Confira as dicas e leia a redação das alunas na íntegra
Falta menos de uma semana para o Exame Nacional do Ensino Médio
(ENEM) 2025 e, entre os pontos que mais geram ansiedade nos candidatos, está a redação.
Com peso alto na nota final, o texto dissertativo-argumentativo costuma abordar
questões sociais do Brasil contemporâneo e exige não apenas domínio na
construção do texto, mas também controle psicológico.
Para muitos, conquistar a nota máxima parece impossível, mas
estudantes que já alcançaram esse feito compartilham: treino, consistência,
conhecimento sobre repertório e equilíbrio emocional são o segredo para para
atingir ou se aproximar da nota 1000. A seguir, confira dicas de professora e
ex-alunas da Inspira Rede de Educadores:
É
preciso aprender os padrões da correção
A estudante Catharina Simões, de 19 anos, ex-aluna do Colégio
Leonardo da Vinci, tirou 1000 na redação do ENEM 2023, que teve como tema “Desafios
para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela
mulher no Brasil”.
“Desde o começo, eu sabia que me preparar para a redação seria um processo que levaria tempo e dedicação, então sempre foi claro pra mim a importância da prática. Valorizava muito os erros que cometia e focava em entender como poderia melhorar para não repeti-los”, conta.
Catharina ressalta que não existe mistério: uma redação nota mil
segue um padrão que pode ser aprendido. Para ela, estudar o método de correção
da banca, que avalia cinco competências, foi fundamental. “As redações nota
1000 sempre possuem um padrão, quase como uma ‘receita’ que segue esses
requisitos. Quando a gente entende o que cada competência exige, fica mais
fácil estruturar o texto de modo que todos os critérios sejam atendidos”,
afirma.
Aprendendo
com os melhores
Segundo a jovem, outro ponto que fez diferença em sua trajetória
foi analisar modelos de redações nota máxima. Observar exemplos bem avaliados
ajuda a identificar padrões de argumentação, estratégias de repertório e formas
de organização que realmente funcionam. “Esses exemplos me mostraram que a
redação não precisa ter palavras difíceis nem termos superespecializados. O
essencial é ser clara, coerente, organizada e ter um olhar crítico sobre o
tema”, relata.
Para além da técnica, Catharina lembra que a prova também é um
desafio psicológico. “Na hora, é muito comum o nervosismo tomar conta. Por
isso, treinar o equilíbrio emocional é tão importante quanto treinar a escrita.
Confiar em si mesmo e não se deixar levar pela insegurança faz toda a diferença
para entregar o melhor texto possível”, conclui.
Uma
entre 19 em todo o País
Em 2022, foi a vez de Ana Alice Azevedo, ex-aluna do PB Colégio e
Curso, que hoje tem 23 anos e cursa Medicina na Universidade Federal Fluminense
(UFF), conquistar o feito. Entre milhões de candidatos, ela esteve no seleto
grupo de apenas 19 participantes que alcançaram a nota máxima na redação do
ENEM, cujo tema foi “Desafios para a valorização de comunidades e povos
tradicionais no Brasil”.
Ela atribui seu desempenho à disciplina e ao método de estudo. “Eu
fazia no mínimo uma redação por semana, sempre acompanhada das aulas teóricas
do meu curso. Essa constância foi essencial não apenas para melhorar minha
escrita, mas também para construir uma bagagem de repertórios e conhecimentos
para escrever sobre qualquer tema”, explica.
Repertório: a chave para se destacar
Um dos principais destaques do texto de Ana Alice foi o uso
estratégico de repertórios socioculturais, os quais são cobrados em uma das
cinco competências do ENEM, que avalia a capacidade de relacionar o tema com
conhecimentos de diferentes áreas, como História, Filosofia, Literatura,
Sociologia, Direito ou fatos da atualidade.
