Final
de ano aumenta em até 50% os casos de suicídio
Mesmo
que para alguns seja um momento feliz para encerrar mais um ciclo, o final do
ano é um agravante ao estresse para pessoas que já estão deprimidas. A sensação
de que o ano vai acabar aumenta a cobrança de finalizar tudo, avaliar o que não
deu certo, antecipar as metas para o próximo ano, comprar e consumir para as
festas que estão chegando, se cobrar de estar com a família e rever alguns
amigos...e por aí vai. O psiquiatra Dr Diego Tavares, do Grupo de Estudos
de Doenças Afetivas (GRUDA) do Hospital das Clínicas de São Paulo,
comenta como o cérebro se comporta nessa fase do ano e porque os casos de
suicídio também aumentam com a chegada do mês de dezembro.
“O ser
humano tem uma ligação forte com datas, quer seja aniversários, Natal ou mesmo
a virada do ano. Enquanto para a maioria das pessoas momentos como estes são
motivos de alegria e felicidade, para pessoas que estão com o
cérebro funcionando de maneira alterada como na depressão, tais momentos
podem se tornar motivo de mais cobrança pela felicidade que não sentem e
de culpa por estarem doentes e deprimidos. A maneira distorcida do
deprimido enxergar a realidade faz com que ele piore os desfechos, pense
de maneira pessimista e desesperanças e não veja saída para os
problemas. Tudo isso pode aumentar o estresse emocional no final do ano
e precipitar desfechos negativos como o suicídio".
E isso
tem explicação. “Geralmente o indivíduo deprimido apresenta uma distorção das
memórias, isto é, lembra mais de fatos passados negativos e do pensamento,
pensa mais negativamente, quando está deprimido. Dessa maneira, parece que
tudo que aconteceu e o que está para acontecer foi e será
ruim. Não há saída. Tudo é mais difícil e tomar decisões se torna
absurdamente difícil”, comenta o psiquiatra.
Nem toda pessoa deprimida
apresentará ideias de se matar (ideação suicida), mas a presença de algumas
características da pessoa ou da família aumentam o risco de suicídio para a
pessoa que está deprimida, que são:
- Elevado grau de
depressão, desesperança, desamparo e desespero (4 D`s do suicídio);
- Apresentar uma ideia ou
um plano de suicídio bem estruturado;
- História de tentativas
prévias de suicídio;
- Presença de um
transtorno psiquiátrico grave já diagnosticado (esquizofrenia, bipolaridade,
alcoolismo);
- Acesso a muitos meios e
métodos de autoextermínio;
- Ausência de suporte
familiar;
- Fatores de estresse que
precipitem o suicídio como estar solteiro ou separado; estar desempregado;
estar distante da família; estar sofrendo assédio moral em ambiente de
trabalho;
- Doenças médicas
graves: câncer,
quadros dolorosos, doenças reumatológicas, doenças neurológicas, AIDS, doenças
dermatológicas graves, etc.
- Impulsividade aumentada
(por exemplo em alguma depressão do espectro bipolar);
- Ausência de fatores de
proteção como autoestima
elevada; bom suporte familiar; laços sociais bem estabelecidos com família
e amigos; religiosidade independente da afiliação religiosa e razão
para viver; ausência de doença mental; estar empregado; ter crianças em
casa; senso de responsabilidade com a família; gravidez desejada e
planejada; capacidade de adaptação positiva; capacidade de resolução de
problemas e relação terapêutica positiva, além de acesso a serviços e
cuidados de saúde mental.
"Por
isso observe se alguma pessoa deprimida apresenta algum destes fatores de risco
e principalmente, se aproxime dela neste final de ano impedindo que este
momento de festas possa se transformar em uma momento de maior sofrimento para
ela", explica o psiquiatra.
FONTE: Dr. Diego Taraves - psiquiatra e pesquisador do Programa de
Transtorno Bipolar da Faculdade de Medicina do ABC (PROTAB) e do Grupo de
Estudos de Doenças Afetivas da USP (GRUDA).