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segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Pesquisa 18 mil nascimentos revelam Autismo

COVID-19 na Gravidez Aumenta Risco de Autismo e Outros Transtornos Neurodesenvolvimentais em Crianças, Aponta Estudo 

Pesquisa com mais de 18 mil nascimentos revela que filhos de mães infectadas durante a gestação têm 2,7% de diagnóstico de autismo, comparado a 1,1% em crianças não expostas 

 

Crianças podem ter maior probabilidade de serem diagnosticadas com autismo e outros transtornos neurodesenvolvimentais se suas mães tiveram COVID-19 durante a gravidez, segundo estudo publicado em 30/10/2025 na renomada revista científica Obstetrics & Gynecology.

A pesquisa, conduzida por investigadores do Massachusetts General Hospital, analisou mais de 18 mil nascimentos ocorridos no sistema de saúde Mass General Brigham entre março de 2020 e maio de 2021.

Os resultados são estatisticamente significativos: crianças nascidas de mães que contraíram COVID-19 durante a gestação apresentaram mais de 16% de diagnósticos neurodesenvolvimentais até os 3 anos de idade, comparado a menos de 10% entre aquelas cujas mães não tiveram a infecção durante a gravidez – representando um risco 1,3 vezes maior após ajustes para outros fatores de risco.

"Estes achados destacam que a COVID-19, como muitas outras infecções na gravidez, pode representar riscos não apenas para a mãe, mas para o desenvolvimento cerebral fetal", afirma a Dra. Andrea Edlow, especialista em Medicina Materno-Fetal do Mass General Brigham e autora sênior do estudo.

Completa: "Eles também reforçam a importância de tentar prevenir a infecção por COVID-19 na gravidez e são particularmente relevantes quando a confiança pública nas vacinas – incluindo a vacina contra COVID-19 – está sendo corroída".


Autismo em Foco: Números Dobram em Crianças Expostas

Entre os diagnósticos mais comuns identificados no estudo estão transtornos no desenvolvimento da fala e função motora, além do autismo. Cerca de 2,7% das crianças nascidas de mães que tiveram COVID-19 durante a gravidez foram diagnosticadas com autismo, comparado a aproximadamente 1,1% das demais crianças – mais que o dobro da taxa.

Segundo o Dr. Matheus Trilico, neurologista referência em Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em adultos, estes dados são particularmente relevantes no contexto atual, onde observamos um aumento global nas taxas de diagnóstico de autismo.

“Nos Estados Unidos, 1 em cada 31 crianças foi diagnosticada com autismo aos 8 anos em 2022, segundo o CDC, um aumento em relação a 1 em 36 crianças em 2020. Este estudo nos ajuda a compreender um dos possíveis fatores contribuintes para essa tendência", ressalta Dr Trilico.


Meninos e Terceiro Trimestre: Grupos de Maior Vulnerabilidade

As diferenças nos riscos foram mais pronunciadas entre meninos e nos casos em que a mãe teve infecção por COVID-19 durante o terceiro trimestre da gestação. Estudos anteriores já sugeriram que cérebros fetais masculinos são mais suscetíveis às respostas imunes maternas, e o terceiro trimestre representa uma "janela crítica para o desenvolvimento cerebral".

"Quando analisamos especificamente as infecções ocorridas no terceiro trimestre, o risco ajustado aumenta para 36%. E há um dado particularmente importante: meninos expostos ao vírus no terceiro trimestre da gestação apresentaram risco 43% maior de desenvolver alterações neurodesenvolvimentais. Como neurologista com foco nessa área, compreendo que tal vulnerabilidade diferenciada por sexo tem implicações importantes para protocolos de triagem e acompanhamento", explica o neurologista.


Plausibilidade Biológica e Mecanismos de Ação

As novas descobertas são "particularmente notáveis à luz de sua plausibilidade biológica", escreveram os pesquisadores. O estudo se baseia em pesquisas anteriores que identificaram potenciais vias pelas quais uma infecção materna por COVID-19 pode afetar o cérebro fetal em desenvolvimento, mesmo sem transmissão direta do vírus.

Outras infecções maternas durante a gravidez já foram associadas ao risco de uma série de doenças neurodesenvolvimentais na infância, e estudos em animais demonstraram que a ativação imune durante a gestação interrompe o desenvolvimento cerebral fetal normal e o comportamento da prole.

"A ciência nos mostra que não é necessariamente o vírus em si que afeta o bebê, mas a resposta imunológica materna à infecção. Esse conhecimento é fundamental porque nos permite desenvolver estratégias preventivas e terapêuticas mais direcionadas", contextualiza Dr. Matheus Trilico.


