Especialistas estudam essa possibilidade e
médico do Órion Complex, em Goiânia, esclarece como isso aconteceria
Pesquisadores
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) confirmaram no último mês, por
meio de experimentos feitos com cultura de células, que o novo coronavírus (Sars-Cov-2)
é capaz de infectar neurônios humanos. Estima-se que 30% dos pacientes com
Covid-19 apresentem algum tipo de sintoma no sistema nervoso. Porém, não se
sabe ainda se esses distúrbios são causados pelo ataque direto do vírus, pela
reação descontrolada do sistema imunológico em resposta a ele ou às duas
coisas. O estudo continua em andamento.
Em
Goiânia, o neurologista José Guilherme Schwam Júnior, que atende no centro
médico do Órion Complex, tem se destacado nas redes sociais por fazer vídeos
informativos à população sobre o assunto, que geralmente é pouco abordado pelas
pessoas e desconhecido por muitos. Ele chama a atenção, por exemplo, para
pacientes com doenças neurodegenerativas como a de Alzheimer, a qual, entre
outras alterações, causa principalmente perda de memória, e que já tem uma
tendência a terem a imunidade mais baixa, além do fato de geralmente serem
idosos, fatores que os colocam duas vezes no grupo de risco para a Covid-19.
Por isso, tanto este grupo específico de pacientes quanto as pessoas de seu
ciclo familiar devem ter cuidados redobrados para evitar contrair o novo
coronavírus.
José
Guilherme, que é especialista em distúrbios do movimento e demência, reforça
que, ao contrário do que muitos pensam, o vírus Sars-Cov-2 não é uma infecção
que acomete apenas o sistema pulmonar, podendo atingir qualquer sistema do
organismo humano. “Há relatos de desenvolvimento da Síndrome de Guillain Barré
(uma polineuropatia aguda que acomete os nervos do corpo), de AVC isquémico e
hemorrágico”, conta o médico sobre as consequências neurológicas relatadas em
vários países.
Sintomas
recorrentes que os pacientes com a Covid-19 relatam são a perda do olfato e do
paladar. José Guilherme explica que a perda olfativa foi um dos primeiros
aspectos da doença detectados pela neurologia. “O termo certo é hiposmia, que é
a diminuição da capacidade de sentir cheiros. Não se sabe exatamente se uma é
reação direta causada pelo vírus nos receptores presentes nas narinas ou se é
fruto da reação imunológica do nosso corpo, na tentativa de conter o vírus”. Há
vários relatos, afirma o médico, de pacientes que apresentaram inclusive apenas
a hiposmia, sem nenhum outro sintoma específico como febre ou dores no corpo,
mas que acabaram sendo confirmados como positivos para a Covid-19. Ele salienta
também que o paladar está intimamente ligado ao olfato, por isso muitos
pacientes relataram alteração neste sentido.
Porta de entrada
O neurologista explica que o nosso cérebro é protegido por uma barreira hematológica e muitos estudos estão voltados para saber como ela é ultrapassada e afetada pelo novo coronavírus. “Uma hipótese é justamente pela infecção inicialmente dos receptores neuronais nas narinas, e que então ascenderia para o sistema nervoso central através destes receptores nervosos. Outra possibilidade seria através dos nervos periféricos, por meio dos quais o vírus seria transportado pelas sinapses nervosas até o cérebro”, salienta.
De
acordo com o especialista, quando o vírus entra no corpo humano muitas vezes
causa o que os cientistas chamam de tempestade imunológica. “Ao tentar atacar o
vírus, o corpo acaba gerando uma resposta imunológica exagerada, extremamente
intensa, podendo levar a alterações cerebrais e causando sintomas como a
confusão mental, agitação, delírio e até sintomas físicos, como tremores,
mioclonias e etc.”, revela José Guilherme, explicando que por tudo ser uma
novidade no meio científico ainda não se sabe exatamente como prevenir ou
tratar o acometimento do sistema nervoso pelo vírus.
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