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quarta-feira, 3 de junho de 2020

Sistema neurológico também pode ser afetado pelo coronavírus


Especialistas estudam essa possibilidade e médico do Órion Complex, em Goiânia, esclarece como isso aconteceria


Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) confirmaram no último mês, por meio de experimentos feitos com cultura de células, que o novo coronavírus (Sars-Cov-2) é capaz de infectar neurônios humanos. Estima-se que 30% dos pacientes com Covid-19 apresentem algum tipo de sintoma no sistema nervoso. Porém, não se sabe ainda se esses distúrbios são causados pelo ataque direto do vírus, pela reação descontrolada do sistema imunológico em resposta a ele ou às duas coisas. O estudo continua em andamento.

Em Goiânia, o neurologista José Guilherme Schwam Júnior, que atende no centro médico do Órion Complex, tem se destacado nas redes sociais por fazer vídeos informativos à população sobre o assunto, que geralmente é pouco abordado pelas pessoas e desconhecido por muitos. Ele chama a atenção, por exemplo, para pacientes com doenças neurodegenerativas como a de Alzheimer, a qual, entre outras alterações, causa principalmente perda de memória, e que já tem uma tendência a terem a imunidade mais baixa, além do fato de geralmente serem idosos, fatores que os colocam duas vezes no grupo de risco para a Covid-19. Por isso, tanto este grupo específico de pacientes quanto as pessoas de seu ciclo familiar devem ter cuidados redobrados para evitar contrair o novo coronavírus.

José Guilherme, que é especialista em distúrbios do movimento e demência, reforça que, ao contrário do que muitos pensam, o vírus Sars-Cov-2 não é uma infecção que acomete apenas o sistema pulmonar, podendo atingir qualquer sistema do organismo humano. “Há relatos de desenvolvimento da Síndrome de Guillain Barré (uma polineuropatia aguda que acomete os nervos do corpo), de AVC isquémico e hemorrágico”, conta o médico sobre as consequências neurológicas relatadas em vários países. 

Sintomas recorrentes que os pacientes com a Covid-19 relatam são a perda do olfato e do paladar. José Guilherme explica que a perda olfativa foi um dos primeiros aspectos da doença detectados pela neurologia. “O termo certo é hiposmia, que é a diminuição da capacidade de sentir cheiros. Não se sabe exatamente se uma é reação direta causada pelo vírus nos receptores presentes nas narinas ou se é fruto da reação imunológica do nosso corpo, na tentativa de conter o vírus”. Há vários relatos, afirma o médico, de pacientes que apresentaram inclusive apenas a hiposmia, sem nenhum outro sintoma específico como febre ou dores no corpo, mas que acabaram sendo confirmados como positivos para a Covid-19. Ele salienta também que o paladar está intimamente ligado ao olfato, por isso muitos pacientes relataram alteração neste sentido.


Porta de entrada

O neurologista explica que o nosso cérebro é protegido por uma barreira hematológica e muitos estudos estão voltados para saber como ela é ultrapassada e afetada pelo novo coronavírus. “Uma hipótese é justamente pela infecção inicialmente dos receptores neuronais nas narinas, e que então ascenderia para o sistema nervoso central através destes receptores nervosos. Outra possibilidade seria através dos nervos periféricos, por meio dos quais o vírus seria transportado pelas sinapses nervosas até o cérebro”, salienta.

De acordo com o especialista, quando o vírus entra no corpo humano muitas vezes causa o que os cientistas chamam de tempestade imunológica. “Ao tentar atacar o vírus, o corpo acaba gerando uma resposta imunológica exagerada, extremamente intensa, podendo levar a alterações cerebrais e causando sintomas como a confusão mental, agitação, delírio e até sintomas físicos, como tremores, mioclonias e etc.”, revela José Guilherme, explicando que por tudo ser uma novidade no meio científico ainda não se sabe exatamente como prevenir ou tratar o acometimento do sistema nervoso pelo vírus.


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