A comunidade médica acompanha de perto os impactos que essa pandemia histórica terá na saúde mental das pessoas. Em maior ou menor grau, eles certamente virão - se já não vieram. Quando falamos da população idosa, a situação é ainda mais sensível. Não conseguimos mensurar as consequências que o isolamento social terá na vida de cada um. Sabemos, entretanto, que ele é importante para preservar a saúde física de todos, e desse grupo de risco especialmente. Seguimos, então, buscando encontrar o equilíbrio entre o que chamam de ‘novo normal’ e o cuidado com o distanciamento, extremamente necessário.
Ir à padaria todo o
dia pela manhã, caminhar pelo bairro, ir aos parques, sair para visitar
familiares e amigos ou ficar na calçada de casa conversando com os vizinhos.
Essas eram ações simples do cotidiano de muitos idosos antes da pandemia. Devia
fazer parte da rotina dedicar um tempo para se movimentar fora de casa. É
saudável e recomendado. Então, de repente, essas atividades precisaram ser suspensas.
E isso que nós, médicos, lutamos para evoluir em socialização e estimulação,
corre o risco de regredir.
Caso a caso, a
comunidade tem lidado com situações como aumento de depressão, ansiedade, medo
e até quadros de fobia. Esse é um relato frequente dos profissionais nos
hospitais e em seus consultórios. Os idosos estão com medo. Todos. Aqueles que
estão em casa sozinhos, os que moram com seus familiares, aqueles em
residenciais e mesmo aqueles que têm uma vida mais ativa. Esse é um sentimento
comum. E é absolutamente compreensível.
De acordo a
Organização Mundial de Saúde (OMS), o número de pessoas com depressão já tinha
aumentado muito na última década. Atualmente, 330 milhões de pessoas, cerca de
5% da população mundial, têm a doença. Estima-se que o número de brasileiros
que convive diariamente com a depressão é de 12 milhões. A ansiedade está ainda
mais presente entre a população no Brasil, cerca de 10% manifesta sintomas como
insônia, angústia, fobias, pânico, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC),
transtorno de ansiedade generalizada (TAG), entre outros.
Infelizmente, os
quadros tendem a apresentar alguma evolução no período e esses números devem
aumentar. Alteração de apetite, dificuldade de dormir, evolução de quadros
psicológicos, mudanças na capacidade física, falta de esperança, desmotivação e
preocupação excessiva com a pandemia são alguns sintomas. Ainda não sabemos
quais serão as consequências a longo prazo, mas podemos encontrar maneiras e
estimular essas pessoas que, apesar de encontrarem-se em um momento difícil e
inédito, têm muito a realizar e a ensinar. Podemos ajudá-los com resiliência,
paciência, esperança e otimismo. Devemos fazer isso. É nosso papel na
sociedade. De acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), entre 2012 e 2018, a população brasileira com 65 anos de idade ou mais
cresceu 26%. Na ocasião, o Brasil já tinha 207.8 milhões de pessoas. Os dados
mostram que 10% desse total são cidadãos com 65 anos ou mais. Com a tendência
de crescimento, em breve esse indicador será ainda maior. E não podemos
esquecer que no futuro seremos parte desse grupo.
Apesar do momento de
distanciamento físico, existem maneiras de cuidarmos uns dos outros. É
fundamental que os idosos sejam estimulados a se manterem ativos, mesmo dentro
de casa e com a manutenção do distanciamento. Por isso, pensando em colaborar
com o estímulo cognitivo, socialização e qualidade de vida, separei quatro
sugestões de ações que podem ser praticadas diariamente:
• Buscar uma visão otimista
e evitar informações negativas
Em meio à situação
sensível e a outras que certamente virão - porque os desafios fazem parte da
vida e ajudam a sermos mais pacientes -, é sempre bom lembrar que o otimismo
pode deixar a vida mais leve, alegre e colaborar com a esperança. Estimular a
busca por informações positivas e momentos de relaxamento contribui com esse
movimento.
• Realizar atividade
física
Para que uma pessoa se
mantenha saudável, o ideal é realizar cerca de uma hora por dia de exercícios
físicos, pelo menos três vezes na semana. A prática traz benefícios para o
corpo e mente, pois aumenta o fator neurotrófico, um mecanismo de proteção do
cérebro. É possível estimular os idosos com alguns pequenos exercícios em casa
como: alongamentos, sentar e levantar da cadeira, apoio de frente para parede,
caminhada dentro de casa, entre outros. Costumo dizer que hoje em dia
encontramos quase tudo na internet. Obviamente, é preciso estar atento às
limitações físicas de cada um, mas movimentar o corpo é sempre positivo. Se
tiver dúvidas sobre quais exercícios são mais adequados, o ideal é conversar
com um profissional que o oriente às necessidades físicas do idoso.
3) Manter uma
alimentação saudável
Uma dieta equilibrada
também é importante, pois o momento pode gerar ansiedade, estresse e até
depressão. Algumas pessoas tendem a descontar na alimentação, aumentando a
ingestão de comida ou apresentando mudanças de apetite, reduzindo as refeições.
O ideal é ficar em um
local calmo para aproveitar o momento da alimentação e mastigar bem. A
mastigação estimula a saciedade. Além disso, a ingestão de água durante o dia
garante a hidratação necessária para o corpo. Vale lembrar da importância de
incluir no cardápio frutas, verduras, legumes, cereais e carnes magras. Evitar
frituras, diminuir a ingestão de embutidos, bebidas alcoólicas e refrigerantes,
bem como evitar a adição de muito sal. Consultar o nutricionista é fundamental
para verificar as necessidades alimentares do idoso.
• Falar com as pessoas
que amam
Apesar do
distanciamento físico, para manter a qualidade de vida é importante encontrar
meios de se conectar com as pessoas e socializar. É essencial lembrar que as
relações humanas precisam ser valorizadas. As pessoas podem aproveitar a
tecnologia para conversar com seus familiares e amigos. As ligações e
videochamadas podem diminuir a saudade e trazer mais ânimo.
Essas são algumas
recomendações, mas existem outras atividades que podem contribuir com a saúde e
qualidade de vida como: terapia online, realizar trabalhos manuais e de
jardinagem, leitura de livros, assistir filmes ou séries, cozinhar, entre
outras.
As pessoas devem
continuar a praticar o distanciamento físico, mas podem encontrar maneiras de
amenizar a falta de socialização presencial. As relações humanas contribuem com
o otimismo e reforço o quanto ele é fundamental para a manutenção da saúde
mental e física. Diariamente, tenho refletido que o importante é focar na
esperança de dias melhores e eles virão.
Considerando
os impactos que o momento atual terá na saúde física e emocional das pessoas, é
fundamental que ações diárias sejam tomadas para que possamos buscar o
bem-estar individual e coletivo. Como sociedade precisamos sair dessa situação
sensível com foco em aprender a enfrentar os outros desafios que virão de
maneira mais resiliente. Mais do que isso, também precisamos nos lembrar que o
cuidado com a saúde deve ser diário. Muitas pessoas deixaram de cuidar do
básico como alimentação adequada e exercícios físicos, outras deixaram de ir ao
médico e realizar exames periódicos, por medo de sair de casa. Temos que nos
proteger, sim. Entretanto, deixar de cuidar do físico e emocional pode ter
consequências imensuráveis.
Dr. Ana Catarina
Quadrante
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