O sistema bancário é um dos setores de maior importância no contexto mundial, responsável por viabilizar o crédito para empreendedores e também pela proteção de risco. Apesar de apresentar um dos sistemas mais complexos e desenvolvidos do mundo, o Brasil ainda encontra desafios de infraestrutura tecnológica. Há dois anos, no entanto, as conversas sobre open banking começaram a apontar que, de fato, estamos prestes a dar um importante passo na democratização dos serviços, agregando segurança e facilidades para o consumidor, ampliando a concorrência e mudando a forma de relacionamento entre clientes e instituições, tanto as financeiras e como não financeiras.
Ao permitir a integração de aplicativos com os
serviços por meio da abertura de interfaces de programação de aplicativos,
desenvolvedores de outras empresas de tecnologia serão capazes de criar
diversas aplicações e serviços, focadas nas experiências e na forma como os
clientes interagem com seu banco. É um passo e tanto. No entanto, essa mudança
esperada está impregnada de dúvidas. E não só dos clientes que, em sua maioria,
ainda não sabem exatamente o que é o tal do open banking, mas também dos
agentes das instituições bancárias.
Como diretor de inovação de uma empresa provedora
de tecnologia para o mercado financeiro tenho percebido uma certa angústia dos
players. Ninguém tem dúvidas de que esta será uma transformação, um um marco,
mas muitos me perguntam que tipo de estratégia devem entregar, em que base
tecnológica. Basicamente, eles estão centrados em duas dúvidas: Como posso me
preparar? Como ser protagonista? Como entregar a melhor experiência?
Enquanto o Banco Central ouve as partes
interessadas para definir o tamanho desse novo impulso digital que o país dará,
tenho recomendado que estudem mais os mercados estrangeiros. Certamente podemos
replicar aqui alguns modelos e aprender com o Reino Unido ou mesmo com os
países do leste asiático, com a Austrália ou o México. Quais os erros e acertos
de cada um deles?
Fato é que, para fazer parte deste novo jogo, os
bancos vão precisar se movimentar, sair da zona de conforto, olhar outros
cenários, construir novos modelos de remuneração, de rentabilidade e até mesmo
entender como essa rentabilidade será repartida. Temos uma bela oportunidade
para criar soluções inovadoras, que serão benéficas e ágeis, mas que também
precisam ser simples. Nesse novo paradigma, a competição será mais agressiva e
com uma quantidade de agentes maior. Ganhará mercado aqueles que apresentarem
as melhores soluções tecnológicas com foco centralizado na experiência do
usuários e na economia ou entrega de melhores serviços com menores taxas. Como
ficará o novo bolo do sistema bancário, me perguntam.
Por hora, acredito que as maiores fatias devem
seguir mesmo com as instituições financeiras tradicionais, que já possuem
estrutura para abraçar este novo momento de abertura e de inovação.
Praticamente todas já fecharam parcerias ou adquiriram startups e fintechs
acostumadas a lidar com a rápida mudança do mercado e com um olhar mais atento
aos desejos dos clientes. Mas até quando será assim?
A abertura desse mercado pode atrair as bigtechs
como Facebook, Google e Alibaba. Com grande volume de usuários e dados sobre
eles, essas gigantes da tecnologia sabem usar essas informações a seu favor e
com certeza apresentam um risco para essa concorrência mais segmentada no campo
financeiro. Para citar um exemplo, temos a atual briga do Facebook
para o lançamento no Whatsapp Pay que, apesar de limitado, sai na frente por já
contar com aproximadamente 77 milhões de usuários no Brasil.
Também não falta apetite para os players de médio e
pequeno porte, que vão apostar no novo para buscar capilaridade. E há espaço
real para todo mundo. Pela primeira vez, a vantagem competitiva não estará
somente no capital. Sairá na frente aquele que entender melhor seu cliente e
antecipar sua demanda através de integrações. É uma oportunidade e tanto para
inclusão dos desbancarizados e a pavimentação definitiva do caminho para
iniciativas como o PIX e SandBox. O futuro é logo ali.
Leo Monte - Diretor de Inovação da Sinqia,
principal provedor de tecnologia para o mercado financeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário