Dormir
oito horas; não comer ou fazer exercícios antes de deitar; ler na cama,
pode? “Regras de ouro” da qualidade do sono acabam com mitos de uma noite
bem dormida
Se
você tem algum problema relacionado a sono – ou a falta dele – saiba que a
maioria da população do Brasil está com você: 72% dos brasileiros e brasileiras
sofrem de doenças relacionadas ao sono, segundo um estudo da Philips divulgado
no ano passado. “Dormir não é perder tempo, o sono de má qualidade gera
problemas de saúde em pessoas de todas as idades”, afirma o
otorrinolaringologista especialista em Medicina do Sono, Fernando Cesar
Mariano. Além de consultar um médico para resolver problemas desse tipo, é
possível adotar como hábitos as “regras de ouro” que, segundo Mariano, podem
ser seguidas para alcançar um sono e uma vida com mais qualidade.
O
médico otorrinolaringologista, Mariano explica que a pessoa que dorme bem
acorda disposta, ativa e não tem interrupções durante o dia por causa de
sonolência. “Esses são sinais subjetivos da qualidade do sono. Para avaliar com
precisão se uma pessoa dorme bem, unimos esses aos sinais objetivos do exame de
polissonografia, como dificuldade para iniciar o sono, despertar durante a
noite, aproveitamento de ao menos 85% da noite na cama para dormir”, afirma.
Ele diz que despertar uma vez durante a noite não tem problema, e idosos podem
despertar até duas vezes: “Principalmente, a facilidade para pegar no sono é
algo revelador sobre a qualidade desse sono. Já sintomas como depressão,
diminuição da concentração e mau humor, por exemplo, podem ser causa ou
consequência de um sono ruim”.
Dormir
menos de oito horas por noite, no entanto, não é necessariamente sinal de sono
ruim. Conjecturas como essa e alguns comportamentos podem fazer pessoas que
dormem bem acabarem imaginando que dormem mal e vice-versa. Quando há dúvida ou
algum sintoma, como o ronco frequente, que pode estar atrelado ou não à apneia
do sono (pausas respiratórias), é necessário confirmar a qualidade desse sono
com o exame de polissonografia. Mariano explica que o ronco não habitual pode
não ser grave, mas pode ser problema para a qualidade do sono do parceiro de
quem ronca: “Já vi muitos casos de divórcio por causa do ronco do parceiro”.
Regras
de ouro: higiene do sono
O
especialista dá as dicas – as regras de ouro da qualidade do sono –, que devem
ser seguidas por quem, independentemente da idade, quer dormir bem:
Escuridão:
Quanto mais nos expomos à luz, à noite, pior é para a produção da melatonina,
que é o hormônio que ajuda a preparar o organismo para dormir. Para idosos e
crianças, é recomendável um botão de luz ao alcance da mão para, caso seja
necessário levantar durante a noite, evitar o risco de quedas e outros
acidentes. Mas, para um sono de qualidade é preciso escuridão total.
Mesmo quando há luz no
quarto de dormir, ela deve ser o mais branda possível, como uma penumbra.
Televisão no quarto, por exemplo, é má ideia. O quarto de dormir, o nome já
diz, idealmente deve servir para dormir, descansar, e não para outras
atividades como ler, trabalhar, assistir à TV. Caso não resista a uma leitura
antes de dormir, deve ser algo leve, que não exija muita concentração.
Silêncio: Em
tempos modernos, quem mora nas grandes cidades tem cada vez mais dificuldade de
encontrar locais em que haja silêncio, mesmo à noite. Esse, no entanto, é outro
requisito para um sono efetivo.
Temperatura agradável:
Outra característica dos nossos tempos de mudança climática é a ausência de uma
temperatura agradável ou ideal, mais um elemento para se chegar à qualidade de
sono.
Horário padrão:
manter a mesma hora para dormir e acordar, inclusive nos fins de semana, ajuda
muito a regularizar o círculo circadiano ou relógio biológico do organismo e
fazê-lo entender os horários de dormir e acordar.
Não se expor a eletrônicos:
Aproximadamente 45 minutos antes do horário de dormir, deixar smartphones,
tablets, aparelhos de TV e computadores. Evitar a agitação ajuda a relaxar, é
claro, mas, como no primeiro item, é importante evitar a exposição à luz, e a
luz azul que vem dos eletrônicos atrapalha ainda mais o relaxamento e a
produção de melatonina.
Evitar exercícios físicos no
período noturno: Agitar-se fisicamente pode aumentar a
temperatura corporal, o que atrapalha pegar no sono.
Evitar refeições fartas: Se
for comer à noite, que seja até três horas antes de deitar para dormir, e uma
refeição leve, que não faça o organismo se ocupar mais da digestão do que da
indução ao sono.
Dois
mitos e uma verdade sobre o sono
Segundo Fernando Cesar
Mariano, há mitos sobre o sono que podem causar angústia e até mais insônia em
quem já sofre com isso.
É preciso dormir oito horas
por noite
Mito! O
desejável e que cada pessoa descubra a própria média ideal de quantidade de
sono. Para o adulto, segundo associações médicas nacionais e internacionais, a
média são 7 horas por noite. Menos do que isso pode aumentar as chances de
desenvolver alguns problemas de saúde. A partir dessas sete horas, cada pessoa
pode, ao prestar atenção em seu histórico, perceber qual a duração de uma noite
de sono para se sentir bem durante o dia. Costuma ser entre sete e nove horas.
Já quem dorme menos de seis horas por noite tem chances aumentadas de 13 a 17%
de morrer por doenças como infarto, AVC e até sepse.
Quem dorme cedo e acorda
cedo tem mais qualidade de vida
Mito! Nem
sempre. As pessoas são diferentes umas das outras e há vários cronotipos, ou
seja, vários tipos de ritmos circadianos.
Algumas pessoas realmente têm uma atividade melhor de manhã e outras trabalham
melhor no final do dia. Não se deve padronizar o mesmo horário de dormir e
acordar para todas as pessoas: há os matutinos e os vespertinos. Os
especialistas podem ajudar na identificação dos cronotipos.
Dr.
Fernando Cesar Mariano - O médico
otorrinolaringologista Fernando César Mariano é especialista em sono e
cirurgião de ronco e apneia. Faz parte do corpo clínico do Hospital IPO e é
médico em Quatro Barras (PR). É criador do game educativo para crianças e
adolescentes “Hey, Roncabilly! O game do sono saudável”, que destaca a
importância de dormir bem e desmistifica que roncar é algo engraçado ou normal.
Mais informações no site: www.drronco.com.br.