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quinta-feira, 26 de junho de 2025

Envolvimentos românticos no ambiente profissional: o que é aceitável?

No mês dos namorados, o debate sobre relações afetivas dentro das empresas entra em cena e analisa o terreno onde o flerte pode aproximar pessoas ou comprometer reputações, lideranças e até a carreira
 

Seja nas discussões do escritório sobre a temperatura do ar-condicionado, na pausa para o café ou nas conversas do Happy Hour, relações afetivas podem surgir e se consolidar entre colegas de trabalho. Afinal, por quase toda semana, o tempo no trabalho é a maior fonte de interação da maioria dos brasileiros. Mas e quando o interesse vai além do profissional, existem limites para as relações? Elas podem prejudicar sua carreira? Patrícia Suzuki, CHRO da Redarbor Brasil — detentora do Infojobs, traz a visão das empresas sobre esse tema pouco falado fora dos corredores. 

Dados da Sociedade para Gestão de Recursos Humanos (SHRM), dos EUA, apontam que quase 80% dos trabalhadores já se apaixonaram por colegas de trabalho, sendo que 80% namoraram colegas, 10% se envolveram com subordinados e 18% com superiores. "Os efeitos desses relacionamentos podem ser positivos, desde que ambas as partes saibam lidar com isso sem que haja insubordinação ou favoritismo, principalmente quando há hierarquia envolvida. 

Mas o que pode ou não pode ser feito quando o assunto é flerte no ambiente corporativo? “É claro que um relacionamento pode se iniciar em qualquer lugar, mas a linha entre o aceitável e o inadequado no trabalho é bastante tênue”, alerta a CHRO. 

Compreender esses limites e as políticas da empresa onde trabalha é a melhor forma de evitar problemas e manter sua reputação profissional. 

Sobre essa perspectiva, Patrícia pondera: “Para que as linhas profissionais e pessoais não sejam cruzadas de forma indevida, é essencial entender como a empresa lida com esse tema. É comum que as organizações tenham um regulamento interno sobre essas situações e o RH pode ajudar com essas informações”. 

E continua: “De forma geral, a maioria das empresas costuma ter em seu código de conduta o direcionamento para que sejam reportados os casos de relacionamentos entre os colaboradores. Essa prática se torna importante tanto quando os envolvidos possuem hierarquias diferentes dentro da companhia, quanto entre as lideranças e cargos de gestão, por exemplo, para garantir que nenhum privilégio está sendo concedido”. 

É importante estabelecer os limites que devem ser respeitados nas interações. “O que acontece fora do contexto de trabalho pode, em muitas situações, influenciar a dinâmica profissional. Por isso, a empresa precisa estar ciente desses relacionamentos e definir regras claras para preservar um ambiente profissional saudável”, pontua a executiva.

 

Juridicamente, quais são os cuidados?

No campo jurídico, o flerte entre colegas não é, por si só, um ato ilegal. No entanto, ele se torna um problema sério quando evolui para abuso moral ou sexual. O assédio sexual no trabalho é crime previsto no Código Penal (art. 216-A), definido como “constranger alguém com o objetivo de obter vantagem ou favorecimento sexual, valendo-se da posição de superior hierárquico ou ascendência inerente ao exercício de cargo ou função.” Mesmo sem diferença hierárquica significativa, uma investida repetida após recusa pode ser caracterizada como invasiva e ameaçadora. 

Além disso, em 2018, a Lei nº 13.718 alterou o Código Penal para tipificar o crime de importunação sexual, definido como qualquer ato de cunho sexual praticado sem consentimento. Nesse cenário, relações entre pessoas em níveis profissionais diferentes exigem ainda mais cuidado — quando parte da liderança toma a iniciativa, a assimetria de hierarquia pode distorcer o que seria uma escolha genuína. É necessário analisar não só a intenção, mas o contexto e uso do poder. 

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) impõe responsabilidades ao empregador no que diz respeito à integridade do ambiente de trabalho. O artigo 14 do Código Civil também reforça esse dever: cabe à empresa proteger seus colaboradores de situações de assédio e agir diante de qualquer denúncia. 

“O vínculo afetivo não impacta o ambiente de trabalho. Se o clima de trabalho é saudável, deve haver espaço para lidar com esses relacionamentos de forma respeitosa. O papel das empresas é garantir esse ambiente através de políticas internas claras e canais seguros de denúncia.”, afirma Patrícia. 

Prever penalidades claras em caso de violação do código de conduta também é um caminho para casos mais extremos e como prevenção às situações.
 

Reputação, desempenho e implicações legais

A paquera no trabalho não é só um assunto pessoal, ela pode influenciar todo um ambiente e a estrutura da Organização, refletindo em uma questão de reputação, tanto da equipe quanto do profissional, dependendo da situação. Um romance mal resolvido pode afetar a produtividade, motivação e, em casos extremos, a saúde emocional do profissional. 

Conforme a Sociedade para Gestão de Recursos Humanos (SHRM) dos Estados Unidos, quase 20% dos trabalhadores que tiveram romance no trabalho relatam impacto negativo na carreira, e 13% dizem que questões do trabalho contribuíram para o término do relacionamento. 

“É preciso agir com inteligência emocional, respeito às partes envolvidas e transparência quanto a esse tema. Por isso é fundamental conhecer e entender as políticas da empresa, como, inclusive, uma proteção para si mesmo. O ambiente de trabalho deve ser, acima de tudo, profissional e transparente”, conclui a CHRO.


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