Descelularização – como é conhecido o experimento, já
está em andamento no laboratório da instituição; o processo visa ser
alternativa aos métodos clássicos de transplante
A
Santa Casa de São Paulo, através de seu Instituto de Pesquisa, Inovação
Tecnológica e Educação (IPITEC) está inovando na área de transplante de órgãos
de animais para seres humanos. A tentativa de uso de órgãos de animais é
antiga. Inicialmente pensou-se no uso de macacos pela proximidade ao homem. No
entanto, por vários motivos os suínos se mostraram mais viáveis. Recentemente,
inúmeros estudos vêm sendo desenvolvidos com porcos geneticamente modificados
para diminuir a rejeição. Outra alternativa é a descelularização de órgãos
suínos seguida por uma transformação em órgão humano usando células do paciente
receptor.
Com
esta finalidade, o IPITEC juntou-se à Eva Scientific, a startup de
biotecnologia ranqueada como número 1 no último ranking “100 Open Startups –
Top 5 Biotech”, pela sua expertise da área, utilizando biorreatores à larga
escala. No IPITEC, a empresa fica incubada, e também recebe apoio de aceleração
através de conexões estratégicas e médicas, formando sinergias.
Fundador
da Eva Scientific, o bioengenheiro norueguês Andreas Kaasi, radicado no Brasil,
explica: “Um dos produtos que estamos utilizando rotineiramente é o Luxor™
biorreator de tecido, que nós desenvolvemos em 2016 e agora está na terceira
geração. Funciona como um descelularizador de órgãos”.
A
descelularização é um método que visa um dia ser uma alternativa aos métodos
clássicos de transplante de órgãos. O processo, que pode ser considerado uma
lavagem, pega um órgão sólido, como rim, coração ou fígado de um suíno
recém-abatido, e circula um fluído orgânico que lembra um detergente ou sabão,
por dentro do órgão. O fluído remove células e substâncias do órgão suíno que
poderiam provocar rejeição se implantado no homem, mas preserva a forma e
estrutura.
A
forma e estrutura que permanecem são chamados de “arcabouço”. Para permitir a
produção em massa, critério para futuramente ser o tratamento padrão para
falência dos órgãos, o descelularizador necessita trabalhar à larga escala e é
capaz de descelularizar simultaneamente oito órgãos, controlado e monitorado
por uma interface touch screen variando parâmetros como fluxo e pH. A extensão
desta técnica é que um dia poderemos pegar uma biópsia do indivíduo que esteja
precisando do transplante, multiplicar as células desta biópsia e implantar no
arcabouço, dando novamente vida à estrutura e restaurando a função, por exemplo
a filtração do sangue no rim.
Andreas
Kaasi, que trabalha com descelularização desde 2007, e com rins desde 2015,
destaca também a rapidez do processo: “Em um dia no descelularizador, um rim de
suíno já está descelularizado, e como nosso sistema permite oito em paralelo,
podemos produzir mais de 50 órgãos descelularizados por semana”.
Prof.
Dr. Dino Martini Filho, professor de patologia da Faculdade de Ciências Médicas
da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP), especialista em rins e colaborador deste
projeto, avaliou o arcabouço e observou como a anatomia se preservou em
diferentes níveis de escala: “No olho nu, parece um rim normal, só que branco,
porque o que mais se preservou foi o colágeno, que é branco. No microscópio,
pude identificar os chamados glomérulos que são as estruturas microscópicas que
contribuem para a filtração renal”.
Também
colaborador do projeto, o Prof. Dr. Luiz Antônio Rivetti, cirurgião
cardiovascular, professor de cirurgia cardíaca da FCMSCSP, diretor do IPITEC,
avaliou um coração de porco, que passou pelo mesmo processo no
descelularizador: “O coração é muito mais denso que o rim, mas nas velocidades
mais altas, ainda é possível descelularizar o órgão, com boa preservação da
estrutura. As válvulas do coração se conservaram, ficaram intactas”.
Kaasi
continua: “A Eva Scientific está muito animada com essa nova fase, onde há uma
sinergia entre a nossa startup de biotecnologia e os médicos, cirurgiões e
pesquisadores do IPITEC no sentido de tornar-se líder em medicina translacional
com tecidos e órgãos”.
Sobre
a Santa Casa de São Paulo
Fundada
há 460 anos, a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo é uma
instituição filantrópica, privada e laica, considerada um dos mais importantes
centros de referência hospitalar do Brasil e presta serviços ao Sistema Único
de Saúde (SUS), atendendo pacientes de São Paulo, e de outros estados do
Brasil.
Em
média, por mês, a Santa Casa atende 39 mil emergências, 200 mil exames
laboratoriais, 100 mil ambulatoriais e 2.200 casos cirúrgicos. A instituição
também é reconhecida nacionalmente pelo desenvolvimento de pesquisas e por ser
referência em atendimentos complexos, que necessitam de cuidados por equipes
multiprofissionais. Aliado à tradição médica e à formação profissional
especializada, a instituição realiza atendimento em 55 especialidades e áreas
de atuação assistencial sendo referência para o Ministério da Saúde em alta
complexidade.
Sobre
IPITEC
O
IPITEC – Instituto de Pesquisa, Inovação Tecnológica e Educação – foi criado no
final de 2017 e tem três divisões:
1.
A Divisão de Pesquisa, com os núcleos de
Pesquisa Clínica, Básica, e Translacional, Biobanco, e Biorepositório.
2.
A Divisão de Inovação Tecnológica com a
Incubadora de startups e o Núcleo de Inteligência artificial em Medicina.
3.
A Divisão de Educação, com os núcleos de
Treinamento de novas tecnologias cirúrgicas, Técnica cirúrgica e cirurgia
experimental, e a Unidade de Ensino profissionalizante com os seguintes cursos:
Técnico de enfermagem, Técnico de radiologia, Instrumentador cirúrgico,
Maqueiro, Cuidador de idoso.
Sobre
Eva Scientific
Eva
Scientific é uma startup de biotecnologia fundada em 2015, como uma spinoff do
Biofabris – Instituto Nacional de Biofabricação em Campinas. Seu portfólio de
produtos inclui colágeno solúvel e em forma de tecido, e biorreatores para
fabricação de tecidos e órgãos biológicos à larga escala.
A
empresa foi financiada pela Fundação de Amparao à Pesquisa do Estado de São
Paulo (FAPESP) pelo programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE),
primeiramente em 2015 com a Fase 1, e mais recentemente em 2018 com a Fase 2.
Também se beneficiou de um aporte através do Edital de Inovação para a Indústria,
em parceria com Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI).
Hoje conta com clientes “B2B” nas principais
universidades do país, como USP, Unesp, UFRGS, PUC-SP, UFABC, UFMG, UFPR com os
produtos de prateleira acima mencionados, e também clientes “B2C” que passaram
por cursos de capacitação em biorreatores, engenharia de tecidos,
descelularização e recelularização, oferecidos pela empresa.
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