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terça-feira, 4 de novembro de 2025

Redação Nota 1000: estudantes que alcançaram a nota em anos anteriores dão dicas e contam como se prepararam

Confira as dicas e leia a redação das alunas na íntegra

 

Falta menos de uma semana para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) 2025 e, entre os pontos que mais geram ansiedade nos candidatos, está a redação. Com peso alto na nota final, o texto dissertativo-argumentativo costuma abordar questões sociais do Brasil contemporâneo e exige não apenas domínio na construção do texto, mas também controle psicológico. 

Para muitos, conquistar a nota máxima parece impossível, mas estudantes que já alcançaram esse feito compartilham: treino, consistência, conhecimento sobre repertório e equilíbrio emocional são o segredo para para atingir ou se aproximar da nota 1000. A seguir, confira dicas de professora e ex-alunas da Inspira Rede de Educadores:
 

É preciso aprender os padrões da correção 

A estudante Catharina Simões, de 19 anos, ex-aluna do Colégio Leonardo da Vinci, tirou 1000 na redação do ENEM 2023, que teve como tema “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.
 

“Desde o começo, eu sabia que me preparar para a redação seria um processo que levaria tempo e dedicação, então sempre foi claro pra mim a importância da prática. Valorizava muito os erros que cometia e focava em entender como poderia melhorar para não repeti-los”, conta. 

Catharina ressalta que não existe mistério: uma redação nota mil segue um padrão que pode ser aprendido. Para ela, estudar o método de correção da banca, que avalia cinco competências, foi fundamental. “As redações nota 1000 sempre possuem um padrão, quase como uma ‘receita’ que segue esses requisitos. Quando a gente entende o que cada competência exige, fica mais fácil estruturar o texto de modo que todos os critérios sejam atendidos”, afirma.
 

Aprendendo com os melhores 

Segundo a jovem, outro ponto que fez diferença em sua trajetória foi analisar modelos de redações nota máxima. Observar exemplos bem avaliados ajuda a identificar padrões de argumentação, estratégias de repertório e formas de organização que realmente funcionam. “Esses exemplos me mostraram que a redação não precisa ter palavras difíceis nem termos superespecializados. O essencial é ser clara, coerente, organizada e ter um olhar crítico sobre o tema”, relata. 

Para além da técnica, Catharina lembra que a prova também é um desafio psicológico. “Na hora, é muito comum o nervosismo tomar conta. Por isso, treinar o equilíbrio emocional é tão importante quanto treinar a escrita. Confiar em si mesmo e não se deixar levar pela insegurança faz toda a diferença para entregar o melhor texto possível”, conclui.
 

Uma entre 19 em todo o País 

Em 2022, foi a vez de Ana Alice Azevedo, ex-aluna do PB Colégio e Curso, que hoje tem 23 anos e cursa Medicina na Universidade Federal Fluminense (UFF), conquistar o feito. Entre milhões de candidatos, ela esteve no seleto grupo de apenas 19 participantes que alcançaram a nota máxima na redação do ENEM, cujo tema foi “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil”. 

Ela atribui seu desempenho à disciplina e ao método de estudo. “Eu fazia no mínimo uma redação por semana, sempre acompanhada das aulas teóricas do meu curso. Essa constância foi essencial não apenas para melhorar minha escrita, mas também para construir uma bagagem de repertórios e conhecimentos para escrever sobre qualquer tema”, explica.
 


Repertório: a chave para se destacar 

Um dos principais destaques do texto de Ana Alice foi o uso estratégico de repertórios socioculturais, os quais são cobrados em uma das cinco competências do ENEM, que avalia a capacidade de relacionar o tema com conhecimentos de diferentes áreas, como História, Filosofia, Literatura, Sociologia, Direito ou fatos da atualidade. 

