O médico José Bines, da Oncologia D’Or, examina vários cenários sobre a incidência da doença antes, durante e após a gestação, sanando as dúvidas mais comuns.
É
cada vez mais frequente a associação entre a maternidade e o câncer de mama. Um
dos motivos reside no fato de que se trata do segundo tumor mais comum entre as
mulheres, ficando atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Só em 2025,
deverão ser diagnosticados 74 mil casos, de acordo com estimativas do Instituto
Nacional do Câncer (INCA)1.
Paralelamente,
esta neoplasia vem atingindo nas últimas décadas mulheres mais jovens, que
estão em fase reprodutiva, embora a prevalência da doença seja maior a partir
dos 50 anos. Em países desenvolvidos, cerca de 7% das pacientes são
diagnosticadas com câncer de mama antes dos 40 anos2. E a
enfermidade representa mais de 40% de todos os cânceres nesta faixa etária2.
A este cenário, soma-se a tendência crescente da maternidade tardia, que eleva o risco de desenvolvimento do câncer de mama. Segundo o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus)3, no ano 2000 apenas 9,1% das mulheres com 35 anos ou mais tiveram filhos. Passados 20 anos, essa porcentagem quase dobrou, passando para 16,5%.
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| Quase 4% das mulheres descobrem a doença durante a gestação |
A boa notícia é que o arsenal terapêutico para o câncer de mama vem se ampliando, o que aumentou as possibilidades de cura e de controle da doença. Mesmo quando os medicamentos podem comprometer a fertilidade, a mulher pode adiar a gravidez, optando pelo congelamento de óvulos e embriões, enquanto realiza seu tratamento.
“O médico precisa abordar essa questão com toda paciente jovem no início da
consulta, porque os tratamentos são longos e o passar dos anos diminui as
chances de gravidez”, explica o médico José Bines, da Oncologia D’Or. Aqui ele
examina as situações frequentes, dando um enfoque especial à incidência da
doença antes, durante e depois da gestação.
A gravidez após o câncer
Hoje
em dia, já está bem estabelecido na literatura médica que a gestação após o
câncer de mama não aumenta o risco de recidiva nem de metástase da doença.
Afirmações neste sentido não passam de um mito.
As
considerações em torno desta temática são um pouco mais complexas e envolvem a
duração do tratamento, que pode variar entre cinco e dez anos. “A dúvida é se a
interrupção do tratamento vai implicar na volta da doença, e não a gravidez em
si”, afirma José Bines.
Independentemente
da gestação ou do tratamento, algumas pacientes apresentam risco de recidiva,
em função da idade ou das características do tumor. Por isso, a mulher deve
conversar com o seu médico e entender qual é o risco de recidiva e como o
câncer pode comprometer tanto a gestação como a criação de seu filho ou de sua
filha.
Em
2023, o Estudo Positive4 trouxe um alento para mulheres que desejam
ser mães após o câncer. O trabalho mostrou que pacientes com tumor de mama de
baixo risco, após dois anos em tratamento, poderiam interromper a medicação
para engravidar e amamentar por um certo tempo.
“Mas
vale mencionar que esse estudo acompanhou as mulheres por um período curto”,
adverte o médico. “Seria importante que este acompanhamento fosse mais longo
para assegurarmos que a interrupção do tratamento não aumenta a possibilidade
de recidiva”, complementou.
A descoberta
do câncer durante a gestação
O
câncer de mama gestacional é o tumor maligno mais comum na gravidez. A doença é
descoberta durante a gestação em até 3,8% das pacientes5.. O
diagnóstico é complexo por causa das alterações fisiológicas ocorridas na
gravidez.
“A
percepção do tumor muitas vezes é difícil tanto para o médico como para a
paciente, em razão das próprias mudanças que a gravidez provoca nas mamas”,
observa o oncologista.
O
importante é que a futura mãe não precisa interromper a gestação por causa do
câncer. O tratamento é complexo devido aos potenciais riscos fetais, mas pode
ser realizado respeitando-se a fase da gestação em que o tumor foi descoberto e
o tipo de câncer de mama que acomete a paciente.
O câncer depois do parto
A
longo prazo, a gestação protege a mulher contra o câncer de mama. No entanto, o
risco para a doença aumenta nos meses seguintes ao nascimento do bebê. Embora
seja menos restritivo do que o recomendado durante a gravidez, o tratamento
demanda a interrupção da amamentação.
Diversos
estudos demonstram que pacientes com câncer de mama no pós-parto apresentam a
doença mais avançada. Uma pesquisa belga6, realizada nos Hospitais
Universitários de Leuven, apontou que a enfermidade se manifestou de forma mais
grave em mulheres que tiveram câncer até um ano depois do nascimento de seus
filhos. Os pesquisadores compararam 53 mulheres com até 45 anos e câncer
pós-parto com um grupo formado por 103 mulheres que tiveram a doença sem
vínculo com a gestação.
As
possíveis explicações para o pior prognóstico são o atraso no diagnóstico em
decorrência das alterações fisiológicas e a demora no início do tratamento, por
causa do receio do médico em tratar pacientes com câncer. Acredita-se, ainda,
que a biologia tumoral no pós-parto é mais agressiva.
Oncologia D'Or
Referência
- Estimativa 2023: incidência de câncer no Brasil/Instituto
Nacional de Câncer – Rio de Janeiro. 2022.
- Olívia Pagani et al. Pregnancy after breast cancer: Are young
patients willing to participate in clinical studies? The Breast. Volume
24, Issue 3, June 2015, Pages 201-207
- Fiocruz. Gravidez tardia: chances e riscos. Disponível em: Link
- Ann H. Partridge et al. Interrupting Endocrine Therapy to
Attempt Pregnancy after Breast Câncer. The New England Journal of
Medicine. 2023;388:1645-1656
- Cynthia Maxwell et al. Breast Cancer in Pregnancy: A
Retrospective Cohort Study. Gynecologic and Obstetric Investigation.
(2019) 84 (1): 79–85.
- N Van den Rul et al. Postpartum breast cancer behaves
differently. Facts Views Vis Obgyn. 2011;3(3):183–188.

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