A vacina como método de profilaxia para doenças infecciosas, carrega consigo uma história de descobertas, de erradicação, mas também, de lutas e revoltas. Constituída de partes ou do próprio agente patogênico atenuado, a vacina induz o corpo a produzir anticorpos e células de memória, os quais, quando em uma segunda exposição ao patógeno específico, já promoverão uma resposta imunológica mais rápida e eficaz, evitando que o corpo adoeça. Esse é o princípio de funcionamento das vacinas, método que foi descoberto no final do século XVIII, pelo médico britânico Edward Jenner, no combate ao grande mal da época, a varíola. Doença que devido a um esforço global, de mais 10 anos, foi considerada erradicada em 1980.
Mas, quem nunca ouviu falar
da Revolta da Vacina de 1904 que ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, devido à
vacinação anti-varíola que foi conduzida de forma autoritária pelo Governo da
época? Ou mesmo, do movimento antivacinação, que cresce no mundo como um todo
desde a década de 90 alicerçado por uma sociedade de risco midiatizada? E, como
consequência, dos recentes surtos de sarampo que assolam o Brasil e o mundo nos
últimos anos, mesmo depois de, em 2016, termos recebido o certificado de país
livre de sarampo? E, ainda, da pandemia do novo coronavírus que encontra
negacionistas em todas as esferas da sociedade e incitou uma corrida para a criação
de uma vacina em tempo recorde?
Assim, acredito que
vivenciamos um momento paradoxal. De um lado, um cenário de descrédito na
ciência e uma sociedade da informação que produz conteúdo midiático sem pudor e
exerce influência sobre um grande contingente populacional. A partir dessa
leitura, o que esperar de um futuro próximo, no qual, alguns grupos que se
manifestam contrários às medidas de isolamento frente ao Sars-Cov-2 e que são
céticos quanto às vacinas, ganham forças?
Do outro, temos pesquisadores
do mundo todo, aliando forças em prol da produção de uma vacina em tempo
recorde, sem precedente na história, pois a mais rápida até então foi a para
caxumba em quatro anos. Mas que, de certo modo, servem a grandes empresas
privadas e estas a interesses do mercado. E, nesse jogo, ninguém entra para
brincar. Como exemplo, o Governo dos Estados Unidos que já comprou praticamente
todas as doses das futuras vacinas produzidas por duas grandes
farmacêuticas.
Portanto, em uma análise mais
global, onde a falta de sincronia das ações demostra a fragilidade em pensar no
coletivo, fica a pergunta: como construir um caminho possível à erradicação da
primeira grande pandemia do século XXI?
Nicole Geraldine de Paula
Marques Witt - bióloga, especialista em Meio Ambiente e Desenvolvimento,
professora dos cursos de Ciências Biológicas e Geografia do Centro
Universitário Internacional Uninter.
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