Advogado especialista em direito de saúde esclarece atuação do poder público frente à crescente demanda sanitária contra a doença
A gripe aviária caminha para
ser o novo problema sanitário mundial. Mesmo que ainda muito distante do que
foi o alastramento da Covid-19, a doença, causada pelo vírus influenza A
(H5N1), já ultrapassou as barreiras tradicionais da fauna aviária e preocupa por
sua capacidade de adaptação a mamíferos, incluindo humanos. Segundo a
Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), houve um aumento significativo nos
surtos de gripe aviária entre mamíferos em 2024, com registros de casos em 55
países e envolvimento de animais como bovinos, cães e gatos.
No Brasil, a confirmação de
casos no Rio Grande do Sul, em maio de 2024, levou a uma resposta emergencial
por parte do Ministério da Agricultura e da Saúde, incluindo o abate sanitário
de aves, bloqueios no transporte rural e a suspensão temporária das exportações
avícolas. A medida foi eficaz para conter o avanço imediato do vírus, mas
acende um sinal de alerta para o futuro.
“A situação exige um olhar
estratégico e multidisciplinar. A atuação das autoridades sanitárias deve ir
além da contenção pontual — deve ser preventiva, educativa e estruturada para
evitar que o vírus se torne uma ameaça coletiva”, afirma o advogado Thayan Fernando Ferreira,
especialista em direito de saúde e direito público, membro da comissão de
direito médico da OAB-MG e diretor do escritório Ferreira Cruz Advogados.
Embora o H5N1 atinja
majoritariamente aves selvagens e domésticas, a infecção já foi identificada em
humanos que tiveram contato direto com animais infectados, especialmente nos
Estados Unidos, onde foi registrada, em janeiro de 2024, a primeira morte pela
doença no ano. A gripe aviária pode causar desde sintomas leves até quadros
graves de síndrome respiratória aguda, com potencial letalidade. Nesse
contexto, a abordagem de “Uma Só Saúde”, promovida por instituições como a
OMSA, torna-se ainda mais relevante.
Ela reconhece a
interdependência entre a saúde humana, animal e ambiental e propõe políticas
integradas de prevenção e resposta. “O desafio está em equilibrar a proteção
sanitária com a sustentabilidade econômica. Um país preparado é aquele que
protege sua população sem comprometer a produção de alimentos e o comércio
internacional”, reforça Thayan.
O advogado acredita que,
diante da potencial ameaça representada pela gripe aviária, o papel da Saúde Pública
deve ser fortalecido, com investimentos em vigilância epidemiológica,
capacitação de profissionais, comunicação transparente com a população e
políticas de prevenção. “Não se pode mais falar em saúde pública de forma
isolada. A integração entre os setores é a única maneira de mitigar riscos
sanitários em uma sociedade interconectada. A atuação do agente sanitário deve
ser vista como essencial para manter o equilíbrio entre saúde, meio ambiente e
produção de alimentos”, completa.
Contudo, diante da potencial
ameaça representada pela gripe aviária, o papel da Saúde Pública deve ser
fortalecido, com investimentos em vigilância epidemiológica, capacitação de
profissionais, comunicação transparente com a população e políticas de
prevenção. A vacinação de aves, o monitoramento de animais silvestres e
domésticos e a detecção precoce de surtos são algumas das ações necessárias
para conter o avanço do vírus.
Apesar dos esforços locais, o
risco de uma pandemia persiste, especialmente se houver uma mutação que permita
a transmissão sustentada entre humanos. Por isso, especialistas destacam que a
resposta à gripe aviária precisa ser global, integrada e baseada na ciência.
“O Brasil precisa investir de
forma contínua em uma rede de saúde pública robusta e preparada. Não podemos
mais agir apenas na emergência. O planejamento estratégico é o que diferencia
um país que responde de um país que antecipa. A gripe aviária, hoje ainda
considerada uma ameaça em potencial, pode ser evitada como a próxima grande
pandemia — mas apenas se a vigilância, a ação sanitária e a cooperação
internacional continuarem a se fortalecer a cada novo alerta”, finaliza Thayan.
Nenhum comentário:
Postar um comentário