População Não Vacinada: Uma Janela Única de Pesquisa

O período do estudo – no início da pandemia, antes das vacinas estarem amplamente disponíveis – permitiu aos pesquisadores "isolar a associação entre a infecção por SARS-CoV-2 e o neurodesenvolvimento da prole em uma população não vacinada". Cerca de 93% das mães incluídas na avaliação não haviam recebido nenhuma dose da vacina contra COVID-19.

Políticas rigorosas de controle de infecção naquele período também ajudaram a reduzir o potencial de casos de COVID-19 não relatados ou não detectados, destacaram os pesquisadores.


A Visão de Quem Atende Adultos Neurodiversos

"Como neurologista que trabalha diariamente com adultos autistas e com TDAH, eu vejo as consequências do diagnóstico tardio. Muitos dos meus pacientes relatam que suas vidas teriam sido significativamente diferentes se tivessem recebido suporte adequado na infância. Este estudo nos dá uma oportunidade de estar mais atentos ao desenvolvimento de crianças que foram expostas ao vírus durante a gestação", reflete Dr. Matheus Trilico.

O Dr. Trilico compartilha sua experiência clínica: "Tenho atendido mães preocupadas com o desenvolvimento de filhos nascidos durante a pandemia, cujas gestações foram marcadas pela infecção por COVID-19. Com este estudo, agora temos fundamentação científica robusta para justificar avaliações mais aprofundadas e intervenções precoces quando identificamos sinais de alerta. A detecção precoce faz toda a diferença nos desfechos a longo prazo", completa ele.


Conscientização e Advocacia: O Papel dos Pais

"A conscientização dos pais sobre o potencial de desfechos neurodesenvolvimentais adversos após COVID-19 na gravidez é fundamental", afirma a Dra. Lydia Shook, especialista em Medicina Materno-Fetal do Massachusetts General Hospital e autora principal do estudo. Completa: "Ao compreenderem os riscos, os pais podem defender adequadamente que seus filhos tenham avaliação e suporte apropriados".

O neurologista, Dr. Matheus Trilico, traz uma ponderação importante: "Embora a redução do risco seja importante, o risco geral de desfechos neurodesenvolvimentais adversos em crianças expostas provavelmente permanece baixo", reflete mais uma vez.

De acordo com Dr. Matheus é fundamental que as gestantes e famílias compreendam que estes dados estabelecem uma associação estatística importante, mas não significam determinismo. Cada criança é única, e o acompanhamento individualizado é essencial. O conhecimento gerado por esta pesquisa nos permite estar mais atentos e preparados para oferecer suporte adequado quando necessário, sempre respeitando a singularidade de cada desenvolvimento.


Relevância para o Contexto Brasileiro 

Para o neurologista, no Brasil, onde milhares de gestantes foram afetadas pela COVID-19 durante a pandemia, este estudo ganha relevância particular. “Precisamos fortalecer nossas redes de triagem e diagnóstico precoce. O acesso a avaliações especializadas ainda é limitado em muitas regiões do país, e estes dados reforçam a necessidade de políticas públicas que garantam acompanhamento adequado para crianças que foram expostas ao vírus durante a gestação", observa Dr. Trilico.


Implicações para Políticas de Saúde Pública

Os achados ganham relevância adicional no contexto atual de debates sobre saúde pública e vacinação. Como médico, que atende pacientes do Brasil e do exterior, Dr. Trilico observa também: "Este estudo fornece evidências científicas que reforçam a importância da prevenção de infecções durante a gravidez. Os dados demonstram claramente que proteger gestantes da COVID-19 não é apenas uma questão de saúde materna, mas também de saúde infantil a longo prazo".


Próximos Passos: Monitoramento e Intervenção Precoce

Os pesquisadores enfatizam que os achados destacam a importância do monitoramento neurodesenvolvmental de longo prazo para crianças expostas ao SARS-CoV-2 durante a gestação, particularmente aquelas expostas no terceiro trimestre e do sexo masculino.

"Como neurologista que trabalha diariamente com adultos neurodiversos, vejo a importância crítica da identificação e intervenção precoces. Este estudo nos fornece a base científica para implementar protocolos de acompanhamento mais estruturados e atentos para essa população específica de crianças. A detecção precoce de alterações neurodesenvolvimentais permite intervenções terapêuticas mais eficazes e melhores desfechos ao longo da vida", ", conclui Dr. Matheus Trilico.

 



Dr. Matheus Luis Castelan Trilico - CRM 35805PR, RQE 24818. Médico pela Faculdade Estadual de Medicina de Marília (FAMEMA); Neurologista com residência médica pelo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR); Mestre em Medicina Interna e Ciências da Saúde pelo HC-UFPR; Pós-graduação em Transtorno do Espectro Autista.
Mais artigos sobre TEA e TDAH em adultos podem ser vistos no portal do neurologista: https://blog.matheustriliconeurologia.com.br/


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