Os meus avós ficaram juntos até o fim do meu avô,
cerca de 50 anos depois do casamento. Nos respectivos padrões, o casamento era
bom, mas o conceito mudou e o que era aceito na época deles, é apenas uma parte
do que é esperado hoje. Ele era psiquiatra, tinha uma coluna científica em
jornais e era escritor, sendo ela uma cozinheira de mãos abençoadas; então,
sobre o quê poderiam dialogar e em que nível se interessariam pelos mesmos
assuntos?
O conceito de bom marido há “50” anos era menos
complexo e exigente, remetendo-se a trabalhar, prover para a casa, respeitar a
esposa e ter filhos; e ser uma boa mulher era cuidar bem da casa, cozinhar bem,
educar os filhos com punições e recompensas e respeitar-se/submeter-se (às
vezes) às vontades do homem. Isto tudo com muita dificuldade de divórcio.
Hoje, a separação é possível, a atração sexual
recíproca é necessária, ambos precisam ter independência financeira, a amizade
entre os cônjuges é fundamental, a submissão deixou de existir (pelo menos a
que era clara, mas não é o momento para debater sobre este ponto), ambos
precisam ter objetivos similares de vida, e é preciso que um mime ao outro e
que os dois cuidem bem da casa e filhos, caso decidam tê-los.
As relações íntimas estão mais complexas e
exigentes, além de mais imprevisíveis e inseguras. O divórcio era mais
complicado não porque as pessoas eram mais amadas, mas sim por questões morais
e medos; tanto de noções religiosas e sociais acerca do ser errado se separar,
como de cair financeiramente, medo de ficar só e do que os outros pensariam,
respectivamente. Estes medos ainda existem, mas num nível muito menor do que já
fora. O casamento não se baseava tanto na felicidade da relação dos dois, mas
sim num cumprimento de um “confortismo”, complementariedade (homem fazia uma
parte e mulher fazia outra), paz de expectativas próprias e sociais de como
viver.
Seria razoável ser colocado que seria adequada uma
celebração dos namoros (estar amando alguém) modernos, pois pela primeira vez
na humanidade (assim me parece) homens e mulheres estão psicologicamente
similares, permitindo valores semelhantes, formação acadêmica igual, gostos
iguais-parecidos em grande parte e ocorrendo o mesmo em termos de
responsabilidades, na prática e teoria.
Homens fazem o que as mulheres faziam (cozinhar,
cuidar da casa e dos filhos) e as mulheres fazem o que apenas os homens faziam
(prover para a casa, buscar sucesso profissional e financeiro). Somando-se ainda
o fato de muitos homens reclamarem da falta de diálogo com as mulheres e elas
também se queixam da falta de sexo, não há mais desconfortos que sejam de
apenas um dos lados. Os relacionamentos estão mais coloridos, mais saborosos,
mais intensos e mais plenos; e na medida em que estes ingredientes não ocorram
ou deixem de ocorrer, mais inseguros. Afinal, se finalizar uma ou mais destas
possibilidades, o mesmo pode ocorrer com o casamento.
Então, o que pode ser melhor do que ter boas
relações sexuais com a sua melhor amiga ou amigo, com quem você busca um futuro
comum e que ambos não apenas cuidem bem um do outro, mas também o ou a mime até
que não seja mais possível, seja por qual razão for?
Dr. Bayard Galvão - Psicólogo Clínico formado pela
PUC-SP, Hipnoterapeuta e Palestrante. Especialista em Psicoterapia Breve,
Hipnoterapia e Psiconcologia, Bayard é autor de cinco livros, criador do
conceito de Hipnoterapia Educativa e Presidente do Instituto Milton H. Erickson
de São Paulo. Ministra palestras, treinamentos e atendimentos individuais
utilizando estes conceitos. www.institutobayardgalvao.com.br
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