Na sua redação, ela resgatou o Romantismo brasileiro, lembrando
como, no século XIX, obras literárias exaltaram a natureza e os povos nativos
em um movimento de valorização da identidade nacional. Também recorreu à
Constituição Federal de 1988, ao destacar a responsabilidade do Estado em
garantir a preservação das comunidades tradicionais, apontando a negligência do
poder público nesse dever. Por fim, trouxe também o conceito de “complexo de
vira-lata”, formulado por Nelson Rodrigues, para explicar o sentimento de
inferioridade do brasileiro em relação a outras culturas, associando-o com o
descaso social em relação às comunidades indígenas e quilombolas.
Segundo Magna Araújo, professora de redação no Colégio 7 de
Setembro, da Inspira Rede de Educadores, o domínio no uso das diferentes áreas
do conhecimento, como a Literatura e o Direito, torna a argumentação
consistente e original. “Essa habilidade de relacionar o tema com repertórios
pertinentes e variados é um dos fatores que diferenciam uma redação comum de
uma redação nota 1000”, explica a especialista. Ainda segundo a professora, “O
parágrafo de desenvolvimento é a parte do texto em que o candidato mostra o
quanto ele conhece o tema em discussão ao aprofundar o argumento que legitima a
tese".
Características da redação nota 1000
De acordo com a professora, os principais fatores presentes em uma
redação nota 1000 são:
- Clareza e objetividade: apresentar
ideias bem estruturadas, transmitindo de forma clara o que deseja
defender, sem fugir do tema proposto.
- Coesão e coerência: parágrafos que
se conectem de forma lógica, com uso adequado de conectivos e progressão
das ideias, evitando contradições ou quebras na argumentação.
- Domínio da norma culta: erros
gramaticais, de pontuação ou ortografia comprometem a avaliação; uma redação
nota 1000 demonstra amplo domínio da língua portuguesa.
- Repertório sociocultural legítimo: a inclusão de referências históricas, filosóficas,
literárias, científicas ou artísticas enriquece o texto, desde que seja
pertinente e bem relacionada ao tema.
- Estrutura dissertativo-argumentativa sólida: introdução clara com tese, desenvolvimento com argumentos
consistentes e conclusão propositiva que respeite os direitos humanos,
como exige o Enem.
Redação - Ana Alice Azevedo, ENEM 2022
Na primeira fase do Romantismo, os aspectos da natureza brasileira e os povos tradicionais foram intensamente valorizados nas obras, criando um movimento ufanista em relação a características nacionais. Tal quadro de valorização, quando comparado à realidade, não foi perpetuado, apresentando preocupantes desafios para a exaltação das comunidades nativas na contemporaneidade. Nesse sentido, a problemática não só deriva da inércia estatal, mas também do descaso social.
De início, é importante observar que a inércia governamental é uma das principais barreiras para a valorização dos povos tradicionais. Nessa perspectiva, de acordo com a Constituição Brasileira de 1988 é responsabilidade do Estado garantir a preservação e a exaltação das comunidades nativas, incluindo medidas voltadas para a proteção de suas culturas. Entretanto, tal postulado é quebrado quando comparado à contemporaneidade, haja vista que a maioria dos povos tradicionais, como indígenas e quilombolas, não possui seus direitos estabelecidos, a exemplo da demarcação de terras, sendo perversamente abandonada por um governo que não oferece o suporte e o auxílio garantidos por lei. Por conseguinte, a partir do momento que o Estado é passivo e negligente, as autoridades são responsáveis tanto por estabelecer um equivocado cenário de quebra de direitos constitucionais, quanto por criar um errôneo quadro de desvalorização cultural da nação, já que as culturas das comunidades nativas representam o patrimônio de todos os brasileiros. Desse modo, a postura governamental vigente acentua a negligência perante os povos naturais do país.
