Estive pensando muito sobre o impacto das novas tecnologias, especialmente sobre o papel da Inteligência Artificial em tudo que fazemos. E quanto mais observo o avanço da IA, mais me chama atenção uma outra tecnologia que, embora menos ‘popular’, é absolutamente indispensável para esse novo mundo digital: a cibersegurança.
E tem mais, a cibersegurança não é (ou não deveria
ser) um assunto exclusivo de grandes corporações, bancos ou empresas de
tecnologia. Ela diz respeito a qualquer pessoa, negócio, associação ou organização
que esteja presente na internet e armazene dados de terceiros. Convenhamos que,
hoje, isso significa praticamente todas as pessoas, negócios e instituições.
Ao ler nos últimos dias sobre o vazamento de 180
milhões de e-mails e senhas do Gmail, fiquei me perguntando: com tantos avanços
em inteligência artificial, com tanta automação e tecnologia de ponta, como
ainda é possível acontecer algo assim? Será que faltou tecnologia? É excesso de
tecnologia? Ou o problema está em outro lugar? Talvez o problema não esteja na
tecnologia em si, mas na forma como lidamos com ela.
É amplamente falado, que vivemos a era da
informação. Tudo que fazemos deixa rastros digitais e a IA aprendeu a usar
essas informações para personalizar, prever e sugerir, entre outras
alternativas. Mas o que muitos esquecem é que esses mesmos registros digitais
também são um dos alvos mais cobiçados por aqueles que agem fora da lei.
Daí a importância da proteção de dados. A Lei Geral
de Proteção de Dados Pessoais (LGPD – Lei nº 13.709/2018) nasceu justamente
para criar um escudo entre o avanço tecnológico e o uso irresponsável da
informação. Seu artigo 46 é claro sobre seu papel:
“Os agentes de tratamento devem adotar medidas de
segurança, técnicas e administrativas aptas a proteger os dados pessoais de
acessos não autorizados e de situações acidentais ou ilícitas de
destruição, perda, alteração, comunicação ou
qualquer forma de tratamento inadequado ou ilícito.”
Desta forma, quando ocorre um vazamento, como o que
foi noticiado envolvendo o Gmail, a LGPD impõe que a empresa notifique a
Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD) e os titulares afetados,
explicando o que aconteceu, quais dados foram expostos e quais medidas estão
sendo adotadas. Ignorar essa etapa é violar a própria lei e pode gerar sanções
severas, que vão de multas à responsabilização civil.
Em casos deste tipo, existe constantemente a
sensação de impotência. Afinal, não temos um forte controle sobre o que as
grandes plataformas fazem com nossos dados. Mas a LGPD garante direitos muito
claros aos titulares, são eles:
· Saber se uma empresa trata seus dados e para qual
finalidade;
· Solicitar a exclusão ou correção dessas
informações;
· Exigir reparação por danos morais e materiais em
caso de vazamento.
Além disso, vale reforçar, que cada um de nós
também tem um papel na própria segurança digital. As trocas de senhas com
frequência, uso de autenticação em dois fatores e desconfiar de e-mails e links
suspeitos são medidas simples que fazem diferença e marcam nosso interesse em
ajudar nesse novo espaço social.
Quando se fala em cibersegurança, a maioria das
pessoas deve pensar em antivírus e sistemas complexos, mas a segurança digital
começa muito antes disso, e tem início na cultura da empresa e no comportamento
das pessoas. De nada adianta ter a tecnologia mais cara do mundo se o
colaborador clicar com frequência em links errados.
A adequação à LGPD, portanto, vai muito além da
formalidade documental. Trata-se de um processo de conscientização e de mudança
de mentalidade. Empresas que tratam a proteção de dados como prioridade estão
não apenas cumprindo a lei, mas preservando sua reputação, credibilidade e
relação de confiança com o cliente.
Nesse novo mundo onde a IA está se tornando
onipresente e os ciberataques mais sofisticados, a cibersegurança deixou de ser
uma questão apenas mais técnica. Ela é jurídica, estratégica e humana. O caso
do Gmail é um lembrete de que os dados são a nova
riqueza digital. Portanto, proteger informações é proteger pessoas e seu
patrimônio.
Para enfrentar esses entraves dos novos tempos
cibernéticos, inúmeras empresas se anteciparam, e buscam assessoria jurídica
especializada em LGPD e investem em práticas de segurança, e não apenas para
evitar multas. Mas estão demostrando sobretudo respeito, porque, no fim das
contas, a confiança ainda é um dos ativos mais valiosos do mundo digital.
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