Mariana Clark,
psicóloga especializada em luto, explica como vivências deslegitimadas podem
afetar profundamente a saúde mental
Perder alguém querido é doloroso — mas há perdas
que, mesmo gerando sofrimento profundo, passam despercebidas ou são minimizadas
socialmente. São os chamados lutos não reconhecidos, que ocorrem quando a dor
de uma perda - ou de uma mudança - não encontra espaço de acolhimento,
validação ou escuta.
Essas situações envolvem, por exemplo, o término de
um relacionamento, a perda de um animal de estimação, a morte de um
ex-parceiro, o aborto espontâneo, a perda ou o ganho de peso de maneira não
intencional ou até mesmo depois de uma cirurgia bariátrica, a demissão ou
aposentadoria, entre outras vivências que, apesar de emocionalmente impactantes,
são muitas vezes tratadas como “menos importantes”.
“A sociedade reconhece o luto principalmente quando
há morte e vínculos formais. Mas a dor não precisa de certidão para existir. É
importante explicar e educar a população a respeito dessas ‘dores invisíveis’,
mas que são reais e devem ser validadas”, explica Mariana Clark,
psicóloga, palestrante e especialista em Perdas, Lutos e Saúde Mental.
Segundo pesquisa da Universidade de Columbia (EUA),
cerca de 40% das pessoas que vivem um luto relatam não se sentir compreendidas
socialmente — índice ainda maior quando o motivo da perda foge ao "modelo
tradicional" de enlutamento. “A falta de reconhecimento agrava o sofrimento, podendo
levar à culpa, isolamento e, em alguns casos, até ao adoecimento mental. Muitas
pessoas enlutadas nos chamados lutos não reconhecidos precisam lidar com todo o
sofrimento que o luto traz e, adicionalmente, com a dor de não ter a sua dor
reconhecida. ”, completa Mariana.
“Falar sobre luto não é apenas falar sobre a morte,
mas sobre todos os sentimentos que envolvem perda e mudança. É uma nova
abordagem em saúde mental que precisa ser levada a todas as rodas de conversa”,
afirma a psicóloga, que defende uma abordagem mais sensível e ampliada sobre o
tema — tanto na vida pessoal quanto no ambiente profissional.
“Em tempos de tanta pressão
emocional, reconhecer as perdas invisíveis é um passo essencial para construir
uma cultura de cuidado e empatia”, finaliza a
especialista.
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