A morte do cantor Lô Borges acende o alerta para um risco comum, mas muitas vezes ignorado: o uso simultâneo de medicamentos e substâncias que podem causar efeitos graves. O farmacêutico é o profissional mais próximo da população e essencial para evitar esses acidentes
A notícia da morte do cantor e compositor Lô Borges nesta semana trouxe à tona
um tema que exige cuidado e informação: as interações medicamentosas. O termo
técnico se refere a uma modificação da ação de um medicamento pela presença
simultânea de outro, de alimentos, bebidas, substâncias naturais ou até
vitaminas.
Essas interações podem alterar o efeito esperado do medicamento, aumentando ou
reduzindo sua ação e, em alguns casos, causar reações adversas graves,
hemorragias, crises hipertensivas, ou falência de órgãos. De acordo com
especialistas, muitos desses casos poderiam ser evitados com a orientação
adequada de um farmacêutico, profissional que está mais próximo da população e
preparado para identificar riscos antes que eles ocorram.
Como as interações acontecem
As interações podem ocorrer de forma intencional e benéfica, quando o médico ou
farmacêutico combina medicamentos para potencializar efeitos ou reduzir doses,
mas também podem acontecer de maneira acidental, quando o paciente associa
medicamentos por conta própria, sem orientação.
Nesses casos, os riscos são altos:
- Potencialização dos efeitos colaterais, como sonolência, sangramentos ou
quedas bruscas de pressão;
- Diminuição da eficácia terapêutica, levando o paciente a acreditar que o
medicamento “não está funcionando”;
- Complicações clínicas, como insuficiência renal, hepática ou crises
hipertensivas.
Exemplos comuns de interações perigosas
· Anti-histamínicos com antiácidos:
antiácidos contendo alumínio ou magnésio reduzem a absorção de
anti-histamínicos como a fexofenadina.
· Ácido acetilsalicílico (AAS) e anti-inflamatórios: aumentam o risco de sangramento gastrointestinal, especialmente em uso concomitante com corticosteroides ou anticoagulantes.
· Antibióticos como rifampicina / rifabutina e anticoncepcionais orais: reduzem a eficácia do anticoncepcional, podendo levar à gravidez indesejada.
· Ácido acetilsalicílico (AAS) em casos de dengue: pode provocar hemorragias graves e até a morte.
· Laxantes de uso contínuo: causam desidratação, alterações metabólicas e dependência.
· Antiácidos e dor de estômago: podem mascarar sintomas de doenças graves, como úlceras, tumores ou até infarto, ao aliviar temporariamente a dor e retardar o diagnóstico.
· Vitaminas em excesso: podem causar intoxicações, como hipertensão craniana em crianças por excesso de vitamina A.
· Erva de São João com sinvastatina: reduz a eficácia do medicamento para colesterol.
· Valeriana e sedativos: potencializam a depressão do sistema nervoso central, levando à sonolência intensa ou confusão mental.
· Antibióticos como a eritromicina e medicamentos
para hipertensão (como nifedipina): podem causar queda brusca
da pressão arterial.
Esses são apenas alguns dos inúmeros exemplos de associações perigosas, que
incluem desde medicamentos de uso contínuo até fitoterápicos e suplementos
vendidos livremente.
Medicamentos e alimentos também interagem
Nem sempre as interações envolvem dois medicamentos. Alimentos e bebidas também
podem modificar a ação dos medicamentos:
· Leite e antibióticos (tetraciclina; doxiciclina ou
fluoroquinolonas): reduzem o efeito do antibiótico.
· Vitamina C em excesso e vitamina B12: a vitamina C pode inativar a B12.
· Álcool e medicamentos para pressão, sono ou dor:
aumentam o risco de desmaios, quedas e intoxicações.
O papel essencial do farmacêutico
O farmacêutico é o profissional de saúde mais acessível à população e tem papel
fundamental na prevenção de interações perigosas. Ele é o elo entre o paciente,
o médico e o medicamento e pode identificar riscos antes que o problema
aconteça. Antes de iniciar um novo tratamento, o ideal é informar ao
farmacêutico todos os medicamentos, suplementos e chás utilizados. Esse simples
diálogo pode evitar reações graves e até salvar vidas.
“A automedicação e o uso combinado de medicamentos sem orientação ainda são
práticas muito comuns no Brasil. O farmacêutico está preparado para orientar o
paciente sobre o uso correto e seguro dos medicamentos”, reforça a Dra. Amouni
Mourad, assessora técnica do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São
Paulo (CRF-SP).
Como evitar problemas
· Nunca misture medicamentos sem orientação
profissional.
· Informe sempre ao médico ou farmacêutico todos os medicamentos, vitaminas e produtos naturais que utiliza.
· Leia a bula e siga as recomendações de horários e doses.
· Evite automedicação.
· Em caso de dúvida, oriente-se o farmacêutico.
Conselho Regional de Farmácia
do Estado de São Paulo - CRF-SP
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