Distribuir
alimentos para moradores de rua, arrecadar agasalhos e roupas de inverno, dar
aulas online em um cursinho pré-vestibular para alunos de baixa renda são
atitudes que fazem diferença para quem é beneficiado. Segundo a ciência, quem
realiza atos de caridade também é favorecido, com uma generosa dose de
felicidade que o próprio sistema nervoso começa a produzir.
A
felicidade sempre foi um tema que me intrigou, a ponto de me motivar a estudar
a Ciência da Felicidade e a Psicologia Positiva de Martin Seligman. Nas minhas
aulas sobre o tema na PUC de Minas Gerais, sempre questiono os meus alunos
sobre "o que é ser feliz?” As respostas geralmente são relacionadas a
viagens, carros e objetos de luxo. Mas a felicidade realmente se trata sobre
ter?
Um estudo
desenvolvido pela Universidade
de Michigan aponta que um dos caminhos para o equilíbrio da saúde mental é
o voluntariado. Quando nos dedicamos a uma atividade que, muitas das vezes, nos
exige “apenas” amor e tempo, nem imaginamos que os grandes privilegiados somos
nós, pois também estamos colaborando para a produção de substância que nos
proporcionam bem-estar.
O que nos
faz sentir felizes são os neurotransmissores da felicidade (serotonina,
dopamina, endorfina e ocitocina), que navegam pelo nosso corpo causando uma
verdadeira festa! E de onde vêm? Como são produzidos? Será que essa sensação de
plenitude – a energia positiva – é ativada por qualquer estímulo? Na verdade,
em um organismo saudável, é o nosso comportamento que dita o ritmo dessa dança.
Quando
damos dinheiro, recursos, tempo e atenção, situações em que fazemos o bem ao
próximo, o cérebro entende esse ato como um comportamento gerador desses
neurotransmissores. De acordo com a Ciência da Felicidade, cinco pilares
comportamentais são ativados quando realizamos caridade ou trabalho voluntario,
vamos a eles:
Propósito
Em uma
sociedade na qual uma boa vida equivale a ter um ótimo emprego e adquirir
patrimônios, dedicar um momento para visitar um asilo ou uma casa lar vai
contra o lema “tempo é dinheiro”. Por isso, o primeiro pilar ativado no
trabalho voluntário é o propósito. Esse comportamento nos
faz sentir útil para o mundo e às pessoas. Essa sensação ao ajudar alguém é tão
poderosa que até torna as nossas deficiências menores.
Realizações
Uma vez que
estamos envolvidos nessa causa, passamos a dar valor para o segundo pilar: as realizações.
Maior parte do tempo, o cérebro automaticamente nos compara aos outros, ainda
mais se estamos navegando nas redes sociais. Não importa o quão bom sejamos, ou
o que já conquistamos, parece que sempre estamos por baixo. Como consequência,
nos tornamos indivíduos mais materialistas. Isso faz com que, de certa forma,
desvalorizemos a vida.
Essa
sensação, porém, não acontece com o trabalho voluntário. Nele percebemos tanto
a ausência de terceiros quanto o poder transformador da nossa atitude. O
parâmetro de comparação muda totalmente, já que conhecemos pessoas vivendo com
tão pouco.
Emoções
Positivas
Nesse
momento acontece a virada de chave que ativa o terceiro pilar: emoções
positivas. Para mim, é a parte mais incrível desse processo
porque envolve gratidão. É quando você se sente grato por tudo o que tem e pela
oportunidade de usar essas realizações para ajudar outras pessoas que precisam
de apoio.
Presença
Plena
Geralmente,
quem faz voluntariado sente o tempo passar voando. O comprometimento que a
ocasião exige nos leva para o quarto pilar, que é a presença
plena, capaz até de diminuir a importância e o tamanho dos
problemas, Ficamos tão envolvidos com o “agora”, que não sobra espaço para
preocupações futuras – a ansiedade - e nem permite focar nas mágoas,
culpas e traumas do passado, que podem nos levar a um quadro de depressão.
Relacionamentos
de qualidade
Depois de passar por todas as etapas, chegamos no último pilar da felicidade: os relacionamentos de qualidade. Mais do que nunca, valorizamos essas pessoas em situação de vulnerabilidade porque percebemos o quão difícil é conseguir se manter em pé sem o auxílio de amigos e da família. Esse movimento nos faz, de fato, enxergar quem nos faz bem e torce pela gente, preenchendo nossa mente com muito amor e, claro, felicidade.
Quando
alguém chega até mim, em aulas, cursos ou consultorias, me perguntando sobre
como lidar com determinado problema, eu lhe convido a estabelecer uma rotina de
voluntariado. Porque a ciência nos garante que essas atividades colocam os
neurotransmissores da felicidade para trabalhar.
É tudo uma
reação em cadeia. Ao estarmos mais felizes e saudáveis, teremos mais energia,
menos emoções e pensamentos negativos. Assim, conseguiremos focar no que é bom
e adquirir hábitos que tornem o mundo um lugar melhor, inspirando outras
pessoas a fazerem o mesmo.
Caridade,
doação e trabalho voluntário são uma poderosa terapia. Agora você já sabe que,
cientificamente, vai fazer sua vida mais feliz! E aí, já reservou um espaço na
sua agenda para o voluntariado?
Renner Silva -
Professor da PUC Minas Gerais na disciplina de Ciência da Felicidade e
Bem-Estar
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