Entenda como ajudar alguém durante uma
crise
Cerca de 4% das pessoas já apresentaram pelo menos uma crise
convulsiva na vida
A neuronavegação é uma ferramenta útil auxiliando em neurocirurgias
complexas
Existe
uma diferença entre epilepsia e convulsão. Por definição, epilepsia é uma
doença neurológica caracterizada por descargas elétricas anormais e excessivas
no cérebro que são recorrentes e geram as crises epilépticas. Em cerca de 70%
existe um controle da epilepsia.
Para
considerar que uma pessoa tem epilepsia ela deverá ter repetição de suas crises
epilépticas, portanto, a pessoa poderá ter uma crise epiléptica (convulsiva ou
não) e não ter o diagnóstico de epilepsia. O Dr. Ricardo Santos de
Oliveira, neurocirurgião pediátrico, comenta as principais
dúvidas em relação ao tema:
MITO: A
epilepsia é uma doença mental.
Não!
A epilepsia é uma doença neurológica. Em casos graves, e principalmente quando
a epilepsia ocorre na população pediátrica, antes de dois anos de idade, o
risco de atraso mental é maior.
Toda
convulsão é uma crise epiléptica, mas além da convulsão existem várias formas
de crises epilépticas. Na convulsão o paciente apresenta movimentos grosseiros
de membros, desvio dos olhos, liberação de esfíncteres e perda de consciência.
E um exemplo comum de crise epiléptica não convulsiva é a crise de ausência.
MITO:
A epilepsia é uma doença contagiosa.
A
epilepsia é uma doença neurológica não contagiosa. Portanto, qualquer contato
com alguém que tenha epilepsia não transmite a doença.
MITO:
Uma crise convulsiva define a epilepsia.
A epilepsia é uma doença frequente que acomete cerca de 1 a
2% da população geral. A convulsão é um tipo de crise epilética, que acontece
quando um agrupamento de células cerebrais se comporta de maneira anormal. Um
único episódio não indica que a pessoa tenha epilepsia - muito embora a
consulta com um especialista seja necessária - e a doença não implica
obrigatoriamente em ter distúrbios de comportamento.
Existem situações que podem predispor o aparecimento de uma
crise convulsiva, como por exemplo febre, estresse,
drogas ou distúrbios metabólicos, privação de sono, estímulos visuais
excessivos, entre outros.
Um
episódio único de crise convulsiva não pode ser considerado o diagnóstico de
epilepsia.
Existem
várias formas de epilepsia em crianças e nas emergências pediátricas é comum
observar a convulsão febril, que costuma ter evolução benigna. Essa chamada
epilepsia benigna da infância pode acontecer desde a idade pré-escolar até a
adolescência. As crises com breves paradas comportamentais sem evento motor
nítido, exemplificam formas comuns de epilepsia na infância
MITO:
Os pacientes com epilepsia podem dirigir.
Segundo
a Associação Brasileira de Educação de Trânsito, o paciente com epilepsia que
se encontra em uso de medicação antiepiléptica poderá dirigir se estiver há um
ano sem crise epiléptica – dado que deve ser apresentado através de um laudo
médico. Caso o paciente esteja em retirada da medicação antiepiléptica, ele
poderá dirigir se estiver há, no mínimo, dois anos sem crises epilépticas e
ficar por mais seis meses sem medicação e sem crise. Já a direção de
motocicletas é proibida.
MITO:
A epilepsia não tem cura.
Existem
várias medicações que são indicadas de acordo com o histórico de cada paciente,
porém, nos casos de epilepsia grave e que não
respondem ao tratamento clínico, o paciente pode precisar da cirurgia. A
tecnologia avançada tem permitido um melhor diagnóstico e o tratamento
medicamentoso e cirúrgico têm sido cada vez mais seguro e com melhores
resultados.
Existem situações que a crise convulsiva ocorre de forma
inédita num paciente adulto ou pediátrico, podendo estar associada a um tumor
cerebral. O uso de tecnologias avançadas como a neuronavegação e a
monitorização intraoperatória permitem cirurgias mais seguras.
Em outros casos, chamados de epilepsia refratária,
observamos uma continuidade das crises convulsivas apesar da
medicação. Estes pacientes devem ser avaliados numa unidade especializada
em cirurgia de epilepsia na tentativa de correlacionar uma região do cérebro
(foco) com a origem da epilepsia.
Orientações do Especialista:
Como usar a medicação?
Os remédios para epilepsia são controlados e o paciente
deve sempre fazer acompanhamento médico para avaliar possíveis efeitos
colaterais erroneamente atribuídos ao tratamento. A dose da medicação nunca
deve ser alterada por conta própria.
Tenho
epilepsia. Meu filho também vai ter?
Cerca de 4% das pessoas já apresentaram pelo menos uma
crise convulsiva na vida, mas isso não significa que tenham epilepsia. Pai ou
mãe que tem epilepsia não significa que o filho também terá, pois a maiorias
das doenças que cursam com epilepsia não são hereditárias.
Como
ajudar alguém que esteja em crise epilética?
É importante tentar proteger a cabeça da pessoa para evitar
um traumatismo, e virar o rosto dela de lado para eliminar o acúmulo de saliva
e impedir a asfixia com o próprio vômito. Não se deve segurar a língua do
paciente, sob o risco de tomar uma mordida, ou colocar objetos na boca,
como uma colher. Se a crise estiver durando mais de 5 minutos, já vale a pena
chamar uma ambulância, o mesmo deve ser feito se a pessoa demorar a recobrar a
consciência.
“O
paciente com epilepsia pode ter uma vida normal, desde que controlados, podem e
devem ser inseridos completamente na sociedade, ou seja, devem trabalhar,
estudar, praticar esportes, se divertir”, finaliza Dr. Ricardo Oliveira.
Dr.
Ricardo de Oliveira - Graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRPUSP). Doutor em Clínica
Cirúrgica pela Universidade de São Paulo, com pós-doutorados pela Universidade
René Descartes, em Paris, na França e pela FMRPUSP. É orientador pleno do
Programa de Pós-graduação do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRPUSP e
médico assistente da Divisão de Neurocirurgia do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Também é docente credenciado do
Departamento de Cirurgia e Anatomia da pós-graduação e tem experiência com
ênfase em Neurocirurgia Pediátrica e em Neurooncologia, atuando principalmente
nas seguintes linhas de pesquisa: neoplasias cerebrais sólidas da infância,
glicobiologia de tumores cerebrais pediátricos e trauma crânio-encefálico. É
presidente da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia Pediátrica (2019/2021). Foi
o neurocirurgião pediátrico principal do caso das gêmeas siamesas do Ceará.
Atua com consultórios em Ribeirão Preto no Neurocin e em São Paulo no Instituto
Amato.
Instagram @dr.ricardodeoliveira
https://m.facebook.com/dr.ricardosantosdeoliveira/
https://www.youtube.com/user/necped/videos