Na sua redação, ela resgatou o Romantismo brasileiro, lembrando como, no século XIX, obras literárias exaltaram a natureza e os povos nativos em um movimento de valorização da identidade nacional. Também recorreu à Constituição Federal de 1988, ao destacar a responsabilidade do Estado em garantir a preservação das comunidades tradicionais, apontando a negligência do poder público nesse dever. Por fim, trouxe também o conceito de “complexo de vira-lata”, formulado por Nelson Rodrigues, para explicar o sentimento de inferioridade do brasileiro em relação a outras culturas, associando-o com o descaso social em relação às comunidades indígenas e quilombolas. 

Segundo Magna Araújo, professora de redação no Colégio 7 de Setembro, da Inspira Rede de Educadores, o domínio no uso das diferentes áreas do conhecimento, como a Literatura e o Direito, torna a argumentação consistente e original. “Essa habilidade de relacionar o tema com repertórios pertinentes e variados é um dos fatores que diferenciam uma redação comum de uma redação nota 1000”, explica a especialista. Ainda segundo a professora, “O parágrafo de desenvolvimento é a parte do texto em que o candidato mostra o quanto ele conhece o tema em discussão ao aprofundar o argumento que legitima a tese".
 

Características da redação nota 1000

De acordo com a professora, os principais fatores presentes em uma redação nota 1000 são:

  • Clareza e objetividade: apresentar ideias bem estruturadas, transmitindo de forma clara o que deseja defender, sem fugir do tema proposto.
  • Coesão e coerência: parágrafos que se conectem de forma lógica, com uso adequado de conectivos e progressão das ideias, evitando contradições ou quebras na argumentação.
  • Domínio da norma culta: erros gramaticais, de pontuação ou ortografia comprometem a avaliação; uma redação nota 1000 demonstra amplo domínio da língua portuguesa.
  • Repertório sociocultural legítimo: a inclusão de referências históricas, filosóficas, literárias, científicas ou artísticas enriquece o texto, desde que seja pertinente e bem relacionada ao tema.
  • Estrutura dissertativo-argumentativa sólida: introdução clara com tese, desenvolvimento com argumentos consistentes e conclusão propositiva que respeite os direitos humanos, como exige o Enem.

 

Redação - Ana Alice Azevedo, ENEM 2022 

Na primeira fase do Romantismo, os aspectos da natureza brasileira e os povos tradicionais foram intensamente valorizados nas obras, criando um movimento ufanista em relação a características nacionais. Tal quadro de valorização, quando comparado à realidade, não foi perpetuado, apresentando preocupantes desafios para a exaltação das comunidades nativas na contemporaneidade. Nesse sentido, a problemática não só deriva da inércia estatal, mas também do descaso social.

De início, é importante observar que a inércia governamental é uma das principais barreiras para a valorização dos povos tradicionais. Nessa perspectiva, de acordo com a Constituição Brasileira de 1988 é responsabilidade do Estado garantir a preservação e a exaltação das comunidades nativas, incluindo medidas voltadas para a proteção de suas culturas. Entretanto, tal postulado é quebrado quando comparado à contemporaneidade, haja vista que a maioria dos povos tradicionais, como indígenas e quilombolas, não possui seus direitos estabelecidos, a exemplo da demarcação de terras, sendo perversamente abandonada por um governo que não oferece o suporte e o auxílio garantidos por lei. Por conseguinte, a partir do momento que o Estado é passivo e negligente, as autoridades são responsáveis tanto por estabelecer um equivocado cenário de quebra de direitos constitucionais, quanto por criar um errôneo quadro de desvalorização cultural da nação, já que as culturas das comunidades nativas representam o patrimônio de todos os brasileiros. Desse modo, a postura governamental vigente acentua a negligência perante os povos naturais do país.