Além disso, o descaso social é outro desafio que alastra a desvalorização de comunidades nacionais. Nesse viés, segundo o escritor Nelson Rodriguês, isso ocorre devido ao Complexo Vira-Lata presente entre os indivíduos, em que os brasileiros apresentam, em sua maneira, um sentimento de inferioridade perante as nações exteriores, depreciando, assim, a cultura nacional. Sob tal ótica, grande parte da população assume equivocadamente um papel inerte e indiferente em relação à valorização das comunidades nativas, uma vez que, devido ao errôneo sentimento depreciativo, não é capaz de enxergar que a proteção e a exaltação dos povos tradicionais é de suma importância para garantir a sobrevivência desses grupos e para a preservação do patrimônio cultural da nação. Consequentemente, a visão míope e deturpada da sociedade é responsável por formar um corpo social negligente e indiferente acerca da própria história, ocasionando o abandono de parcelas tradicionais e o esquecimento do legado cultural dos povos nativos.
Fica claro, portanto, que medidas necessitam ser
tomadas para solucionar a problemática. Nesse sentido, é preciso que o Estado
elabore um projeto de amplificação da valorização das comunidades tradicionais,
por meio do aumento de medidas de proteção a tais grupos, a exemplo da
intensificação da demarcação de terras, com o objetivo de reverter a postura inerte
dos órgãos governamentais, para que, dessa forma, os povos nativos tenham seus
direitos garantidos. Ademais, a mídia institucional deve criar projetos de
exaltação cultural, por intermédio da produção de campanhas digitais que
abordem a importância da preservação de traços nacionais com o intuito de
desconstruir o sentimento de inferioridade social, para que, dessa maneira,
seja possível reverter o descaso dos indivíduos perante a valorização das
comunidades nativas. Assim, os princípios de exaltação nacional presentes no
Romantismo poderão ser relacionados à realidade brasileira.
Redação - Catharina Simões Ferreira, ENEM 2023
O trabalho de cuidado se mostra necessário na medida
em que é o responsável pelo zelo de crianças, idosos, pessoas com deficiências
e afazeres domésticos. Entretanto, nota-se, na comunidade brasileira, a
invisibilidade desse serviço e seu protagonismo majoritariamente feminino. Isso
ocorre por duas causas principais: o baixo prestígio social estigmatizado a
essas tarefas e as convenções de gênero estabelecidas pela sociedade
brasileira.
A princípio, o prestígio social de um trabalho é um fator importante para a determinação de seu reconhecimento e remuneração. Nesse raciocínio, atividades de cuidado são estigmatizadas dentro do corpo social como inferiores e descriminalizadas pelo seu baixo nível de escolaridade. Isso acontece, pois com a predominância do capitalismo no ocidente e a Revolução Tecnológica introduzida a partir da 3ª Revolução Industrial no mundo contemporâneo, houve a crescente valorização de serviços de alto grau de especialização e nível acadêmico. Dessa forma, atividades de baixo ou nenhum valor tecnológico, como o trabalho do cuidado ou tarefas domésticas, foram socialmente marginalizadas em escala global.
Além disso, percebe-se a predominância de mulheres na realização
de serviços de assistência. Essa é uma realidade que demonstra que as
transformações sociais ocorridas no Brasil não foram suficientes para
desconstruir convenções de gênero e seus papéis sociais, pois atividades
relacionadas ao cuidado e de cunho doméstico são predominantemente associadas a
mulheres. Como exemplificação, “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector,
retrata esse cenário pela personagem Macuabé, nordestina que trabalha como
empregada doméstica no Rio de Janeiro. Descrita ao longo da narrativa como
pequena e inviável, ausente de acontecimentos ou importância em sua própria
história. Clarice representa, dessa maneira, a invisibilidade e o preconceito
da sociedade brasileira pelas mulheres que realizam o trabalho do cuidado e
seus desafios.
Portanto, é necessária a aplicação de medidas para o enfrentamento
da desvalorização do trabalho de cuidado no Brasil. Para isso, o Governo
Executivo Federal deverá realizar ações de combate à desigualdade social
sofrida por essa atividade, por meio de políticas de valorização do serviço de
assistência, como a validação legal dessa prestação como trabalho remunerado e
a obrigatoriedade do pagamento do salário mínimo. Assim, o Brasil se tornará um
país que enxerga e prioriza todos os tipos de serviços.


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