No próximo mês de outubro,
teremos novas eleições no Brasil. Porém, o resultado das últimas eleições
apresentou um aspecto que foi muito comentado na época: os votos brancos, nulos
e abstenções atingiram números elevadíssimos extremamente preocupantes. Segundo
dados finais e oficiais da Justiça Eleitoral, no primeiro turno das últimas
eleições municipais, a soma de brancos, nulos e abstenções superou o número de
votos do candidato primeiro colocado em nove capitais brasileiras.
No segundo turno da mesma eleição,
a situação se repetiu em três capitais: Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto
Alegre. As três cidades tiveram mais votos inválidos que o candidato primeiro
colocado. Isso aconteceu na maioria dos municípios brasileiros, havendo casos
em que vereadores se elegeram com baixíssimo número de votos, o que quer dizer
que não adianta repudiar pela omissão, alguém será eleito.
O interessante, e negativo,
foi a forma de como tais números foram encarados e, de certa forma,
justificados. E nos cabe analisar o porquê do alerta. Os políticos e lideranças
da situação debitaram a avalanche de repulsa retratada pelas urnas aos
malfeitos do governo anterior, associando o fato à corrupção. Já as lideranças
da oposição, que representam o governo passado, sublinharam que os brancos, os
nulos e as ausências eram a posição dos eleitores contra o processo de
impeachment de Dilma Rousseff, que chamam de ‘golpe’, e à posse de Temer, que
qualificam de usurpação.
Os dois posicionamentos são
facciosos, parciais e remetem apenas ao desejo de uma justificativa perante os
eleitores em particular e à população em geral. Ambos os lados contribuíram – e
continuam contribuindo – para o descrédito da classe política que afeta,
infelizmente, a política que em origem e princípio é sadia, positiva e honesta,
sendo os maus políticos que deturpam essa essência. A política é o grande
instrumento para a boa e correta administração dos governos e da sociedade.
Portanto, acusações ou
recriminações mútuas por parte de quem mutuamente contribui para denegrir a
política nada acrescentam, a não ser acentuar o descrédito. O momento é de
falar aberta e sinceramente com a sociedade, para que esse ano a resposta
negativa não venha a se repetir.
A classe política tem
obrigação de convencer a população, em particular o eleitorado, que política é
ciência indispensável. A sociedade tem obrigação cívica de participar, de
atuar, de discutir e votar. Antes se usava a alegação de que no período militar
havia tolhimento tanto em participação e discussão como de oportunidade do
voto. Agora, que a liberdade é assegurada, os eleitores jogam as conquistas no
cesto de lixo. Se a situação e o panorama não são bons com a plenitude
democrática, pior serão se as oportunidades de mudança forem desprezadas.
Os eleitores devem ser
conscientizados de que votar em branco, anular o voto ou desprezar as urnas é
omissão e irresponsabilidade. Cabe aos líderes políticos e aos formadores de
opinião transmitir essa mensagem, embora para isso devam reconquistar o respeito
e a credibilidade. E, por fim, cabe aos cidadãos em geral, tão enfáticos em
protestos, passeatas e manifestações, ter o entendimento de que não adianta ir
para as ruas e não comparecer à seção eleitoral. A mudança se faz através da
prática política e do voto, símbolo maior da democracia.
Luiz Carlos Borges da
Silveira é empresário - médico e professor. Foi Ministro da Saúde e Deputado
Federal.