A tragédia recente envolvendo bebidas adulteradas com metanol, que
causou dezenas de mortes no país, levantou um alerta urgente sobre o risco de
produtos de origem duvidosa. Se até bebidas destinadas ao consumo humano são
falsificadas, o que dizer de medicamentos veterinários, muitas vezes comprados
sem prescrição e fora dos canais oficiais?
O problema da falsificação na saúde animal é antigo,
mas vem ganhando força com a popularização das vendas online. Produtos
contrabandeados, roubados ou simplesmente falsos circulam em marketplaces e
redes sociais, atraindo tutores e produtores rurais com preços muito abaixo da
média. Por trás dessa aparente vantagem, existe um enorme risco à saúde dos
animais, humana e à qualidade dos alimentos provenientes destes animais.
Um medicamento veterinário falsificado pode conter substâncias
desconhecidas, em doses erradas ou até não conter princípio ativo algum. Em
cães e gatos, isso pode agravar doenças, provocar reações alérgicas e causar a
morte. No caso de animais de produção, o impacto se estende à mesa do
consumidor, com o risco de resíduos químicos em carnes, leite e ovos. É um
problema que afeta a credibilidade da indústria, ameaça a saúde pública e mina
a confiança em profissionais e marcas sérias.
O Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal
(Sindan) tem acompanhado de perto esse tema. A entidade alerta que o comércio
digital abriu espaço para vendedores não verificados, que utilizam embalagens
visualmente idênticas às originais e exploram a falta de fiscalização. Atraídos
por ofertas tentadoras, muitos consumidores acabam enganados e expõem seus
animais a produtos sem controle ou registro no Ministério da Agricultura e
Pecuária (Mapa).
Esses produtos podem conter ingredientes tóxicos, não autorizados
pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) para uso em animais, com
graves impactos à saúde animal e humana. A comparação com o caso do metanol não
é exagero. Em ambos os contextos, a adulteração de substâncias destinadas ao
consumo coloca vidas em risco e expõe falhas no controle da procedência.
Uma pesquisa do Radar Vet, realizada pelo Sindan, com
médicos-veterinários de todo o Brasil, revelou que 64% dos profissionais que
atuam no setor veterinário, não sabem identificar produtos falsificados. Os
prejuízos podem ser graves e, em muitos casos, irreversíveis. Por isso, é
essencial que os veterinários redobrem a atenção aos detalhes e orientem os
tutores sobre a importância de adquirir medicamentos apenas de fontes
confiáveis e devidamente registradas no MAPA.
Para enfrentar esse desafio, entidades como o Sindan tem
intensificado suas ações de conscientização e combate à pirataria. Uma das
principais iniciativas é a campanha “Olhos Abertos”, criada em parceria
com o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV). O
objetivo é estimular tutores e produtores a verificarem sempre a origem dos produtos,
exigirem nota fiscal e priorizarem canais oficiais. A campanha também apresenta
o personagem João Vaca Brava, que representa o produtor atento e
comprometido com a compra responsável.
O MAPA ainda orienta para o uso do portal Fala.br para registro de denúncias de irregularidades em produtos
veterinários, contendo informações sobre o produto e sua origem, como um meio
de orientar as ações de fiscalização e repressão ao crime.
O combate à pirataria, no entanto, depende de uma atuação conjunta
entre governo, indústria, veterinários e consumidores. Cada um tem um papel
importante na prevenção desse tipo de crime. Comprar de fontes seguras,
desconfiar de preços muito baixos e valorizar o trabalho dos profissionais são
atitudes simples, mas que fazem diferença.
O caso do metanol deixou uma lição clara: a origem de um produto
pode ser a linha que separa segurança e tragédia. Na saúde animal, cuidar
também significa escolher com responsabilidade. A prevenção começa muito antes
do tratamento.
Gabriela Mura - diretora de mercado e assuntos regulatórios do
Sindan.
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