O recente caso do jovem que matou o próprio pai, um dirigente partidário, reacendeu o debate sobre os surtos psiquiátricos e os limites entre a doença mental e a responsabilidade pelos atos cometidos durante uma crise.
Para a psiquiatra Dra. Maria Fernanda Caliani, é fundamental compreender que o surto é uma manifestação aguda de sofrimento psíquico, e não uma simples “perda de controle”.
“Um surto psiquiátrico é uma ruptura aguda e momentânea com a realidade. A pessoa pode apresentar comportamento desorganizado, confusão mental, alucinações e delírios, e na maioria das vezes não percebe o que está acontecendo.Geralmente está ligado a transtornos como esquizofrenia, transtorno bipolar, uso de substâncias psicoativas ou situações de extremo estresse psicológico. Não é drama nem fraqueza é uma condição médica que exige cuidado e técnica”, explica a psiquiatra.
Em situações de crise, a especialista orienta que a prioridade deve ser a segurança de todos os envolvidos, inclusive da própria pessoa em surto.
“O ideal é manter a calma e evitar discussões. Nenhum argumento lógico faz sentido nesse momento. É preciso acionar ajuda profissional imediatamente, como o SAMU (192) ou um pronto atendimento psiquiátrico. Jamais se deve tentar conter fisicamente sem preparo, pois isso pode agravar a situação”, alerta.
A Dra. Caliani também lembra que a Lei da Reforma Psiquiátrica (Lei 10.216/2001) garante o tratamento em liberdade sempre que possível, priorizando o cuidado em comunidade e a proteção dos direitos da pessoa com transtorno mental.
“A internação só deve ocorrer quando há risco real à vida do paciente ou de terceiros, e quando os recursos ambulatoriais não são suficientes. Mais do que solução, ela é uma etapa de cuidado intensivo que precisa vir acompanhada de um plano de acompanhamento e reintegração”, destaca a médica.
Para a psiquiatra, cada surto é um “grito do corpo e da mente pedindo atenção” e deve ser acolhido com empatia.
“Ninguém
escolhe perder o controle. O sofrimento psíquico tem causas complexas,
biológicas, emocionais e sociais, e precisa ser compreendido dentro do
contexto. O cuidado começa pelo olhar: escutar sem medo, acolher sem
preconceito e encaminhar com responsabilidade”, conclui Dra Maria Fernanda
Caliani.
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