Pesquisa inglesa
revelou que fatores socioeconômicos, tabagismo e bem-estar mental e físico
estão mais fortemente associadas ao envelhecimento, à mortalidade prematura e
as diversas doenças relacionadas com a idade
Que a população brasileira está envelhecendo, isso
os dados do censo demográfico divulgado pelo IBGE já demonstraram: até 2070,
serão 75 milhões de pessoas com mais de 60 anos no Brasil, ou seja, mais de 37%
da população será idosa. Mas a novidade é que pesquisadores descobriram que os
fatores ambientais têm mais influência sobre o envelhecimento e a longevidade
do que a própria genética.
Um estudo inglês, publicado recentemente na revista
científica Nature Medicine, analisou dados de mais de 430 mil participantes
do UK Biobank (um banco de dados de saúde do Reino Unido) e identificou que
fatores como status socioeconômico, privação, tabagismo, atividade física, sono
e bem-estar mental e físico estão mais fortemente associados ao envelhecimento,
à mortalidade prematura e a diversas doenças relacionadas com a idade do que a
genética.
“Tradicionalmente, a genética é vista como
fundamental na determinação da longevidade e da suscetibilidade a doenças. No
entanto, esse estudo demonstra que o ambiente em que vivemos, incluindo nosso
estilo de vida e o contexto socioeconômico, pode ter forte impacto em diversas
condições de saúde relacionadas com a idade e a expectativa de vida”, comenta o
dr. Gustavo Guida, geneticista dos laboratórios Sérgio Franco e Bronstein, da
Dasa.
O médico explica que o DNA impacta determinadas
doenças, como as demências, a degeneração macular e alguns tipos de câncer,
como o de próstata e de mama. Entretanto, a pesquisa aponta que o conjunto de
exposições ambientais ao longo da vida exerce uma influência mais significativa
em algumas patologias, como artrite reumatoide, doença cardíaca isquêmica e
problemas renais.
“Associar o conhecimento genético sobre nossa saúde
– analisando predisposições e tendências biológicas por meio de exames – e utilizar
essas informações para adotar hábitos saudáveis ou fazer intervenções focadas
ao longo da vida certamente contribui para aumentar a longevidade. Esse é um
dos grandes benefícios que pesquisas como essa proporcionam”, comenta Gustavo.
Testes genéticos oferecem um
“mapa” do envelhecimento e da saúde
No cenário da medicina moderna, os testes genéticos
têm ganhado espaço como aliados na prevenção. Segundo Ricardo Di Lazzaro, geneticista
e responsável pela vertical de genômica pessoal da Dasa Genômica, eles ajudam a
mapear tendências genéticas para a longevidade, mas também para indicar
predisposição a doenças, como hipertensão, demências, infertilidade, câncer e
diabetes.
Na prática, os painéis genéticos oferecem uma
análise de algumas informações do DNA e como elas contribuem para o risco de
desenvolver determinada patologia. O cálculo de risco realizado é baseado
cientificamente em uma extensa revisão dos chamados Estudos Genômicos de
Associação Ampla (do inglês Genome Wide Association Studies ou GWAS) e
considera pequenas variações encontradas nos genes e o impacto de cada uma
delas na probabilidade de manifestar algumas doenças ao longo da vida.
“Medir a predisposição por meio de exames genéticos
é um recurso poderoso para otimizar a saúde. Ela nos oferece um ‘mapa’ do
envelhecimento celular, indicando a área em que o corpo pode estar mais
vulnerável. Com essa informação, podemos focar em estratégias que melhorem a
qualidade de vida e nos ajudem a viver mais e melhor, com autonomia e
vitalidade”, comenta Guida.
Contudo, Di Lazzaro reforça que é fundamental que
as pessoas entendam que, no geral, genética não é sentença: “Ter uma
predisposição não significa um desfecho inevitável. Ao contrário, o
aconselhamento e acompanhamento profissional e a adoção de hábitos saudáveis e
até um tratamento adequado e precoce têm o poder de transformar o cenário,
muitas vezes superando a influência dos genes.”
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