A transformação da inteligência artificial (IA) nos negócios
lembra o que aconteceu há dez anos quando o marketing digital chegou às
empresas. Estratégias para redes sociais, parcerias com influenciadores e
planos SEO revolucionaram a maneira de atrair, converter e fidelizar clientes.
Entre os segmentos que mais vêm se transformando em razão do avanço da IA está
o setor de saúde: especialmente em clínicas e hospitais, tudo será diferente,
da triagem de pacientes à gestão de suprimentos, passando pelo acompanhamento
de tratamentos. O que antes era manual será automatizado por agentes autônomos
e inteligentes.
Deve impulsionar esse movimento o Plano Brasileiro de Inteligência
Artificial (PBIA), lançado pelo governo federal, que prevê cerca de R$ 23
bilhões em investimentos até 2028, sendo R$ 98 milhões aplicados diretamente em
saúde em iniciativas como prontuários inteligentes e automação de compras do
Sistema Único de Saúde (SUS). Embora o montante ainda pareça modesto diante da
dimensão do setor, o investimento marca um ponto de inflexão ao inserir a IA na
modernização do sistema público.
Assim como a digitalização obrigou empresas a reverem estratégias,
a automação inteligente exige que clínicas e hospitais repensem seus modelos de
operação antes que se tornem obsoletos. O marketing digital mostrou como a
integração entre dados e automação pode criar novas formas de operar em grande
escala. Esse paralelo ajuda a compreender como a próxima etapa da IA aplicada à
saúde pode cumprir tarefas e combinar diferentes sistemas em cooperação. No
campo clínico, o modelo de multiagentes surge como próximo passo evolutivo: em
vez de depender de um único sistema de decisão, diferentes agentes de IA
colaboram entre si, validam diagnósticos e reduzem falhas, atingindo níveis de
precisão superiores aos de médicos em estudos recentes.
A pesquisa TIC Saúde 2024, conduzida pelo Cetic.br (Centro
Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação), reforça
esse avanço ao apontar que 17% dos médicos e 16% dos enfermeiros no Brasil já
utilizam ferramentas de IA generativa em suas rotinas. Nos estabelecimentos
públicos, o índice é de 14% entre médicos e 11% entre enfermeiros; nos
privados, 20% e 26%, respectivamente. Estudo realizado pela consultoria Allied
Market Research, aponta que é esperado um crescimento anual de 41,7% no mercado
global de IA em saúde, impulsionado por soluções de monitoramento remoto,
diagnósticos automatizados e análise preditiva (Allied Market Research). No
entanto, para a adoção em escala é necessário atentar-se à qualidade dos dados,
integração entre plataformas e a criação de uma regulação que assegure
privacidade e ética no uso das informações dos pacientes que ficam armazenadas.
O Brasil está acompanhando esse movimento da inovação na saúde,
basta olhar para a quantidade de empresas em atuação. Segundo o relatório
HealthTech Recap 2024, produzido pela Distrito — plataforma de inovação e
monitoramento do mercado de startups —, o país já abriga 602 startups de saúde,
o que representa 64,8% do total da América Latina. A combinação de
investimentos públicos, adoção crescente no setor privado e avanço tecnológico
cria as bases para um salto histórico para o futuro da saúde brasileira. A
diferença em relação ao marketing digital de uma década atrás é que, desta vez,
não se trata apenas de atrair mais clientes e gerar mais receita, mas de
redefinir o cuidado, a experiência do paciente e a sustentabilidade do sistema.
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