Com intuito aprimorar ainda mais a atenção ao recém-nascido na prevenção e abordagem da asfixia perinatal, entidades nacionais se uniram para lançar a campanha “Setembro Verde Esperança” – em prol da conscientização dos riscos, prevenção e tratamento da asfixia perinatal. Com o apoio da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o movimento é uma iniciativa do Instituto Protegendo Cérebros, Salvando Futuros, entidade sem fins lucrativos e liderada por um grupo de profissionais de saúde preocupados com o alto número de bebês que correm o risco de viver com sequelas neurológicas irreparáveis decorrentes da falta de oxigenação no cérebro e nos órgãos durante o nascimento.
“No mundo, segundo estudos
epidemiológicos, a asfixia perinatal atinge mais de 1,1 milhão de bebês por
ano. Essa condição ocupa a terceira causa de morte neonatal, 23% da mortalidade
de recém-nascidos no mundo inteiro, além de ser a principal causa de lesão
cerebral permanente em bebês nascidos a termo. Por isso, essa campanha é de
fundamental importância para todos nós pediatras”, ressalta a presidente da
SBP, dra. Luciana Rodrigues Silva.
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No Brasil, em um período de
12 meses, estimam-se que aproximadamente 20 mil crianças nascem com falta de
oxigenação. Dessas, seis mil evoluem para o óbito e parte significativa dos
sobreviventes tem grande risco de sequelas neurológicas. “O perfil de doenças e
mortes na infância mudou drasticamente entre 1990 e 2015. As melhorias
das condições sanitárias e nutricionais do País, como o acesso à saúde, com a
organização do Sistema Único de Saúde, e o impacto de ações específicas, como a
terapia de reidratação oral e estratégias de Imunoprevenção, reduziram as
doenças e mortes associadas às causas infectocontagiosas e imunopreveníveis, e
trouxeram os problemas neonatais para as principais causas de doenças e mortes
nos primeiros 5 anos de vida”, explica a presidente do Departamento Científico
de Neonatologia da SBP, dra. Maria Albertina Santiago Rego.
Ela avalia ainda que o Brasil
avançou na cobertura do pré-natal, um dos fatores para a redução da asfixia em
49% entre 1990 e 2015, período correspondente às metas do milênio. “Muito ainda
precisa ser feito. O desafio atual é investir no cuidado perinatal em rede,
integrando a atenção primária à saúde, à atenção ambulatorial especializada e à
atenção hospitalar, para responder às demandas clínicas das gestantes de acordo
com o risco gestacional e, na vinculação com o parto e nascimento, para
assegurar bons resultados à parturiente, mãe e recém-nascido. Só
assim poderão ser assegurados o diagnóstico e as intervenções adequadas para
prevenir a prematuridade, asfixia e infecções durante a gravidez”, ressalta.
CONSCIENTIZAÇÃO – Em
2018 a SBP lançou a campanha Nascimento Seguro, que teve por objetivo a
conscientização por meio de informação direcionada a gestores, equipes
multiprofissionais, famílias e gestantes da importância da qualificação e
integração do pré-natal, parto, nascimento e período neonatal, presença
do pediatra na equipe da assistência ao recém-nascido, começando durante
a gestação e principalmente no parto e período neonatal.
Concomitantemente à campanha,
a SBP divulgou ainda o documento científico Nascimento Seguro, cujo objetivo é
alinhar conceitos de organização e sistematização da assistência perinatal e
traçar diretrizes que resultem em práticas clínicas potencialmente melhores na
atenção neonatal. O documento foi fundamentado em argumentos científicos,
experiências e expertises clínicas e atitude ética, compartilhado com pediatras
que atuam na assistência ao RN e suas famílias.
“Os pediatras têm um
importante papel a desempenhar no aperfeiçoamento da atenção nesse campo
específico. O debate e a análise aprofundada de todos os aspectos relacionados
ao nascimento contribuirão para a implementação de avanços na saúde do neonato
e materna. Esse documento aborda os pontos críticos dos fluxos assistenciais e
dos processos clínicos no percurso inicial de vida da criança”, salienta dra.
Maria Albertina.
Para a especialista,
implementar paradigmas sólidos no cuidado perinatal, de forma colaborativa e
reflexiva, é uma estratégia de grande impacto na redução dos óbitos neonatais e
maternos por causas potencialmente evitáveis. “Para a implementação das normas
técnicas para o cuidado perinatal efetivo são necessários investimentos no
número e na distribuição de leitos obstétricos e neonatais, na estrutura dos
serviços ambulatoriais e hospitalares, na composição e capacitação das equipes
da assistência perinatal”, elucida.
