É da natureza da
tolerância a existência de limites. Questão de pura racionalidade: na ausência
de quaisquer balizas, a tolerância que abrangesse o impossível de tolerar
abraçaria, inclusive, a mais odienta intolerância, tornando-se autodestrutiva.
Por isso, é importante a construção de
consensos mínimos, em torno de algumas verdades e direitos com base nos quais
se constroem normas de aplicação geral. Com eles se elimina a subjetividade em
relação a algumas determinações de certo e errado, justo e injusto, permitido e
proibido. Conta-se que um professor, interpelado por aluno que afirmou ser
subjetivo e relativo o conceito de justiça, apontou-lhe a porta e ordenou-lhe,
em alta voz, que se retirasse da sala. Diante da surpresa de todos, o professor
perguntou à classe: "O que estou fazendo lhes parece justo?" Como a
resposta foi negativa, esclareceu: "Ele acha que é tudo relativo e que na
minha perspectiva pode ser, sim."
Como lembra Alfonso Alguiló num
interessante livrinho sobre tolerância, foram necessários milênios para que a
humanidade, através dos pensadores gregos, alcançasse a capacidade de
distinguir o bem do bem individual. Isso representou um enorme avanço no
sentido da moral e o fato de que ainda hoje, em diferentes culturas, essa noção
esteja dispersa, não significa que não existam concepções superiores e
inferiores, embora nos tentem convencer de que é "politicamente
incorreto" afirmá-lo. Opinem sobre isso as crianças emparedadas, os bebês
abortados, os ladrões de mãos cortadas e os infiéis de cabeças decepadas... Os profetas do relativismo moral, os
sacerdotes do "politicamente correto" vivem de convicções que negam a
todos os demais. E ainda lograram convencer parcela expressiva das sociedades
civilizadas de que não precisam respeitar a ninguém exceto a si mesmos.
Vamos ao ponto desta reflexão: o senador
Magno Malta fala por mim nestes tempos marcados por inegável, inocultável,
palpável e multiforme investida contra alguns daqueles limites além dos quais a
tolerância ganha outro nome e passa a denominar-se lassidão, covardia. Não
preciso descrever (até porque já cumpri a indigesta tarefa em texto anterior)
os extremos a que chegam as agressões a duas dessas balizas: a inocência da
infância e a sacralidade das manifestações de fé. Em diversos vídeos, entre os quais este,
o senador Magno Malta aborda o tema de uma forma que representa meu pensamento
e me dispenso de ampliá-lo aqui.
Minhas perguntas vão além. O que faz o
governo Temer que não fecha a torneira da Lei Rouanet e da Lei do Audiovisual
para eventos que atentam contra a infância e cometem vilipêndio religioso? O
PPS apoia o disponibilização desses recursos através do ministério da Cultura
sob seu comando? O que têm a dizer ou fazer os católicos do Congresso Nacional
a esse respeito? Ou só cuidam de reeleição? O DEM apoia o aparelhamento do
Ministério da Educação por pedagogos cujo objetivo de vida parece ser a
implantação da ideologia de gênero no cérebro das nossas crianças? Por que não
se conhecem ações expressivas da CNBB (como acontecem em certas pautas
ideológicas) com relação a essas perniciosas políticas de cultura e educação?
Seremos tão poucos os que compreendemos
o quanto deve ser maligno o objetivo de quem mobiliza, em todo o Ocidente,
ações multiformes e sistemáticas contra o cristianismo, a instituição familiar
a vida e a infância? Não se pode e não se deve tolerar o intolerável.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
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