Infecções
neonatais, de maior incidência em países subdesenvolvidos, estão entre os
fatores críticos para o desenvolvimento da doença
Cerca de 18 em cada 100 mil pessoas apresenta algum
quadro de epilepsia no mundo, sendo que em 75% dos casos ela se apresenta antes
dos 18 anos. Caracterizada por uma manifestação crônica de origem variada,
composta de crises repetidas geradas a partir de carga excessiva dos neurônios
cerebrais, a epilepsia ainda gera dúvidas em relação as suas causas e tipos,
especialmente em sua fase comumente mais crítica: a infância e adolescência.
Para entender a ocorrência neste público, Dr. Luiz Cetl, neurocirurgião
especialista pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN) com foco de
atuação na doença, explica que entre as causas para a descoberta da epilepsia
na infância estão problemas relacionados com o cérebro antes do nascimento, a
exemplo da falta de oxigênio durante ou após o parto, traumatismos
cranianos, convulsão com febre prolongada, tumores, causas genéticas e
infecções. A meningite também pode ser um fator desencadeante da epilepsia.
“A desnutrição durante a fase de gestação pode afetar o desenvolvimento
do sistema nervoso central do bebê, provocando lesões que poderão causar
epilepsia. Condições inadequadas de higiene, muito comum ainda em países
subdesenvolvidos e em desenvolvimento também facilitam infecções na fase
pré-natal, assim como o próprio pré-natal inadequado. Há ainda os casos
relacionados à neurocisticercose, decorrentes da ingestão de verduras
contaminadas e mal higienizadas, contendo dos ovos da tênia (verme intestinal)
e que chegam ao sistema nervoso central”, exemplifica o médico.
Conhecida popularmente como “ataque epiléptico”, os
sintomas da epilepsia podem variar dependendo da localização do grupo de
neurônios afetados, que podem causar sensações de flashes e luzes, convulsão
febril e movimentação incontrolável das mãos, braços e pernas.
A intensidade e as frequências maiores das crises
nas crianças ocorrem em função das características do seu desenvolvimento. De
acordo com o Dr. Cetl, “o sistema nervoso central da criança apresenta mudanças
constantes desde a gestação na barriga da mãe, evoluindo em transformações
bastante dinâmicas até ela se tornar adulta e que interferem de forma
importante sobre as características das crises, bem como sobre as respostas aos
tratamentos propostos”.
O principal tratamento da epilepsia é o
medicamentoso, eficaz no controle das crises em cerca de 70% dos casos. “Nos
casos de epilepsia refratária - não controlada com medicamentos -, a indicação
pode ser o tratamento cirúrgico, mesmo em crianças. Embora seja um procedimento
reconhecido para o controle das crises, nem todos os casos podem ser tratados
com cirurgia. O recomendável é uma avaliação criteriosa pelo médico
especialista, que poderá determinar o tipo de tratamento mais adequado”, pontua
o médico.
Quando não tratadas, a qualidade de vida do
epiléptico é bastante afetada, principalmente na infância. Entretanto, com o
acompanhamento médico adequado as crianças com epilepsia conseguem ser
devidamente inseridas no âmbito familiar, social, cultural e educacional, tão
importantes em sua base de formação.
Dr. Luiz Daniel Cetl - neurocirurgião, especialista pela Sociedade Brasileira
de Neurocirurgia (SBN), membro do grupo de tumores do Departamento de
Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e integrante da
Associação dos Neurocirurgiões do Estado de São Paulo (SONESP). Atua ainda como
preceptor de cirurgia de tumores cerebrais no Departamento de Neurocirurgia da
Unifesp.