante que a criança veja a diversidade de opções, cada alimento com suas cores e aromas, para aprender a lidar com suas preferências. Também é fundamental orientar a família e os amigos que o pacientes não está “com frescura”, fazendo isso de propósito; trata-se de uma real dificuldade, e o comedor seletivo precisa se sentir seguro para tentar algo novo, sem a garantia de que vai gostar. Cada caso de seletividade alimentar tem suas peculiaridades, requer orientação individualizada, segundo as características específicas do paciente, da família e do meio. 



Tamara Hamnle  - nutricionist , especialista em Nutrição Clínica e Nutrição Funcional. Tamara possui cursos de extensão em Nutrição Materno Infantil e Psicologia Clínica também e fez MBA em Gestão de Pessoas pela Fundação Getúlio Vargas, além de fazer parte do grupo de estudos sobre Metabolismo e Obesidade da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, que foi orientado pelo médico Alfredo Halpern.



Medo de ir ao médico pode ser fobia



Conhecida como “Síndrome do Jaleco Branco”, transtorno prejudica a prevenção de doenças e diagnósticos precoce

O medo de ir ao médico acomete muitas pessoas. Os motivos são diversos, incluindo confiança nos profissionais, experiências negativas vivenciadas ou que se tornaram conhecidas como notícias sobre cirurgias malsucedidas e erros técnicos, esquecimento de instrumentos dentro do corpo do paciente, medicação administrada equivocadamente, entre outras. No entanto, o medo pode esconder um grande perigo. 

A Iatrofobia, conhecida também como a “Síndrome do Jaleco Branco”, é uma manifestação fónica específica. Pessoas que sofrem do mal tendem a evitar ativamente o contato com médicos e outros profissionais da saúde.  Segundo a diretora do Departamento de Psicologia da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP), Karla Carbonari, essa fobia é difícil de ser diagnosticada, pois  além de ser uma patologia pouco conhecida, é difícil de ser diagnosticada, devido a recusa dos doentes em se consultar com profissionais de saúde. 

De acordo com a psicóloga, um indivíduo portador dessa fobia têm pavor de ambientes hospitalares e mesmo quando pensam em profissionais de saúde ou em uma possível doença, alteram o comportamento, agitando-se, apresentando tremores e até mesmo podendo perder a coerência dos pensamentos. “Pessoas que sofrem com a fobia, tendem a adiar exames médicos de rotina, recorrendo a automedicação como forma equivocada de evitar doenças ou problemas de saúde, prejudicando a prevenção e diagnóstico precoce de algumas doenças – afirma.

Segundo a especialista, o acompanhamento psicológico é importante para reconstruir a autopercepção do paciente, pois o tratamento das fobias se faz com a associação de psicoterapias e medicamentos. “Uma alternativa interessante pode ser a oferta de serviços de acolhimento e até mesmo serviços online ou via telefone para iniciar a aproximação, que busquem fortalecer os vínculos para facilitar a abordagem, com objetivo de reduzir a ansiedade do paciente, tornando possível e menos ameaçador o contato pessoal posterior”.
Karla Carbonari, alerta que as fobias atingem cerca de 10% da população, habitualmente se manifestando na infância ou adolescência, podendo persistir até idade adulta, se não acompanhadas adequadamente. A especialista ainda ressalta que as fobias acometem com mais frequência pessoas do sexo feminino, com exceção da fobia social, que atinge igualmente homens e mulheres.


A ansiedade infantil



Ansiedade é um sentimento, geralmente, associado ao medo, antecipação de perigo ou ameaça, que vem acompanhado por pensamentos e interpretações catastróficas sobre o futuro. Este sentimento acomete tanto a população adulta quanto as crianças. E como a ansiedade se manifesta na infância?

Em termos conceituais e funcionais, a ansiedade pode se manifestar de maneira normal ou como um transtorno. Como assim, normal? É isso mesmo, a ansiedade é um sentimento importante para nós, pois quando vivenciada no dia a dia, nos permite correr atrás de um objetivo, nos preparar para os desafios e fugir de situações de perigo, sem que haja um comprometimento na nossa vida.
Por outro lado, a ansiedade considerada como um transtorno, é um sentimento que gera desconforto físico intenso como: taquicardia, tremores, sudorese, calafrios, alterações gastrointestinais, entre outras.

Além disso, segundo pesquisadores, a ansiedade patológica pode levar o paciente a desenvolver estratégias como, por exemplo, evitar o contato com aquilo que lhe causa temor, e ainda causar manifestações clínicas capazes de gerar importantes prejuízos no funcionamento normal do indivíduo. As causas dos transtornos de ansiedade ainda não são bem delimitadas, pode-se dizer que tem muitos fatores, como origens genéticas, comportamentais ou ambientais.

Para alguns autores, os transtornos ansiosos mais frequentes nas crianças podem ser: transtorno de ansiedade de separação, mutismos seletivo, fobia específica, fobia social, transtorno da ansiedade generalizada e pânico.

O indivíduo com transtorno de ansiedade de separação tem um medo ou ansiedade associado à separação das figuras de apego (cuidadores), a um grau de reação e manifestação inadequado. Neste sentido, é uma reação de sofrimento intenso das crianças quando se veem separadas dos seus pais ou outro cuidador, mas não somente com a manifestação de choro que é esperado no primeiro dia de aula, por exemplo, é algo muito intenso, com grande sofrimento.

O mutismo seletivo é caracterizado por uma incapacidade persistente de falar em situações sociais em que existe essa expectativa, como na escola, mesmo que o indivíduo seja capaz de falar em outras situações. A criança só fala em alguns locais, como, por exemplo, em casa.

Indivíduos com fobia específica tem um medo irracional por determinados objetos ou situações. Existem vários tipos de fobias específicas: animal, ambiente natural, sangue-injeção etc. Existe ainda a ansiedade social (fobia social), ou seja, quando a criança tem medo ou ansiedade diante de situações associadas às interações sociais e que envolvem a possibilidade de ser analisada.

É importante entender as dificuldades apresentadas pelas crianças, e assim, buscar ajuda profissional, como um psicólogo ou mesmo um psiquiatra infantil, para que os “pequenos” possam resolver esta dificuldade que não se trata de “birra”, teimosia, mas de um transtorno, que deve ser tratado como tal.




Maria Luiza Silva Medeiros - psicóloga clínica, pós-graduada em Psicoterapias Cognitivas e em Neuropsicologia e membro da Comunidade Canção Nova.



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