Pesquisa realizada pelo Talenses Group, em parceria com a professora Maria José Tonelli e Daniel Andrade, ambos da FGV-EAESP, aponta que 87% reconhecem que a saúde social impacta até a longevidade, mas apenas 50% veem suas lideranças atuando para promovê-la
A
solidão e a fragilidade das relações sociais deixaram de ser apenas um tema da
vida privada e passaram a ocupar espaço nos debates globais de saúde pública e
de gestão corporativa. A Organização Mundial da Saúde já classifica o
isolamento social como um problema capaz de aumentar em até 50% o risco de
demência e em 29% a chance de ataques cardíacos, além de estar associado à
depressão e à queda na longevidade. A OMS também estima que a solidão provoca
quase 1 milhão de mortes por ano. Na esfera corporativa, esses efeitos se
refletem em perda de engajamento, aumento de casos de burnout e queda de
produtividade, um desafio que ganhou força após a pandemia e a intensificação
de modelos de trabalho híbridos e remotos. Porém, para muitos, o modelo
totalmente presencial também deixou de ser viável. O desafio atual é encontrar
caminhos de equilíbrio.
Doyle
& Link (2024) definem saúde social como “a quantidade e a qualidade
adequada das relações num determinado contexto que preencha as necessidades de
um indivíduo para uma conexão humana significativa.” Essa perspectiva reforça a
ideia de que vínculos consistentes não são apenas desejáveis, mas
indispensáveis para a saúde integral física, mental e social. É nesse contexto
que o Talenses Group, em parceria com a professora Maria José Tonelli e Daniel
Andrade, ambos da FGV-EAESP, realizou entre agosto e setembro de 2025 a
Pesquisa de Saúde Social, que ouviu 450 profissionais, sendo 325 respostas
válidas analisadas, de diferentes setores. O estudo analisou como os vínculos
interpessoais, dentro e fora das empresas, afetam a saúde e quais são as
percepções sobre o papel das organizações na construção de ambientes mais
conectados.
Os
resultados revelam uma crise que ultrapassa a esfera pessoal: 88% dos
entrevistados percebem uma piora na qualidade das relações, 92% associam
vínculos frágeis ao agravamento da saúde mental e 87% reconhecem impactos até
mesmo na longevidade. Além disso, 94% percebem que a piora dos vínculos sociais
está diretamente ligada ao agravamento da saúde mental. Para Luiz Valente, CEO
do Talenses Group, esses dados mostram que “relações fragilizadas comprometem
não apenas a vida das pessoas, mas também a sustentabilidade dos negócios, já
que equipes sem conexão sofrem mais com falta de engajamento e queda de
produtividade.”
Nos
grupos de foco, participantes relataram que, ao trabalhar em casa, perderam a
transição entre vida profissional e pessoal, além de oportunidades de
convivência e pertencimento. Foram citados fenômenos como “atrofia social”, a
perda da habilidade de se conectar após a pandemia, e a dificuldade das
lideranças em gerir times híbridos, fatores que têm levado a mais casos de
isolamento, burnout e queda de produtividade. Essa percepção ecoa nos dados
quantitativos: 93% dos profissionais acreditam que o modelo de gestão
influencia diretamente a saúde social, mas apenas 50% avaliam que suas
lideranças atuam de fato para promovê-la.
A
pesquisa também mostra contradições importantes. 76% afirmam manter vínculos de
longo prazo com colegas de trabalho, mas 50% já enfrentaram burnout ou outro tipo
de sofrimento mental. Fora do escritório, a pandemia e a polarização política
deixaram marcas profundas: 50% dizem que seu círculo de amizades diminuiu e 59%
acreditam que divergências políticas afetaram negativamente suas relações
pessoais. Os dados também mostram que mulheres (58%) e profissionais da Geração
Z (75%) são os grupos mais vulneráveis ao burnout e à solidão, revelando um
desafio geracional e de gênero para as lideranças.
“A
principal mensagem do levantamento é que a solidão não pode ser vista apenas
como um problema individual. Ela é um desafio coletivo, que fragiliza equipes,
empresas e a sociedade como um todo. Ignorar esse cenário significa conviver
com perdas em saúde, produtividade e coesão social. Por outro lado, investir em
conexões sólidas pode se tornar um diferencial competitivo”, comenta Maria José
Tonelli.
“Estamos
vivendo um momento de redefinição do trabalho e das relações humanas. O modelo
totalmente presencial já não atende às necessidades de muitas pessoas e
empresas, já que a saúde social também se constrói fora do ambiente corporativo
e demanda tempo para relações familiares e comunitárias. O desafio é encontrar
equilíbrio para que a flexibilidade da tecnologia e conexão caminhem juntas.
Lideranças que se reinventarem, criando oportunidades e dinâmicas que promovam
pertencimento e confiança e aprimorando a comunicação e os feedbacks, estarão
mais preparadas para reter talentos, inovar e enfrentar os desafios do futuro.
A saúde social precisa ganhar centralidade, pois é a base do bem-estar e do
desempenho sustentável”, conclui Luiz Valente.
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