Índices de
confiança e de consumo sofreram recuos de 11,6% e 4,6%, na comparação anual
Em decorrência do cenário econômico de incertezas e, principalmente, da alta dos juros, as famílias estão comprando cada vez menos. De acordo com as pesquisas da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), os índices registraram leves alterações, evidenciando um otimismo moderado (entre os 100 pontos) nos lares paulistanos e uma postura cautelosa no consumo.
O indicador de Intenção de Consumo
das Famílias (ICF),
que mede a disposição dos lares para consumir, apresentou uma leve retração de
0,2% em relação ao mês passado, alcançando 104,2 pontos em maio, mostrando um
enfraquecimento gradual da confiança das famílias. Na comparação anual, a queda
foi de 4,6% — marcando a quarta queda consecutiva e apontando o
impacto da conjuntura econômica sobre o comportamento da população.
[GRÁFICO
1]
ÍNDICE DE CONSUMO DAS FAMÍLIAS (ICF)
12 meses
Fonte: FecomercioSP
Já o indicador que
mostra o nível de otimismo, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC),
atingiu 111,7 pontos em maio, registrando uma pequena alta de 0,6% em
comparação com abril. Em relação ao ano passado, a retração foi ainda maior
(-11,6%). É a décima queda consecutiva [gráfico 2].
[GRÁFICO
2]
ÍNDICE DE CONFIANÇA DO CONSUMIDOR (ICC)
12 meses
Fonte: FecomercioSP
De acordo com a
FecomercioSP, esses resultados representam o reflexo das decisões controversas
do governo, em um cenário no qual a política monetária contracionista, com
juros elevados, contrasta com uma política fiscal expansionista, que busca
estimular a atividade econômica. Isso gera um ambiente de dúvidas e inibe uma
retomada mais confiante do consumo.
Consumo ainda
retraído
O Índice de
Expectativas dos Consumidores (IEC), do ICC, subiu 1,2% em maio, alcançando 117,1
pontos e contribuindo para uma leve recuperação mensal da confiança. Todos os
grupos analisados apresentaram avanço, com exceção dos consumidores com 35 anos
ou mais, que registraram queda de 0,6%. Apesar do resultado positivo no mês, o
IEC registrou retração de 12,3% na comparação com maio de 2024, com todos os
subíndices em queda de dois dígitos.
O indicador de
Condições Econômicas Atuais (ICEA), por sua vez, recuou 0,3% em relação a
abril, totalizando 103,6 pontos. No comparativo anual, a retração foi de 10,6%.
Os grupos mais impactados foram os consumidores com 35 anos ou mais (-3,6%), as
mulheres (-0,9%) e aqueles com renda de até dez salários mínimos (-1,9%), que
demonstram mais sensibilidade quanto ao encarecimento do crédito e ao custo de
vida elevado.
Apesar da situação
macroeconômica instável, o componente do ICF Perspectiva Profissional foi o único entre os
sete analisados a apresentar crescimento sólido no comparativo anual, com alta
de 4,2%. O dado sugere que parte da população ainda mantém expectativa positiva
em relação ao mercado de trabalho, em linha com o saldo positivo de contratações
registrado pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) no
primeiro trimestre de 2025 — embora concentrado em ocupações de menor
remuneração [tabela 1].
No curto prazo,
indicadores como
Acesso ao Crédito
(1,7%), Perspectiva de Consumo (0,5%) e Nível de Consumo Atual
(0,2%) mostraram leve recuperação em relação a abril, mas continuam abaixo da
linha de otimismo. A intenção de consumo caiu tanto entre famílias de até dez
salários mínimos quanto entre aquelas de renda superior, refletindo uma percepção
generalizada de insegurança.
[TABELA
1]
ÍNDICE DE CONSUMO DAS FAMÍLIAS (ICF)
Por faixa
de renda
Fonte: FecomercioSP
Nesse quadro,
podemos também analisar as consequências por meio da Pesquisa de
Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), realizada também
pela FecomercioSP: 77,6% das famílias paulistanas declararam ter algum tipo de
dívida em abril de 2025. Já o porcentual de lares com contas em atraso foi de
22,6%. O IPCA acumulado em 12 meses até abril chegou a 5,53%, pressionado especialmente
pelos alimentos — enquanto a taxa Selic segue em 14,75% ao ano (a.a.),
dificultando o acesso ao crédito e restringindo a capacidade de consumo.
Estratégias para o
pequeno varejo
Com a retração no consumo e no alto endividamento das famílias, a FecomercioSP indica que o pequeno varejo precisa agir com estratégia para manter a competitividade. Ajustar estoques, cortar custos e otimizar operações são medidas importantes. Promoções focadas em itens essenciais, facilitação de pagamentos e comunicação orientada ao valor ajudam a manter o giro. Além disso, acompanhar indicadores econômicos e adaptar planos de venda à confiança do consumidor são fundamentais.
Paralelamente, o
comportamento do consumidor vem sendo guiado pela relação entre custo e
benefício, pela digitalização e por novas prioridades. Por isso, o varejista
deve reforçar a gestão financeira, ampliar a presença digital e adotar meios de
pagamento modernos, como o PIX. Atendimento personalizado, ações de fidelização
e parcerias locais agregam valor. Mesmo com a desaceleração, há espaço para
crescer com inovação e foco no cliente.
Notas metodológicas
ICC
O Índice de Confiança
do Consumidor (ICC)
é apurado mensalmente pela FecomercioSP desde 1994. Os dados são coletados com
aproximadamente 2,1 mil consumidores no município de São Paulo. O objetivo é
identificar o sentimento dos consumidores levando em conta suas condições
econômicas atuais e suas expectativas quanto à situação econômica futura. Esses
dados são segmentados por nível de renda, sexo e idade. O ICC varia de zero
(pessimismo total) a 200 (otimismo total). Sua composição, além do índice
geral, se apresenta como: Índice das Condições Econômicas Atuais (ICEA) e
Índice das Expectativas do Consumidor (IEC). Os dados da pesquisa servem como um
balizador para decisões de investimento e para formação de estoques por parte
dos varejistas, bem como para outros tipos de investimento das empresas.
ICF
O Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) é apurado mensalmente pela FecomercioSP, desde janeiro de 2010, com dados de 2,2 mil consumidores no município de São Paulo. O ICF é composto por sete itens: Emprego Atual; Perspectiva Profissional; Renda Atual; Acesso ao Crédito; Nível de Consumo; Perspectiva de Consumo; e Momento para Duráveis. O índice vai de zero a 200 pontos, sendo que abaixo de cem pontos é considerado insatisfatório, e acima de cem pontos, satisfatório. O objetivo da pesquisa é ser um indicador antecedente de vendas do comércio, tornando possível — a partir do ponto de vista dos consumidores e não por uso de modelos econométricos — que seja uma ferramenta poderosa para o varejo, para os fabricantes, para as consultorias, assim como para as instituições financeiras.
FecomercioSP



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