De evolução
silenciosa, o câncer de próstata deve atingir mais de 60 mil brasileiros e
especialistas alertam para o manejo da dor
O dia 17 de novembro é o Dia
Mundial de Combate ao Câncer de Próstata, de forma que o mês é marcado por
ações de conscientização e prevenção da doença, visando chamar a atenção da
população sobre os cuidados necessários para evitar a doença, além de discutir
avanços no tratamento e na qualidade de vida destes pacientes. Segundo o INCA
(Instituto Nacional de Câncer), a estimativa (2016-2017) aponta a ocorrência de
600 mil novos casos de câncer no Brasil e, com exceção do câncer de pele não
melanoma, os cânceres de próstata serão os mais frequentes: 61 mil casos, o
que corresponde a 28,6% de todos os novos casos em homens deste ano[3].
Em
pacientes oncológicos, estima-se que pelo menos 50% deles sofram de dor crônica
– índice que pode chegar até 90% nos casos avançados[4].
De acordo com o IASP (International Association for the Study of Pain), 72%
dos pacientes com câncer de próstata, em média, sofrerão com a condição em
algum momento da evolução da doença[5] e os especialistas alertam para o
cuidado com esta condição que dificilmente é tratada de forma adequada. “Em
sua fase inicial, o câncer da próstata tem evolução silenciosa, e a dor costuma
ser um dos primeiros sintomas que aparecem conforme a doença avança. A presença
de sintomas urinários, como por exemplo dificuldade para micção, e dor pélvica
ou em outros locais podem indicar um estágio mais avançado da doença. Além da
recomendação dos exames preventivos para homens com mais de 45 anos, uma vez
que a doença é diagnosticada, é fundamental que haja diálogo entre o paciente e
a equipe médica multidisciplinar para que seja indicado o melhor tratamento
objetivando a cura, nos casos da doença inicial, ou aumento da sobrevida,
alívio das sintomas e, consequente, melhoria na qualidade de vida, nos casos da
doença avançada”, explica Dr. Fernando Sabino Marques Monteiro, oncologista
clínico do Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Santa Lúcia, de
Brasília (DF).
O
tratamento para a dor envolve uma equipe multidisciplinar e diversas
terapias, dentre elas o uso de analgésicos opioides nos casos de dor moderada e
intensa, conforme a indicação da Organização Mundial da Saúde (OMS)[6]. “O Brasil está entre os países
que menos prescrevem opioides, com média de 13.13mg per capita, quando o
considerado adequado seria 192,91mg – ou seja, quase 15x maior, números que
sugerem o subtratamento da dor[7]”,
alerta Dr. Sabino.
De acordo com os próprios especialistas, este
cenário é resultados de diversos fatores, incluindo os entraves bucrocráticos
ao acesso às medicações para o tratamento adequadro das dores oncológicas –
seja no SUS ou junto aos convênios de saúde. “Se, por um lado, a rede
pública aguarda revisão do protocolo que padroniza o tratamento para dor, na
expectativa de que haja ampliação das opções de analgésicos opioides
disponibilizados aos pacientes, por outro, a saúde suplementar avança nas
discussões sobre o tratamento da condição, ainda que tenhamos um longo caminho
a percorrer”, adianta o especialista.
Desde 2014, está vigente a Lei da
Quimioterapia Oral (Lei nº 12.880/2013 - RN nº 387/2015) que garante aos
pacientes com câncer o fornecimento do tratamento quimioterápico em casa,
incluindo apenas terapias para dor decorrente da quimioterapia. “Os
estudos apontam que de 15% a 25%[8]
dos pacientes sintam dor como um efeito colateral das terapias – seja
quimioterapia, radioterapia ou das próprias cirurgias. O grande problema é
que a maioria dos pacientes, cerca de 80%6, têm dor associada
à ação direta do tumor e, portanto, não estão contemplados nesta lei.
Além
de ser uma medida pouco conhecida, nós médicos vemos a possibilidade de ampliar
esse acesso e temos buscado discutir formas de beneficiar ainda mais
pacientes”, comenta Dr. Fernando Sabino.
Neste mês de conscientização, o especialista
reforça ainda que “o
objetivo principal é continuar divulgando informações sobre a prevenção do
câncer de próstata e, quando falamos de tratamento, mencionar também que
o controle da dor é fundamental para que os pacientes possam ter uma melhor
qualidade de vida”.
Mundipharma
[3] Acesso em: 24/10/2016. Disponível em: http://www.inca.gov.br/estimativa/2016/tabelaestados.asp?UF=BR
[4] Bruera ED,
Portenoy RK, editors. Cancer pain, assessment and management– 2nd ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.
[5] Acesso em: 24/10/2016.
Disponível em: http://www.iasp-pain.org/files/Content/ContentFolders/GlobalYearAgainstPain2/CancerPainFactSheets/ProstateCancer_Portuguese.pdf
[6] Acesso em: 24/10/2016. Disponível em: http://www.who.int/medicines/areas/quality_safety/guide_on_pain/en/
[7] Duthey, Beatrice, and Willem Scholten.
"Adequacy of opioid analgesic consumption at country, global, and regional
levels in 2010, its relationship with development level, and changes compared
with 2006." Journal of pain and symptom management 47.2 (2014): 283-297.
Report of the International Narcotics Control Board for 2011 (United
Nations publication)
[8] Thomaz A.
Dor oncológica: conceitualização e tratamento farmacológico. Rev. Onco&. P.24-29; Set. 2010
Foley KM. Pain syndromes in patients with cancer. In:
Bonica JJ, Ventafridda V, editors. Advances in Pain Research and
Therapy. New York: Raven Press; 1979.
Higginson IJ. Innovations in assessment: epidemiology
and assessment of pain in advanced cancer. In: Jensen TS, Turner JA, Wiesenfeld-
Hallin Z, editors. Proceedings of the 8th World Congress on Pain. Progress in
Pain Research and Management, Vol. 8. Seattle: IASP Press; 1997.p.707–16.
Bruera ED, Portenoy RK, editors. Cancer pain,
assessment and management– 2nd ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.