Cardiologista explica
como as mudanças hormonais da menopausa elevam o risco de doenças
cardiovasculares e exigem novos protocolos de prevenção.
A cada nova diretriz, a cardiologia tem deixado
mais claro que o coração das mulheres envelhece de forma diferente. A queda
abrupta do estrogênio após a menopausa provoca uma aceleração expressiva no
risco de eventos cardiovasculares. Uma pesquisa publicada no repositório do
National Institutes of Health (NIH) mostra que o risco de AVC praticamente
dobra na década seguinte à menopausa (1), um achado que reforça a necessidade
de vigilância precoce e individualizada para a saúde feminina.
Essa mudança de cenário acende um alerta
importante. Estudos recentes da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)
mostraram que os escores de risco usados na prática clínica, desenvolvidos com
base em populações masculinas, falham em prever eventos em mulheres, o que faz
com que milhares de diagnósticos sejam retardados (2). “Os sintomas
cardiovasculares femininos nem sempre seguem o padrão clássico de dor no peito
ou irradiação para o braço. Muitas relatam apenas fadiga ou falta de ar, é
importante se atentar na triagem”, explica o Dr. Carlos Eduardo, médico
cardiologista do Delboni Salomão Zoppi, marca da Dasa, empresa líder de
medicina diagnóstica no Brasil.
Além das alterações hormonais, o estilo de vida
durante o climatério também influencia. A redução da atividade física, o ganho
de peso e o aumento da resistência à insulina, comuns nesse período, criam uma
combinação perigosa para o coração. Um estudo do American College of Cardiology
mostrou que mulheres pós-menopausa acumulam o dobro de placas coronarianas em
um ano, comparadas a homens da mesma idade e perfil metabólico (3).
O Dr. Carlos Eduardo reforça que essa é uma mudança
de paradigma na prevenção. “A saúde cardiovascular feminina precisa ser
acompanhada com olhar específico. É o momento de incluir exames de imagem que
avaliam rigidez arterial e escore de cálcio coronariano, e considerar
intervenções precoces, mesmo em mulheres sem sintomas clássicos.” Para ele, a
educação sobre os sinais de alerta e o acompanhamento regular com um
cardiologista podem reduzir drasticamente as mortes evitáveis.
Mais do que uma questão de gênero, a prevenção
cardiovascular na mulher é uma questão de atualização científica. O
reconhecimento de que a menopausa muda completamente o perfil de risco é uma
das descobertas mais recentes da cardiologia moderna, e pode redefinir o modo
como o coração feminino será cuidado nos próximos anos.
Referências
(1) LISABETH, L.; BUSHNELL, C. Menopause and stroke: an epidemiologic review. The Lancet Neurology, v. 11, n. 1, p. 82–91, 2012. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC3615462/
(2) SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA (SBC). Posicionamento sobre a Saúde Cardiometabólica ao longo do ciclo de vida da mulher. Brasília, 2025. Disponível em: https://abccardiol.org/wp-content/uploads/2025/09/2025-0615_Posicionamento-Saude-Cardiometabolica-ao-Longo-do-Ciclo-de-Vida-da-Mulher_2025_Port.x66747.pdf.
(3) AMERICAN COLLEGE OF CARDIOLOGY. Heart Health Declines Rapidly After Menopause. Washington, 02 abr. 2024. Disponível em: https://www.acc.org/About-ACC/Press-Releases/2024/04/01/21/39/heart-health-declines-rapidly-after-menopause.
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