Empresa
é um sistema vivo feito de corpos singulares e não de corpos padronizados
A maioria das empresas
lida com suas equipes de trabalho como se elas fossem parte de um corpo único.
Todas, obrigatoriamente, devem estar alinhadas ao discurso e às práticas da
cultura organizacional - missão, visão e valores. Os empregados que formam
estas equipes compartilham desse discurso e prática e, de certa forma, firmam
um "pacto" (por meio dos diversos treinamentos e os processos da
comunicação) para cumprir a missão organizacional da empresa para a qual
trabalham. Nesse ambiente voltado apenas para o objetivo organizacional, não se
percebe que o corpo que "veste a camisa única da empresa" é
constituído de corpos singulares repletos de histórias, medos e fantasias.
Afinal, uma empresa é um sistema vivo feito de corpos singulares e não
padronizados pela cultura organizacional no seu modelo de gestão idealizado.
Muitos dos sofrimentos
e doenças que hoje se revelam presentes nas relações do trabalho e nos diversos
conflitos gerados entre chefia e subordinados poderiam ser amenizados pelo
aprendizado de percepção sensória do corpo.
Toda emoção e
sentimentos são provocados pelo metabolismo químico e físico de cada corpo. É
no nosso sistema nervoso que estão reunidas as informações sobre os ambientes
interno e externo do nosso corpo. É ele que comunica e controla nossos
movimentos e sensações corporais.
Quando estamos diante
de uma ameaça (mostrar nosso desempenho diante das metas estabelecidas, por
exemplo), nosso corpo reage, nos prepara para isso, há um estresse. A função do
estresse, vale frisar, não é causar doenças; pelo contrário, é nos ajudar a
reagir e lutar diante dessa situação para garantir nossa sobrevivência. O corpo
providencia o combustível e as ferramentas necessárias: energia, oxigênio,
força muscular, resistência à dor para garantir a boa performance na conquista
dos objetivos. E não só isso: nos prepara também para o segundo desafio, a
divulgação dessas conquistas na reunião de diretoria, diante dos
"parceiros competitivos" para garantir sua reputação, credibilidade e
deixar sua marca nesse legado.
A reação ao estresse é
um sistema poderoso que acentua nossa atenção e mobiliza nosso corpo para lidar
com as situações ameaçadoras. Esse sistema começa a causar doenças quando ele é
desequilibrado e fica ativado de maneira permanente. Não é normal que esse
sistema, planejado para nos proteger, torne-se ele mesmo uma ameaça. Situações
ameaçadoras não podem ser permanentes, não fomos preparados para isso. É quando
corremos o risco de adquirir a já ligeiramente famosa Síndrome de Burnout. E
quando acontece, nem nos damos conta de quando começou.
Não fomos ensinados a
observar nossas sensações corpóreas (conforto e desconforto) e compreender que
nosso corpo é a nossa própria vida e que possui recursos de alta complexidade
para lidar com as adversidades da vida. Só podemos transformar as emoções que
nos causam sofrimento se estivermos conscientes da autonomia do nosso corpo.
Simone Bambini - doutora e mestre em Comunicação e Semiótica, coordena e
leciona no curso de Relações Públicas da FAAP. Terapeuta em Experiência
Somática, é também autora do livro "O corpo como posicionamento da marca
na comunicação empresarial".
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