Banhos fora de casa podem causar estresse extremo, convulsões e até parada cardíaca em cães e gatos
O
banho fora de casa, procedimento considerado simples e rotineiro por muitos
tutores, pode, na verdade, representar um risco à saúde física e emocional dos
animais de estimação. Preocupados com esse cenário, estudantes de Medicina
Veterinária do Centro Universitário de Brasília (CEUB) investigaram o tema e
produziram estudo sobre a Síndrome do Banho e Tosa, distúrbio pouco conhecido,
mas que pode ser fatal. A pesquisa atende a demanda por orientar tutores sobre
a escolha consciente e segura dos locais onde os pets são atendidos.
O
grupo, formado pelos estudantes Ana Carolina Resende Ribeiro, Isabelle Silva
Resende, Lorenzo Moraes Montiel da Silva e Emanuella Oliveira Mady, explica que
o estudo surgiu a partir do crescimento nos relatos de maus-tratos em pet shops
e de relatos de mudanças comportamentais em animais e queixas de tutores. “O
objetivo é alertar para a importância de escolher ambientes com manejo
respeitoso e seguro, a fim de evitar ocorrências trágicas.”
A
síndrome consiste em um conjunto de reações físicas e comportamentais que podem
surgir após procedimentos como banho, tosa ou secagem. Entre os sintomas mais
comuns, estão medo extremo, tremores, apatia, vômitos, diarreia, alterações
respiratórias, convulsões e, em casos graves, parada cardíaca. Para a
orientadora do projeto e professora de Medicina Veterinária do CEUB,
Francislete Melo, essa condição é considerada especialmente perigosa por afetar
animais com predisposição a problemas cardíacos, respiratórios ou neurológicos.
“O
estresse extremo desencadeado durante o atendimento pode ser silencioso, mas
letal. Ainda assim, não existem dados oficiais no Brasil que monitorem a
frequência dessas ocorrências, o que amplia a necessidade de conscientização.
Isso dificulta o reconhecimento clínico e o registro de casos, fazendo com que
a síndrome continue fora do radar da maioria dos tutores, mesmo quando os
sintomas são graves e evidentes”, destaca a docente.
Como parte prática da pesquisa, em visitas técnicas a pet shops, as boas práticas de manejo foram transformadas em um vídeo educativo demonstrando o protocolo correto de banhos em cães. O conteúdo viralizou nas redes sociais: alcançou mais de 187 mil visualizações e 30 mil curtidas no TikTok, além de grande engajamento no Instagram. Também foi produzido um panfleto digital com dicas práticas para a escolha de pet shops, sinais de alerta e orientações preventivas. O material está disponível nos perfis do grupo no Instagram e TikTok (@vidaadevet).
“Nesses
casos, o tutor precisa observar como o pet se comporta antes e depois do banho.
Um animal que chega ao pet shop muito ansioso ou que volta letárgico, agressivo
ou com diarreia pode estar dando sinais claros de que algo não vai bem”,
explica Lorenzo Moraes. A mostra também identificou os principais erros que
podem levar ao surgimento da síndrome, tanto por parte dos tutores quanto dos
estabelecimentos.
Entre
os equívocos, o grupo aponta que escolher pet shops apenas pelo preço ou
proximidade, ignorar o comportamento prévio do animal e deixar de comunicar seu
histórico emocional ou clínico podem comprometer a saúde desses animais. Já nos
estabelecimentos, os estudantes os principais problemas envolvem a falta de
qualificação da equipe, o uso inadequado de equipamentos e a ausência de
protocolos individualizados para pets sensíveis. “A atenção no banho depende de
informação qualificada e atenção aos sinais do animal. Cada pet reage de forma
diferente. É preciso sensibilidade para entender isso”, pontuam os autores.
O papel dos tutores e dos profissionais
Os
estudantes orientam que os tutores fiquem atentos a comportamentos e reações
incomuns logo após o banho ou a tosa. Sinais como respiração ofegante,
tremores, apatia, agressividade, febre, dificuldade de locomoção ou até
convulsões podem indicar que o animal sofreu um episódio de estresse intenso.
Diante de qualquer um desses sintomas, a recomendação é procurar imediatamente
um médico-veterinário. “Cães e gatos são seres sencientes e isso exige responsabilidade
em cada escolha feita por quem cuida deles”, alerta o grupo.
Para
os autores do estudo, o projeto reforça o papel do médico-veterinário também
como educador. “Muitas vezes, esses profissionais são a principal, ou única,
fonte confiável de informação para os tutores. Cabe a eles orientar sobre
cuidados que vão além do consultório, como a escolha de locais especializados e
a identificação de sinais de sofrimento emocional nos animais”, concluem.
Confira critérios recomendados para a escolha segura de um pet shop:
-
Equipe treinada e com formação na área;
-
Presença de câmeras ou possibilidade de o tutor acompanhar o atendimento;
-
Protocolos adaptáveis a diferentes perfis de animais;
-
Ambientes silenciosos e estrutura adequada;
-
Transparência no atendimento e liberdade para tirar dúvidas.

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