A educação a distância
no Brasil teve seu início em 1904, sendo a primeira atividade no Jornal do
Brasil por meio de um anúncio que oferecia a profissionalização por
correspondência para datilógrafo. Em 1923, foi criada a Rádio Sociedade do Rio
de Janeiro, que oferecia cursos de Português, Francês, Silvicultura, Literatura
francesa, Esperanto, Radiotelegrafia e Telefonia.
Em 1934, foi criada a
Radio Escola Municipal do Rio, e neste projeto os estudantes recebiam folhetos
e esquemas de aulas por correspondência e ouviam as aulas pela estação de
rádio. Posteriormente, em 1939, surge em São Paulo o instituto Monitor,
precursor dos cursos profissionalizantes por correspondência. Dois anos mais
tarde, em 1941, é criado o Instituto Universal Brasileiro, fundado por um
ex-sócio do Instituto Monitor, também oferecendo cursos profissionalizantes,
desde mecânica de automóveis a técnicos em geral. Na década de 1970, eu, então
apaixonado por carros, fiz um curso de mecânica de automóveis por
correspondência, e aprendi muito, posso garantir.
Muitas outras
iniciativas surgiram após este período, mas até então os cursos estavam no que
denomino a “primeira geração” do EaD. Em 1970, passamos à “segunda geração” com
cursos utilizando vídeo aulas (fitas cassetes gravadas) e programas de
televisão, o famoso Telecurso. No início dos anos 2000, passamos ao que
denomino a “terceira geração”, com aulas ao vivo via satélite, e neste
período começam as novas regulamentações desta modalidade de ensino.
No mesmo período o
governo Federal incentivava a criação de faculdades particulares em todo o
Brasil, tendo percebido que a oferta de cursos superiores no país estava
estagnada, nas mãos de universidade públicas que não aumentavam o número de
vagas. Nesta fase, o governo decidiu incentivar também a educação superior a
distância, porém ainda sem um entendimento do que era este novo “ser”.
Na época, eu trabalhava
em um grupo educacional que estava implementando o ensino a distância a não
existia uma regulamentação específica do setor. Um exemplo interessante é que
ao autorizar o primeiro vestibular do curso tecnólogo em Comércio Exterior, na
portaria o MEC autorizou o vestibular em algumas cidades de dois Estados da
Federação, mas surgiu um problema: não tínhamos Polos em 80% destas cidades e o
prazo era exíguo. Assim, nossas equipes resolveram visitar escolas de
informática, de línguas e até escolas infantis para formar os Polos.
O primeiro vestibular
ocorreu utilizando a metodologia tradicional, ou seja, uma redação e um caderno
de questões respondidos pelos alunos. Nossas equipes levaram todo o material
impresso aos Polos, aguardavam o encerramento do vestibular e traziam as
redações dos alunos e os cartões de respostas. Aos poucos, o MEC foi
regulamentando o ensino a distância no país e criou diversas regras.
Hoje, o ensino a
distância evoluiu e muito, não somente no ensino superior, mas temos
cursos de todas as formas, em praticamente todas as áreas. A metodologia
igualmente mudou com os atuais recursos tecnológicos. Os cursos podem ser
baixados em tablets e smartphones, sem a necessidade de grandes investimentos
em tecnologia por parte da instituição e ensino. Isto possibilitou o acesso a
todas as camadas da população, assim temos cursos “livres” de fluxo de caixa,
por exemplo, sendo oferecidos por R$ 50,00 ao mercado, e cursos superiores e de
pós-graduação oferecidos a R$ 120,00 mensais.
Esta disseminação ou
poderíamos chamar de popularização do ensino a distância deve-se ao fato de que
o investimento inicial que antes era muito elevado hoje caiu muito. Para se
montar um estúdio são necessários menos de US$5.000,00, o que possibilita que
muitas pequenas empresas, e até pessoas físicas atuem no setor.
A metodologia EaD
comprovadamente atende os anseios de todos hoje em dia. A praticidade, a não
necessidade de horários rígidos e liberdade para desenvolver as atividades
conquistaram o público. Em contrapartida, os cursos exigem uma dedicação muito
maior do que o do ensino tradicional. Os jovens já estão familiarizados com
este novo processo, e os mais velhos estão obrigatoriamente se rendendo a esta
nova realidade, assim o caminho é de mão única, o ensino a distância veio para
ficar e vai, cada vez mais, estar presente em nossas vidas. É quase
inconcebível alguém passar quatro anos em bancos escolares aprendendo da forma
tradicional.
Na área superior, ainda
podemos verificar um certo “ranço” que os cursos tecnólogos trazem,
comparativamente aos cursos de bacharelado, tanto presenciais quanto a
distância. Alguns ainda valorizam os cursos de bacharelado, porém os resultados
apontados pelas avaliações do ENADE demonstram que os alunos dos cursos de
tecnologia na modalidade a distância saíram-se melhor do que os de bacharelado
presenciais. Isto graças aos utilizados que fazem com que os alunos apliquem
seus conhecimentos em seu dia a dia.
Entendo que este é o
futuro do ensino a distância no Brasil, assim como é na Europa, em países como
Espanha, Portugal e Alemanha. É um caminho sem volta e para todos os tipos de
capacitações, sejam elas de cursos denominados “livres”, ou seja, sem uma
certificação de curso superior, como os cursos superiores de graduação a
pós-graduação.
Sergio Alexandre Centa -
professor do ISAE/FGV, instituição de ensino de Curitiba (PR). O profissional é
Graduado em Administração de Empresas e Direito, Especialista em Planejamento
Estratégico e Engenharia Financeira.
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