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quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Saúde social fragilizada ameaça bem-estar e negócios no Brasil

Pesquisa realizada pelo Talenses Group, em parceria com a professora Maria José Tonelli e Daniel Andrade, ambos da FGV-EAESP, aponta que 87% reconhecem que a saúde social impacta até a longevidade, mas apenas 50% veem suas lideranças atuando para promovê-la

 

A solidão e a fragilidade das relações sociais deixaram de ser apenas um tema da vida privada e passaram a ocupar espaço nos debates globais de saúde pública e de gestão corporativa. A Organização Mundial da Saúde já classifica o isolamento social como um problema capaz de aumentar em até 50% o risco de demência e em 29% a chance de ataques cardíacos, além de estar associado à depressão e à queda na longevidade. A OMS também estima que a solidão provoca quase 1 milhão de mortes por ano. Na esfera corporativa, esses efeitos se refletem em perda de engajamento, aumento de casos de burnout e queda de produtividade, um desafio que ganhou força após a pandemia e a intensificação de modelos de trabalho híbridos e remotos. Porém, para muitos, o modelo totalmente presencial também deixou de ser viável. O desafio atual é encontrar caminhos de equilíbrio. 

Doyle & Link (2024) definem saúde social como “a quantidade e a qualidade adequada das relações num determinado contexto que preencha as necessidades de um indivíduo para uma conexão humana significativa.” Essa perspectiva reforça a ideia de que vínculos consistentes não são apenas desejáveis, mas indispensáveis para a saúde integral física, mental e social. É nesse contexto que o Talenses Group, em parceria com a professora Maria José Tonelli e Daniel Andrade, ambos da FGV-EAESP, realizou entre agosto e setembro de 2025 a Pesquisa de Saúde Social, que ouviu 450 profissionais, sendo 325 respostas válidas analisadas, de diferentes setores. O estudo analisou como os vínculos interpessoais, dentro e fora das empresas, afetam a saúde e quais são as percepções sobre o papel das organizações na construção de ambientes mais conectados. 

Os resultados revelam uma crise que ultrapassa a esfera pessoal: 88% dos entrevistados percebem uma piora na qualidade das relações, 92% associam vínculos frágeis ao agravamento da saúde mental e 87% reconhecem impactos até mesmo na longevidade. Além disso, 94% percebem que a piora dos vínculos sociais está diretamente ligada ao agravamento da saúde mental. Para Luiz Valente, CEO do Talenses Group, esses dados mostram que “relações fragilizadas comprometem não apenas a vida das pessoas, mas também a sustentabilidade dos negócios, já que equipes sem conexão sofrem mais com falta de engajamento e queda de produtividade.” 

Nos grupos de foco, participantes relataram que, ao trabalhar em casa, perderam a transição entre vida profissional e pessoal, além de oportunidades de convivência e pertencimento. Foram citados fenômenos como “atrofia social”, a perda da habilidade de se conectar após a pandemia, e a dificuldade das lideranças em gerir times híbridos, fatores que têm levado a mais casos de isolamento, burnout e queda de produtividade. Essa percepção ecoa nos dados quantitativos: 93% dos profissionais acreditam que o modelo de gestão influencia diretamente a saúde social, mas apenas 50% avaliam que suas lideranças atuam de fato para promovê-la.

A pesquisa também mostra contradições importantes. 76% afirmam manter vínculos de longo prazo com colegas de trabalho, mas 50% já enfrentaram burnout ou outro tipo de sofrimento mental. Fora do escritório, a pandemia e a polarização política deixaram marcas profundas: 50% dizem que seu círculo de amizades diminuiu e 59% acreditam que divergências políticas afetaram negativamente suas relações pessoais. Os dados também mostram que mulheres (58%) e profissionais da Geração Z (75%) são os grupos mais vulneráveis ao burnout e à solidão, revelando um desafio geracional e de gênero para as lideranças. 

“A principal mensagem do levantamento é que a solidão não pode ser vista apenas como um problema individual. Ela é um desafio coletivo, que fragiliza equipes, empresas e a sociedade como um todo. Ignorar esse cenário significa conviver com perdas em saúde, produtividade e coesão social. Por outro lado, investir em conexões sólidas pode se tornar um diferencial competitivo”, comenta Maria José Tonelli. 

“Estamos vivendo um momento de redefinição do trabalho e das relações humanas. O modelo totalmente presencial já não atende às necessidades de muitas pessoas e empresas, já que a saúde social também se constrói fora do ambiente corporativo e demanda tempo para relações familiares e comunitárias. O desafio é encontrar equilíbrio para que a flexibilidade da tecnologia e conexão caminhem juntas. Lideranças que se reinventarem, criando oportunidades e dinâmicas que promovam pertencimento e confiança e aprimorando a comunicação e os feedbacks, estarão mais preparadas para reter talentos, inovar e enfrentar os desafios do futuro. A saúde social precisa ganhar centralidade, pois é a base do bem-estar e do desempenho sustentável”, conclui Luiz Valente.

 

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