Dra Karen
Scavacini, fundadora do Instituto Vita Alere, fala sobre o tema e lança manual
que educa e ajuda profissionais da saúde, educadores e público geral
Para muitos, estar saudável significa “não estar
doente”, porém o conceito de saúde de acordo com a Organização Mundial da Saúde
(OMS) é um pouco mais abrangente: “saúde é um estado físico e mental não apenas
do indivíduo, mas da sociedade em geral”. Neste cenário é preciso dizer que
saúde engloba garantir o básico para a população no que tange ao saneamento
básico, segurança, acesso a alimentos e água potável, moradia, educação e,
claro, acesso aos cuidados com a saúde. Como garantir, então, o básico em cenários
incertos e cheios de perdas repentinas quando acontece um desastre climático
com o que vimos recentemente no Rio Grande do Sul.
Dra Karen Scavacini, psicóloga e fundadora do
Instituto Vita Alere, explica que os impactos resultantes de uma catástrofe climática
vão muito além da perda da moradia e dos pertences: “Logo após
emergências e/ou desastres climáticos é natural que os olhos de todos se voltem
à prestação imediata de assistência física e material ou de segurança. No
entanto, passado esse procedimento inicial, vem o choque de realidade das
perdas (materiais e sentimentais) que causa feridas invisíveis, mas
extremamente dolorosas não só aos que foram impactados pela emergência ou
desastres, mas também àqueles que estão na linha de frente de resgates e
cuidados. O cuidado à saúde mental geral é essencial, pois já é sabido que o
impacto que desastres e emergência climáticos causam pode acarretar no aumento
de suicídios, um assunto que ainda é tabu, mas que precisa ser conversado.”.
Diante deste cenário - em especial para auxiliar a
população do Rio Grande do Sul neste momento - o Instituto Vita Alere criou o
primeiro manual sobre o tema e que tem como principal objetivo contribuir para
o desenvolvimento do bem-estar e cuidados de saúde mental em comunidades
afetadas por situações de emergência e desastres, oferecendo estratégias na
prevenção do suicídio nesses contextos para o público em geral e não apenas
profissionais da saúde. O material - organizado em parceria com apoio do
Governo do Rio Grande do Sul, Unicef, Abeps e Vertentes, está disponível para
download no link: www.vitaalere.com.br/manualed.
“Um desastre climático pode ser o gatilho para que
uma pessoa desenvolva um diagnóstico psiquiátrico ou entre em um ciclo de
comportamentos nocivos. Não é raro observar neste contexto o desenvolvimento de
Transtorno do Estresse Pós-Traumático, depressão, ansiedade. Além disso,
aumento ou início de consumo de substâncias psicoativas - lícitas e ilícitas, aumento
do isolamento social podem fazer parte do processo decorrente do luto pelas
perdas materiais, familiares ou sentimentais que permeiam uma catástrofe. Isso
sem contar os impactos sócio-econômicos que também transformam repentinamente a
vida dessas pessoas. Todo esse cenário pode contribuir para a elevação das
taxas de suicídio e justamente por isso devemos unir esforços para cuidar da
saúde mental dessas pessoas ao mesmo tempo em que damos apoio material para que
possam se reeguer”, explica Karen.
“Os números relacionados ao suicídio no Brasil são preocupantes:
a cada 33 minutos morre uma pessoa por suicídio no país. Dados de 2021 do
DATASUS apontam que o estado com o maior número de mortes é justamente o Rio
Grande do Sul. Ter acesso a esses números só reitera ainda mais a necessidade
do acolhimento e do cuidado à saúde mental dessa população direta ou
indiretamente afetadas”, continua a doutora.
Materiais como o Manual lançado pelo Vita Alere -
com estratégias e intervenções que podem ser feitas por familiares,
voluntários, educadores, líderes religiosos e até mesmo pela comunidade em
geral têm como objetivo principal a normalização de conversas que tangem o
universo da saúde mental e do suicídio, indo muito além de manter o tema apenas
entre profissionais da saúde. Ainda é alto o número de pessoas que acredita que
falar sobre o tema pode ser o gatilho para uma morte por suicídio, mas a
realidade é totalmente contrária. “Quando damos espaço para uma pessoa com
comportamentos suicidas se sentir confortável a expressar seus sentimentos,
damos a ela uma oportunidade de cuidado e, com isso, podemos salvar uma vida.
Falar sobre um tema - seja ele qual for - não é incentivar uma ação em si, mas
dar espaço para que as pessoas possam colocar para fora seus sentimentos. Falar
salva vidas”, finaliza a psicóloga.
Dra Karen Scavacini - idealizadora, cofundadora, coordenadora e responsável técnica do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio. Formada em psicologia, Karen é doutora em "Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano" pela USP e mestre em "Saúde Pública na área de Promoção de Saúde Mental e Prevenção ao Suicídio" pelo Karolinska Institutet, localizado na Suécia. É representante do Brasil no IASP (International Association for Suicide Prevention), membro da American Association for Suicide Prevention, nos Estados Unidos; do LIFE (Living is for Everyone), na Austrália; do Global Mental health Action Network (GMHAN), e do Global Psychology Network, além de autora de um livro que auxilia pais e educadores a conversarem sobre suicídio, "E agora? - Um livro para crianças lidando com o luto por suicídio". Além disso, é membro do "SSI Advisory Commitee" do Facebook e grupo Meta. Palestrante, Dra Karen participou de eventos nacional e internacionais falando sobre a importância de se falar sobre saúde mental, prevenção e posvenção do suicídio. Entre os eventos participantes estão o Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sirio Libanês, o IPQ USP - Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e a Faculdade Getúlio Vargas (FGV).
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