Para
Federação, incertezas fiscais e dinâmica inflacionária exigiam manutenção da
taxa de juros em 10,5%; volta da redução depende de um ajuste fiscal mais
efetivo
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco
Central (Bacen) toma uma decisão responsável ao pausar o ciclo de redução da
taxa básica de juros do País, a Selic. Com isso, ela permanece em 10,5%.
Embora seja má notícia para o setor produtivo, a Federação do Comércio de
Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) ressalta que
a parada técnica é necessária em meio a uma conjuntura econômica que aponta
para riscos inflacionários.
O primeiro ponto de atenção é a incerteza fiscal. O governo admitiu, há
alguns meses, que não conseguirá atingir a meta de déficit de gastos neste ano,
mas não aproveitou a oportunidade para mostrar um plano de contingência
alternativo ao arcabouço fiscal existente. A Federação tem reforçado a
importância em ter os gastos públicos controlados, além da necessidade do País
em avançar em direção a uma Reforma Administrativa, cujo impacto se sentiria
sobre o orçamento.
Em paralelo, os números relativos aos investimentos estão em queda na
comparação com os do ano passado, enquanto o consumo, tanto do governo quanto
das famílias, permanece em alta. Todo esse contexto reforça o alerta de que
pode haver um desequilíbrio entre oferta e demanda no futuro próximo.
A consequência disso é inflação, e o mercado já notou esse cenário. O boletim Focus,
também do Bacen, tem refletido uma conjuntura pessimista, cujas expectativas
estão se deteriorando rapidamente já para 2024 — e para os próximos anos. Não
são apenas perspectivas, vale dizer, porque o IPCA de maio registrou alta de
0,46%. Em 12 meses, o indicador acumula alta de 3,93%, patamar próximo da
banda superior da meta.
Além da incerteza fiscal, o próprio contexto econômico brasileiro exige uma
atitude como a que o Bacen adotou agora: o mercado de trabalho segue
bastante aquecido, com o desemprego perto da mínima histórica (7,8%), enquanto
o rendimento real cresceu 1,1% no primeiro trimestre em relação ao período
anterior. Em 2024, já subiu 4,3%, com uma massa de renda em torno de R$ 307
bilhões, de acordo com o IBGE. São números que pressionam os preços,
principalmente dos serviços intensivos em mão de obra.
Na análise da FecomercioSP, o recado do IPCA é inequívoco: diante da pressão
sobre o grupo de alimentos, os serviços darão a tônica da conjuntura daqui para
a frente: não apenas porque é um setor sensível à demanda dos consumidores,
mas também porque sente imediatamente os efeitos da elevação dos gastos do
governo. Em outras palavras, política fiscal expansionista tem como
resultado aumento direto nos preços dos serviços.
Por tudo isso, a decisão do Copom é correta. Caso a instituição
decidisse cortar mais a Selic, poderia causar um aumento imediato das
expectativas de inflação no longo prazo, e o empresariado já sentiria, no
presente, um aumento das taxas de juros nos financiamentos de longo prazo.
Segundo a Federação, aliás, agora, a volta do ciclo de cortes está condicionada
a um plano de ajuste fiscal apresentado que seja realizado via corte de
despesas. Caso contrário, o Bacen continuará refém de incertezas.
FecomercioSP
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