Não houve avanços na qualidade da educação básica
brasileira, segundo o resultado da avaliação realizada com 70 países, que
posicionou o Brasil na constrangedora 65ª posição. Estamos a frente apenas da
Argélia, Tunísia, República Dominicana e de duas ex-repúblicas da antiga
Iugoslávia, Macedônia e Kosovo.
Os dados são do Pisa, realizado pela Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que avalia, a cada três
anos, o que sabem os adolescentes entre 15 e 16 anos, no que diz respeito a
leitura, matemática e as ciências.
Essa revelação envergonha e preocupa. Mais de 70%
dos estudantes brasileiros não atingiram o nível 2 de ensino, numa escala que
vai de 0 a 6. A pesquisa mostra mais uma vez como o país não está fazendo o
dever de casa, ao deixar de priorizar a educação, maior alavanca do
desenvolvimento humano e, por conseguinte, econômico e social.
Os números negativos, se devidamente mapeados,
podem ajudar a lançar luzes sobre como podemos virar o jogo e ainda servir como
bússola orientadora do caminho a ser percorrido. Simples? Nenhum pouco, dada a
nossa dimensão geográfica de proporções continentais, retalhada por toda a
sorte de desigualdades. Mas, não há dúvidas que podemos fazer melhor.
Essa guinada necessita de um movimento da nação que
promova um diálogo sério e comprometido com a implementação de mudanças, no
menor espaço de tempo possível, envolvendo profissionais da educação e
instâncias governamentais de todas as esferas.
Está cada vez mais claro que o professor em sala de
aula precisa aperfeiçoar metodologias de ensino para assegurar o direto de
aprender. Deve ser capaz de fazer qualquer aluno aprender, potencializando os
conhecimentos anteriores e paralelos em favor da construção de sentido e
significado para o que se pretende ensinar de novo. Mas, como identificar os
espaços de melhoria da atuação docente?
O Programa Descoberta, inspirado em uma iniciativa
da Fundação Bill & Melinda Gates que contou com a participação direta de
pesquisadores das mais renomadas universidades norte-americanas, como Harvard,
Chicago, Stanford, no Brasil capitaneado pelo Grupo Positivo, é uma das
inciativas desenhadas para esse fim.
Os professores são avaliados em plena sala de aula
por outros professores e pelos próprios alunos. O programa mostra uma relação
direta entre a performance dos professores e o rendimento dos estudantes acerca
do que se pretende que os alunos aprendam com a intervenção pedagógica.
Os alunos também precisam fazer a sua parte.
Precisam se assumir na profissão de estudante. No Brasil, quando se pergunta
para dona de casa e estudante, qual a sua profissão, normalmente a resposta é:
eu não trabalho! Essa mentalidade atrapalha o empenho e a seriedade que essas
funções desempenham na sociedade. As políticas públicas também têm papel fundamental
nesse salto qualitativo que precisamos empreender. Revisar a base curricular
nacional, sua coerência e coesão com nosso tempo, aproximando o que se pretende
ensinar ao dia a dia desse estudante, a fim de que se amplie os horizontes de
atuação desses jovens no mundo.
O gosto pela investigação, a curiosidade, são
características humanas que devem fertilizar as estratégias para aprender, além
de serem cultivadas pelo professor pelo fato de ser a base do pensamento
criativo, tão exigido no mundo do trabalho. Não faltam meios para isso, desde o
olhar atento do professor à participação de cada um em sala de aula até o
incremento de linguagens contemporâneas oferecidas pela tecnologia que aproxima
o mundo do estudante ao mundo da escola, fazendo com que ele se sinta
considerado no planejamento das aulas.
Para aprender é que necessário querer. Mais do que
isso, é necessária coragem! O que move o corpo, antes aquece o coração. O
professor, precisa, portanto, tocar esse aluno, entendendo que seu trabalho
está a serviço da formação de cidadãos críticos e inovadores. Gente humanizada
que pensa e age, integrando conhecimentos em favor de soluções sustentáveis
para um mundo melhor.
Sem levar em conta essas premissas, o Pisa parece
indicar um cenário desolador, de poucas perspectivas. Mas ainda bem que não é
só isso. Como ressaltamos, já existem ações testadas que podem ajudar a mudar o
panorama. É um equívoco descartar todas as contribuições que os diferentes
tempos da educação nos proporcionaram. Mas, os tempos são outros e exige de
todos velocidade, direção e objetivos claros, a partir de diagnósticos como
esse.
O desafio começa acreditando que não se pode
continuar ensinando da forma como os professores aprenderam. O novo mundo
suscita novas formas de interação humana. Isso envolve o engajamento da sala de
aula com a era tecnológica, mudanças no cenário educacional, por meio da
revisão da base curricular e novas posturas de atuação de professores e
estudantes.
É preciso trabalhar sob a seguinte constatação: é
preciso reinventar a forma de ensinar para que não se perca o desejo de
aprender, sempre mais e melhor sobre o mundo que nos cerca. E, certamente, o
ensino tradicional com foco na exposição verbal, lista exercícios, repetição e
memorização, não dará conta de garantir a relevância da escola no cenário
atual.
Acedriana
Vicente - diretora pedagógica da Editora Positivo.
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