ONG
promoveu experiência com internautas e encaminhou pessoas com distúrbio para
clínicas; mais de 123 mil pessoas já foram impactadas pela campanha, que ganha
o mundo, a partir desta semana
O simples
fato de compartilhar nas redes sociais ou via aplicativos para celulares vídeos
ou fotos com conteúdo sexual envolvendo menores de idade pode resultar em uma
pena de três a seis anos de prisão, além de multa. Segundo dados da Safernet,
ONG que combate crimes virtuais, o
Brasil é o principal consumidor do mundo de pornografia infantil na internet.
O
código penal brasileiro considera crime a relação sexual ou ato libidinoso
contra menores, e isso não é novidade. O artigo 241-B do ECA (Estatuto da Criança
e do Adolescente) também é muito claro quanto “adquirir, possuir, compartilhar
ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro
que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou
adolescente", passível de prisão para quem tomar essas atitudes.
Mas
além de crime, você sabia que a pedofilia está entre as doenças classificadas
pela Organização Mundial de Saúde (OMS) entre os transtornos da preferência
sexual? É o que mostra a campanha mundial da ONG Bandeiras Brancas, que
luta contra todas as formas de violência e a favor da cultura de paz no Brasil.
Informação e reação contra abusos
Brunno
Barbosa, publicitário, jornalista e idealista da ONG resolveu reagir, testar e
informar pessoas de diversos lugares do País sobre o compartilhamento
de conteúdos impróprios que estao circulando nas redes sociais e em
aplicativos de mensagens de celular. Ele decidiu fazer uma campanha contra o
consumo de material pornográfico infantil com usuários da internet para entender
qual é o perfil das pessoas que se interessam por esse tipo de conteúdo,
conscientizá-las e encaminhá-las para tratamento adequado. Mais de 123 mil
pessoas foram impactadas na primeira fase da campanha.
“O
maior desafio com esse tipo de campanha é, de fato, impactar os usuários que
possuem algum distúrbio, e diferenciá-los de eventuais curiosos”, afirma
Barbosa.
Noticia falsa e procura por pedófilos
Em
parceria com o portal humorístico Sensacionalista foi publicada uma notícia fictícia
de uma menina brasileira de 12 anos que colocaria silicone para posar nua e
conseguir dinheiro para viajar à Disney, nos Estados Unidos. A curiosa
"matéria" dizia que ela teria feito isso com uma grande promessa de
dinheiro e somente apareceria em uma revista russa local, porém, as fotos
teriam vazado e estavam disponíveis online para usuários brasileiros. No final
do texto, havia um link para as supostas imagens.
Nos
primeiros dias, aproximadamente 60
mil pessoas clicaram no link, que redirecionava para uma página
onde mostrava a foto do usuário atrás das grades, com o seguinte aviso:
“Cuidado, ser voyeur
de criança é crime. Não alimente essa indústria criminosa”.
Barbosa
conseguiu acesso ao nome, e-mail e fotos dos usuários e, analisando este banco de
dados, encontrou pessoas de todos os gêneros e idades. “Essa primeira amostra
era muito genérica. Eu precisava chegar a quem realmente faz a busca por
conteúdo pornográfico infantil, não somente os curiosos que caíram com a nossa
notícia em sua timeline”, explica o idealizador da campanha. Parte da missão
estava cumprida: informar ao público em geral.
Quem continuou a procurar por pornografia infantil?
Com
a viralização da notícia fictícia, a campanha seguiu conforme a estratégia
traçada e a matéria acabou aparecendo primeiro lugar em sites de buscas quando
pessoas buscavam "fotos de garotas nuas". Isso serviu como carapuça e
finalmente começou a atingir o público alvo. Porém, veio a surpresa, antes de completar 1 mês,
cerca de sete mil
pessoas buscaram, acessaram a matéria e foram atrás do link com as fotos. O
perfil mudou e passou a ser de homens
com idades entre 25 e 55 anos. “Entendi que esse era o
público-alvo da campanha, era para essas pessoas que eu precisava direcionar os
meus esforços”.
Ele
coletou, filtrou os dados obtidos e entrou em contato com essas pessoas através
de uma página que criou no Facebook. Assim, teve a oportunidade de conversar
com mais de 1.600 desses
usuários e endereçou-os para clínicas especializadas ou pessoas que poderiam tratar
esse tipo de distúrbio. As reações foram diversas.
Informação para diagnóstico e tratamento
Além
de crime, pedofilia é um sério transtorno psiquiátrico que precisa ser
diagnosticado e tratado corretamente, explica Antonio de Pádua Serafim,
psicólogo e coordenador do Núcleo Forense do IPq - Instituto de Psiquiatria
HC. “Caracteriza-se por impulsos sexuais muito intensos, fantasias e/ou
comportamentos não convencionais recorrentes, capazes de criar alterações
desfavoráveis na vida familiar, ocupacional e social da pessoa por seu caráter
compulsivo e causam sofrimento ou prejuízo na vida do indivíduo e ao
outro”.
De
acordo com o especialista em psiquiatria, nem todos os portadores do transtorno
são criminosos. “Estudos mostram que a maioria dos portadores de pedofilia pode
manter seus desejos em segredo durante toda a vida sem nunca compartilhá-los ou
torná-los atos reais. No entanto, se transportam a fantasia para a prática,
esta condição se torna potencial fator de risco para a ocorrência de violência sexual”,
orienta.
O
tratamento é interdisciplinar, envolvendo uma equipe de médicos e psicólogos.
“Os médicos vão avaliar a necessidade do uso de medicação, como no caso de
pessoas portadoras de pedofilia que apresentam quadros de ansiedade ou
impulsividade. Já os psicólogos ajudarão os pacientes a desenvolver estratégias
de enfrentamento dos impulsos e desejos sexuais. Mas tudo depende muito da
pessoa ter a noção do crime e da violência que está cometendo, estar disposta a
se tratar, além de receber a participação ativa da família”.
Impacto e reações
Brunno
se diz satisfeito com os resultados que a campanha trouxe. “Tenho recebido até
hoje feedbacks de usuários que procuraram médicos e estão em processo de
tratamento, agradecendo o apoio. A notícia foi a terceira mais lida do portal
em 2014, e um ano após o lançamento da campanha, ainda se encontra em destaque
no Google, pessoas acessam diariamente e continuam sendo impactadas”, finaliza
o idealizador da campanha.
Depoimentos de usuários impactados
pela campanha: “A curiosidade me levou a procurar fotos e vídeos de crianças, após algum tempo virou obsessão. A campanha me fez repensar essa grande indústria que traumatiza diversas crianças pelo mundo. Vou repensar meus atos”. “Nunca soube de fato as origens das fotos, depois da campanha, sei que por trás de cada foto houve um crime. E até então, eu estava colaborando para que isso continuar. Parabéns pela grande iniciativa . Vou tentar seguir as suas recomendações”. “Eu quase me divorciei por causa dessa doença. Com o tempo e o acompanhamento que venho levando, estou me curando. Sou muito grato a vocês. Muito obrigado”. “No tratamento, acabei sabendo como garantir que não se repita mais minhas ações e agradeço a Deus por esse evolução mental e espiritual”. |
Vídeo da campanha nacional: http://aultimapesquisa.bandeirasbrancas.com.br/
Vídeo da campanha internacional: http://thelastsearch.bandeirasbrancas.com.br/
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