Historicamente, a epilepsia traz uma bagagem de preconceitos e
estigmas que envolvem questões sociais e psicológicas que vão além da medicina.
Por isso, é preciso desmitificar essa doença que atinge mais de 50 milhões de
pessoas no mundo, e cerca de três milhões de brasileiros, segundo a Organização
Mundial de Saúde (OMS).
A epilepsia é uma doença neurológica caracterizada por
descargas elétricas anormais e excessivas no cérebro que são recorrentes e
geram as crises, as quais podem se manifestar com alterações da consciência ou
eventos motores, sensoriais, autonômicos (por exemplo: suor excessivo, queda de
pressão) ou psíquicos involuntários percebidos pelo paciente ou por outra
pessoa.
Muitas vezes, a causa é desconhecida, mas pode ter origem
em ferimentos (recentes ou não) sofridos na cabeça. Traumas na hora do parto,
abuso de álcool e drogas, tumores e outras doenças neurológicas também
facilitam o aparecimento do problema.
Diagnóstico
Exames como eletroencefalograma (EEG) e neuroimagem são
ferramentas que auxiliam no diagnóstico. O histórico clínico do paciente,
porém, é muito importante, já que exames normais não excluem a possibilidade do
indivíduo ser epiléptico. Se o paciente não se lembra das crises, a pessoa que
as presencia torna-se uma testemunha útil na investigação do tipo de epilepsia
em questão e, consequentemente, na busca do tratamento adequado.
Em crises de ausência, a pessoa
apenas apresenta-se “desligada” por alguns instantes, podendo retomar o que
estava fazendo em seguida. Em crises parciais simples, o paciente experimenta sensações
estranhas, como distorções de percepção ou movimentos descontrolados de uma
parte do corpo. Pode sentir um medo repentino, um desconforto no estômago, ver
ou ouvir de maneira diferente. Se, além disso, perder a consciência, a crise
será chamada de parcial complexa. Depois do episódio, enquanto se recupera, a
pessoa pode sentir-se confusa e ter déficit de memória. Tranquilize-a e leve-a
para casa se achar necessário. Em crises tônico-clônicas, o paciente primeiro
perde a consciência e cai, ficando com o corpo rígido; depois, as extremidades
do corpo tremem e contraem-se. Existem, ainda, vários outros tipos de crises.
Quando elas duram mais de 30 minutos sem que a pessoa recupere a consciência,
são perigosas, podendo prejudicar as funções cerebrais.
As crises podem se manifestar várias
vezes ao dia, em certos casos de 30 ou mais, até episódios esporádicos,
como de uma a duas ao ano .
Cerca de 1% da população mundial (65 milhões de pessoas) tem
epilepsia. Aproximadamente 80% dos casos ocorre em países em
desenvolvimento. A ocorrência de epilepsia torna-se mais comum à medida
que a idade avança. Em países desenvolvidos, a ocorrência de novos casos é mais
frequente em crianças e idosos, enquanto que em países em vias de
desenvolvimento é mais comum em crianças mais velhas e jovens
adultos. Entre 5 e 10% de todas as pessoas terão uma ocorrência sem causa
definida até aos 80 anos de idade, sendo a probabilidade de sofrer uma
segunda crise entre 40 e 50%. Em diversas partes do mundo, é restrita ou vedada
a autorização de condução a pessoas com epilepsia, embora muitas possam voltar
a conduzir após determinado período sem crises.
As condições genéticas, congênitas e de desenvolvimento são na sua
maioria associados a ela entre os pacientes mais jovens, tumores cerebrais são
mais prováveis de ocorrer em pessoas com mais de 40 anos, traumatismo craniano
e infecções do sistema nervoso central, pode ocorrer em qualquer idade.
Em geral, se a pessoa passa anos sem ter crises e sem medicação,
pode ser considerada curada. O principal, entretanto, é procurar auxílio o
quanto antes, a fim de receber o tratamento adequado. Os medicamentos
antiepilépticos são eficazes na maioria dos casos, e os efeitos colaterais têm
sido diminuídos. Muitas pessoas que têm epilepsia levam vida normal, inclusive
destacando-se na sua carreira profissional.
Se o paciente não responder ao tratamento medicamentosos, o médico
pode recorrer ao auxílio cirúrgico - este não tem como objetivo a retirada da
medicação, e sim ajudar no controle de crises.
Quando realizar cirurgia de epilepsia em crianças
Se as convulsões ocorrerem em uma área do cérebro que pode
ser removida facilmente sem causar outros danos, a cirurgia deve ser
considerada.
Quando a epilepsia é causada por um tumor, cisto ou lesão, ou
outro crescimento que não responde bem ao medicamento, o médico pode indicar
como opção apropriada.
A operação pode remover a parte do
cérebro onde as convulsões estão ocorrendo ou, às vezes, ajudar as más
correntes elétricas a não se espalharem pelo cérebro.
A criança pode estar acordada durante
a cirurgia. Com o paciente acordado, este segue alguns comandos e os cirurgiões
terão certeza que as áreas importantes do cérebro não foram danificadas.
Tipos de cirurgia mais utilizados em
crianças
Hemisferectomia - Envolve a remoção de quase todo o
lado do cérebro responsável por causar convulsões.
Ressecção focal - Remove a porção do cérebro onde as
convulsões se originam , normalmente o lobo temporal.
Corpus calosotomia - Não remove as parte do cérebro que
causa as convulsões, essa cirurgia interrompe o caminho as convulsões e confina
em uma das partes do cérebro.
VNS (estimulação de nervo vago ) -
É a
implantação de um aparelho que envia estímulos elétricos constantes ao cérebro
por um nervo específico, que auxilia no controle das convulsões.
Segundo levantamento realizado na cidade de São Paulo, a
idade média dos pacientes operados caiu de 32 para 19 anos na última
década. São cada vez mais jovens as pessoas que se submetem à cirurgia de
epilepsia. Em 1996, a idade média dos pacientes operados era de 32 anos. Em
2006, a média estava em 19 anos.
Dr. Silvio Machado - neurocirurgião pediátrico do Hospital VITA
(Curitiba - PR)
Hospital VITA
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