Nas últimas décadas, o Brasil avançou significativamente no combate ao
HIV, mas os números ainda preocupam e mostram que a prevenção continua sendo
essencial. Entre 2007 e junho de 2024, o Brasil registrou mais de 541 mil casos
de HIV, sendo 70,7% em homens. Apenas em 2023, foram notificados 46.495 novos
casos, um crescimento de 4,5% em relação ao ano anterior. A AIDS voltou a
crescer, com 17,8 casos por 100 mil habitantes, especialmente entre jovens de
15 a 24 anos e adultos de 25 a 34 anos.
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Uma das ferramentas mais eficazes e inovadoras nessa luta é a PrEP
(Profilaxia Pré-Exposição), uma estratégia que protege pessoas em situação de
maior vulnerabilidade ao vírus por meio do uso contínuo de medicamentos. Este
tratamento é indicado para pessoas que ainda não vivem com HIV, mas que têm
maior risco de exposição ao vírus.
O uso correto da PreEP pode reduzir em mais de 90% a chance de infecção
por via sexual. Trata-se de uma revolução silenciosa na saúde pública, que vem
salvando vidas e rompendo barreiras sociais. Dra. Michelle Zicker,
infectologista do São Cristóvão Saúde, destaca: “a PrEP é uma estratégia
segura, eficaz e recomendada para a prevenção do HIV. Quando usada
corretamente, ela oferece uma potente proteção, além de promover um cuidado
regular com a saúde sexual da pessoa”.
Como funciona a
PrEP?
A PrEP consiste na ingestão de comprimidos antirretrovirais antes da
pessoa ser exposta ao HIV. Esses medicamentos impedem que o vírus se estabeleça
no organismo, caso haja contato. Atualmente, existem duas formas principais:
- PrEP
diária: indicada
para pessoas com risco contínuo de exposição ao HIV, como quem mantém
relações sexuais frequentes sem preservativo ou que repetidamente procuram
a PEP (Profilaxia Pós Exposição).
- PrEP
sob demanda: voltada
a quem tem relações sexuais esporádicas e consegue prever quando ocorrerá
a possível exposição. Esse regime, no entanto, é recomendado apenas para
grupos específicos com base em evidências científicas, como homens
cisgêneros, gays, bissexuais ou que fazem sexo com homens (HSH), pessoas
não binárias designadas como do sexo masculino ao nascer, e mulheres
trans/travestis que não utilizam hormônios com estradiol.
Durante o uso da
PrEP, a pessoa passa por acompanhamento médico regular, incluindo testagens
para HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Esse
monitoramento é um oportunidade adicional para cuidar da saúde integral,
inclusive com diagnóstico precoce e tratamento de outras ISTs.
“É fundamental a testagem regular e a investigação de sinais
e sintomas para outras IST. A PrEP previne contra o HIV e permite o diagnóstico
e tratamento de outras IST, interrompendo a cadeia de transmissão. Por outro
lado, o uso do preservativo previne a infecção pelo HIV e outras IST”, reforça
a Dra. Michelle.
O estigma ainda é
um desafio
Apesar da eficácia
da PrEP, o estigma e a desinformação ainda afastam muitas pessoas da prevenção.
Dados do Ministério da Saúde revelam que grande parte da população acredita,
equivocadamente, que o medicamento seria “remédio para quem faz sexo
irresponsável”. Essa visão desestimula o uso e impede que o tratamento chegue a
quem mais precisa.
Novas tecnologias e o futuro da PrEP
Além da PrEP oral, novas alternativas estão em desenvolvimento, como a
PrEP injetável, que promete mais comodidade e adesão. A expectativa é que essas
opções ampliem o acesso e diversifiquem as formas de prevenção, especialmente
para quem enfrenta dificuldades em manter o uso diário dos comprimidos.
Para conter o
avanço do HIV, o Brasil precisa superar barreiras estruturais, ampliar a
informação e facilitar o acesso à PrEP. No município de São Paulo, por exemplo,
após teleatendimento pelo SUS, é possível retirar o kit composto pela
profilaxia indicada pela equipe de saúde e um autoteste de HIV em uma máquina
de entrega automática, utilizando um QR Code.
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