Representante do governo britânico fala sobre a adesão brasileira à Convenção de Budapeste, tratado global para investigações de crimes cibernéticos
A cooperação internacional entre polícias, governos e empresas de diversos países é fundamental para investigar e punir os crimes cibernéticos. Essa foi a principal lição aprendida pelo governo britânico em sua participação na Convenção de Budapeste. E é a recomendação daquele país ao Brasil, que também se prepara para aderir ao tratado global de combate ao cibercrime.
As
ações necessárias para que o país seja mais eficaz contra os ataques, golpes e
pirataria na internet foram discutidas em um webinar realizado nesta
terça-feira (24/11) pela consultoria brasileira LTAHub, especializada em
investigações de crimes praticados no ambiente virtual.
Segundo
o chefe de política internacional de crimes cibernéticos do Departamento de
Home Office do Reino Unido, Justin Millar, a cooperação entre países é
essencial para a coleta de evidências que levem à punição dos criminosos, uma
vez que estes podem fazer vítimas em qualquer ponto do planeta.
Millar
explicou que o Reino Unido precisou de 10 anos para formalizar sua adesão à
Convenção de Budapeste – as discussões começaram em 2001 e a ratificação do
acordo só ocorreu em 2011. Um dos maiores desafios, lembrou ele, foi promover
mudanças nas leis do país para permitir a identificação e penalização dos
autores de crimes cibernéticos.
Atualmente,
a cada ano, o Reino Unido faz cerca de 200 buscas de informações em outros
países, relacionadas a práticas criminosas. Já no ambiente interno, de acordo
com Millar, a lei britânica não exige que os provedores de internet tomem a
iniciativa de monitorar e bloquear conteúdos suspeitos, mas, uma vez
notificados pela polícia ou órgãos de estado, estes sites ilegais são retirados
da rede.
Para
Millar, o primeiro passo no combate internacional ao cibercrime é construir um
relacionamento de confiança entre as polícias, autoridades públicas e empresas
de diversos países. “Uma vez que a cooperação começa as dificuldades
desaparecem”, frisou o representante do governo britânico, respondendo a
questionamento do diretor de Políticas Públicas e Relações com a Indústria da
LTAHub, Felipe Senna.
O
webinar sobre as práticas do Reino Unido no combate ao cibercrime foi o quarto
de uma série promovida pela LTAHub no Brasil. Esta edição contou com o apoio da
Embaixada Britânica em Brasília e da Motion Picture Association (MPA), que
representa os principais estúdios de cinema dos Estados Unidos.
Operação
404 no Brasil
A
diretora de relações governamentais da MPA América Latina, Andressa Pappas,
lembrou que, no início deste mês, o Ministério da Justiça e Segurança Pública
do Brasil coordenou a segunda fase da Operação 404, que, com apoio da Polícia
Civil em diversos estados, bloqueou 252 sites e 65 aplicativos de streaming
ilegal.
A
ação contou com a colaboração das embaixadas dos Estados Unidos e do Reino
Unido no Brasil, além de associações de empresas do setor audiovisual, como a
MPA e ABTA (Associação Brasileira de Televisão por Assinatura). Para Andressa
Pappas, este tipo de operação pode ser ainda mais eficaz a partir da adesão do
país à Convenção de Budapeste.
Ela
lembrou que o Brasil só iniciou no ano passado o processo de formalização do
acordo, por iniciativa do mesmo Ministério da Justiça e Segurança Pública. Isso
ocorreu após anos de esforços de um Grupo de Trabalho constituído para esse
fim, envolvendo Ministério das Relações Exteriores, Polícia Federal,
Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional
(DRCI), Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República,
Agência Brasileira de Inteligência e Ministério Público Federal.
Em
julho deste ano, o presidente Jair Bolsonaro encaminhou ao Congresso Nacional o
processo de ratificação legislativa da adesão brasileira à Convenção de
Budapeste, que está em vigor desde 2004.
Uma vez signatário, o Brasil se unirá a um círculo internacional que já inclui 44 estados-membros do Conselho da Europa e 20 estados não membros, como os Estados Unidos, Canadá, Chile, Argentina, Colômbia, República Dominicana e Peru, nas Américas.
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