ESTRATÉGIA – De acordo a
neonatologista e diretora de Cursos e Eventos da SBP, dra. Lilian Sadeck dos
Santos, o fortalecimento da rede de atenção perinatal, com atenção continuada –
da gestação ao período neonatal e os primeiros anos de vida da criança – é uma
estratégia que precisa ser priorizada no País.
“Fatores relacionados à gestação,
nascimento e período neonatal, geralmente evitáveis por meio de cuidados
integrados à saúde materno-infantil, podem mudar os resultados da vida dessas
crianças e famílias. Intervenções adequadas precisam ser elencadas”, frisa.
Dra Lilian observa ainda que
a qualidade da assistência prestada ao recém-nascido de risco, que requer
cuidados intensivos e especializados, também deve ser foco de políticas
públicas. Para ela, a qualidade da assistência hospitalar perinatal precisa ser
monitorada por indicadores de processo, além dos resultados perinatais.
“A asfixia perinatal é uma
realidade que atinge todas as classes sociais no mundo. Apesar disso, uma
pequena parcela dos recém-nascidos com asfixia em nosso País tem acesso ao
tratamento e suporte mais adequado. Então grande parte pode ter o seu
futuro comprometido por diversos déficits e sequelas neurológicas como
paralisia cerebral, deficiência cognitiva, cegueira ou surdez”, explica.
Dra. Lilian destaca ainda o
trabalho do Programa de Reanimação Neonatal da Sociedade Brasileira de
Pediatria (PRN-SBP), iniciado em 1994, com o treinamento de milhares de
profissionais de saúde em todo o País. As coordenadoras do PRN-SBP, dras. Maria
Fernanda Branco de Almeida e Ruth Guinsburg, frisam que os esforços empreendidos
pelos pediatras da SBP têm sido fundamentais para salvar a vida dos
recém-nascidos.
“De Norte a Sul, temos
profissionais que abdicam do seu tempo e percorrem longas distâncias em prol
dessa causa. O crescimento do Programa só foi possível graças à dedicação
desses especialistas, que ao longo de muitos anos, ajudaram a construir uma
assistência mais qualificada e humanizada na sala de parto”, salientam.
Elas ressaltam que o PRN-SBP
já capacitou mais de 117 mil profissionais de saúde para o atendimento ao
recém-nascido na sala de parto, contando com cerca de 1.200 instrutores em 236
municípios do País, “constituindo-se, por sua abrangência, no segundo maior
Programa de Reanimação Neonatal do mundo, atrás apenas do Programa
norte-americano”, finalizam.
UNIÃO E PARCERIA -
Adicionalmente à parceria com a SBP, a campanha “Setembro Verde Esperança” já
conta com o apoio a AACD, Instituto Jô Clemente, Academia Brasileira de
Pediatria (ABP), Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI), Federação
Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), Associação
Brasileira de Medicina Física e Reabilitação (ABMFR), Sociedade Brasileira de
Neurocirurgia Pediátrica (SBNPed).
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Além destes parceiros,
grandes comunidades de profissionais de saúde, muitos hospitais brasileiros e
equipes internacionais, como a Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e
Cambridge, na Inglaterra, também apoiam a iniciativa. Este projeto também conta
com apoio do Congresso Nacional, que, de 25 a 30 de setembro, será iluminado em
verde em alusão a campanha. O ideal do movimento consiste em promover uma série
de ações que tragam o tema para discussão de toda a sociedade.
“O ponto forte dessa parceria
é juntar forças para implementar estratégias de redução de causas
potencialmente evitáveis, de eventos e mortes que ocorrem no período perinatal
e neonatal, e se estendendo com complicações por muitos anos. As taxas, apesar
de terem diminuído, ainda são elevadas, sendo que as causas evitáveis
relacionadas à gravidez e ao parto estão entre as principais causas de morte
nos primeiros cinco anos de vida. Políticas públicas intersetoriais e de saúde
específicas devem ser colocadas em prática e aprimoradas para aumentar a
redução das taxas de mortalidade infantil no Brasil”, pontua dr. Gabriel
Variane, do Instituto Protegendo Cérebros.
Segundo ele, os principais
objetivos dessa campanha incluem: unir instituições apoiadoras com o intuito de
sensibilizar a sociedade de que asfixia perinatal é um grave problema de saúde
pública; chamar a atenção dos setores público e privado para a necessidade de
reduzir o impacto dessa doença em nosso país; e ao reduzir as chances de
sequelas em bebês, mudar histórias de vida de milhares de crianças e de suas
famílias.
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