Como é andar numa calçada de rua comum, com seus buracos e
obstáculos, se você é deficiente visual, enxerga mal, precisa de uma cadeira de
rodas ou muletas? Como é enfrentar nessas condições desníveis e desvãos, uma
lixeira ou um orelhão (eles ainda existem) no meio do caminho, um poste
desalinhado? Se você enxerga e anda bem, como a maioria das pessoas, basta
desviar (se você não estiver olhando a tela do celular...), mas para as pessoas
com deficiência visual ou mobilidade reduzida, a calçada é um desafio diário.
Idosos fazem parte das vítimas preferenciais do descaso os passeios públicos, e
não importa a cidade do país, a calçada descuidada é uma constante urbana.
Para oferecer a experiência de viver esta
dificuldade e sensibilizar quem não tem limitações ao desafio diário de
deficientes visuais ou físicos, o Instituto Ser Educacional montou uma
calçada móvel que simula os obstáculos cotidianos. Vendadas, as pessoas
enfrentam buracos e obstáculos, mas não precisam cair como no mundo real.
As oito calçadas sensoriais itinerantes, como o projeto de
conscientização é chamado, estão percorrendo o país e já foram utilizadas por
mais de 50 mil pessoas desde o início das suas atividades. As calçadas
são instaladas em shoppings e locais de grande visitação pública pelas
instituições parceiras, inclusive já esteve presente no Tribunal de Contas da
União, Palácio do Planalto e no GDF, em Brasília. No próximo
semestre, estarão circulando por várias partes do país sensibilizando outras
milhares de pessoas.
O impacto na saúde pública não é pequeno: um estudo
de 2012, feito por Philip Gold, ombudsman, da CET (a companhia de engenharia de
tráfego paulistana), estimou em R$ 2,9 bilhões o custo social com resgate,
tratamento e reabilitação decorrentes de 171 mil quedas em calçadas da capital
paulista por ano, muito acima do custo com os próprios acidentes com veículos. Faz
sentido: as
quedas foram responsáveis, em 2013, por 15% das internações no
Instituto de Ortopedia e Traumatologia do HC entre 2009 e 2010.
Ambos os estudos são tentativas de tatear o problema, mas a verdade é que os
custos sociais das calçadas ruins nem de longe foram mapeados.
O objetivo do projeto Calçada Sensorial Itinerante, que inclusive
foi o único projeto destacado no Relatório de Gestão do Tribunal de
Contas da União, é ajudar a mudar essa realidade, delineando melhor os
contornos do desafio. "As ruas esburacadas e os móveis urbanos que tomam o
caminho das pessoas nas ruas tiram um pouco da cidadania das pessoas
deficientes, que são obrigadas a lutar um pouco mais para se locomover. Mas, a
verdade é que somos uma sociedade às vésperas de começar a envelhecer, o que
amplia muito o alcance da questão. Precisamos transformar nossas cidades e
nossa cidadania. Nosso objetivo é sensibilizar o maior número possível de
pessoas para a questão, para que elas façam a sua parte, seja pressionando o
poder público, seja consertando a própria calçada", diz Sérgio Murilo Jr., coordenador de Responsabilidade
Social do Grupo Ser Educacional.
Rio de Janeiro - Praia do
Leme
Brasília e Recife
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