Além disso, o descaso social é outro desafio que alastra a desvalorização de comunidades nacionais. Nesse viés, segundo o escritor Nelson Rodriguês, isso ocorre devido ao Complexo Vira-Lata presente entre os indivíduos, em que os brasileiros apresentam, em sua maneira, um sentimento de inferioridade perante as nações exteriores, depreciando, assim, a cultura nacional. Sob tal ótica, grande parte da população assume equivocadamente um papel inerte e indiferente em relação à valorização das comunidades nativas, uma vez que, devido ao errôneo sentimento depreciativo, não é capaz de enxergar que a proteção e a exaltação dos povos tradicionais é de suma importância para garantir a sobrevivência desses grupos e para a preservação do patrimônio cultural da nação. Consequentemente, a visão míope e deturpada da sociedade é responsável por formar um corpo social negligente e indiferente acerca da própria história, ocasionando o abandono de parcelas tradicionais e o esquecimento do legado cultural dos povos nativos.

Fica claro, portanto, que medidas necessitam ser tomadas para solucionar a problemática. Nesse sentido, é preciso que o Estado elabore um projeto de amplificação da valorização das comunidades tradicionais, por meio do aumento de medidas de proteção a tais grupos, a exemplo da intensificação da demarcação de terras, com o objetivo de reverter a postura inerte dos órgãos governamentais, para que, dessa forma, os povos nativos tenham seus direitos garantidos. Ademais, a mídia institucional deve criar projetos de exaltação cultural, por intermédio da produção de campanhas digitais que abordem a importância da preservação de traços nacionais com o intuito de desconstruir o sentimento de inferioridade social, para que, dessa maneira, seja possível reverter o descaso dos indivíduos perante a valorização das comunidades nativas. Assim, os princípios de exaltação nacional presentes no Romantismo poderão ser relacionados à realidade brasileira.


Redação - Catharina Simões Ferreira, ENEM 2023

O trabalho de cuidado se mostra necessário na medida em que é o responsável pelo zelo de crianças, idosos, pessoas com deficiências e afazeres domésticos. Entretanto, nota-se, na comunidade brasileira, a invisibilidade desse serviço e seu protagonismo majoritariamente feminino. Isso ocorre por duas causas principais: o baixo prestígio social estigmatizado a essas tarefas e as convenções de gênero estabelecidas pela sociedade brasileira.
 

A princípio, o prestígio social de um trabalho é um fator importante para a determinação de seu reconhecimento e remuneração. Nesse raciocínio, atividades de cuidado são estigmatizadas dentro do corpo social como inferiores e descriminalizadas pelo seu baixo nível de escolaridade. Isso acontece, pois com a predominância do capitalismo no ocidente e a Revolução Tecnológica introduzida a partir da 3ª Revolução Industrial no mundo contemporâneo, houve a crescente valorização de serviços de alto grau de especialização e nível acadêmico. Dessa forma, atividades de baixo ou nenhum valor tecnológico, como o trabalho do cuidado ou tarefas domésticas, foram socialmente marginalizadas em escala global. 

Além disso, percebe-se a predominância de mulheres na realização de serviços de assistência. Essa é uma realidade que demonstra que as transformações sociais ocorridas no Brasil não foram suficientes para desconstruir convenções de gênero e seus papéis sociais, pois atividades relacionadas ao cuidado e de cunho doméstico são predominantemente associadas a mulheres. Como exemplificação, “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector, retrata esse cenário pela personagem Macuabé, nordestina que trabalha como empregada doméstica no Rio de Janeiro. Descrita ao longo da narrativa como pequena e inviável, ausente de acontecimentos ou importância em sua própria história. Clarice representa, dessa maneira, a invisibilidade e o preconceito da sociedade brasileira pelas mulheres que realizam o trabalho do cuidado e seus desafios. 

Portanto, é necessária a aplicação de medidas para o enfrentamento da desvalorização do trabalho de cuidado no Brasil. Para isso, o Governo Executivo Federal deverá realizar ações de combate à desigualdade social sofrida por essa atividade, por meio de políticas de valorização do serviço de assistência, como a validação legal dessa prestação como trabalho remunerado e a obrigatoriedade do pagamento do salário mínimo. Assim, o Brasil se tornará um país que enxerga e prioriza todos os tipos de serviços.


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