O Brasil é, historicamente, um eterno exportador de
commodities e importador de manufaturas. Com ampla extensão territorial e clima
tropical, temos uma agricultura e agropecuária fortes. Estamos entre os maiores
exportadores de café, soja, milho, laranja e açúcar, além de carnes. Contudo,
deixamos muito a desejar na hora de exportar produtos de maior valor agregado.
Inverter essa lógica pode ser a grande oportunidade do país para sair da crise
imposta pela pandemia do novo coronavírus – em especial pela alta do dólar.
O Índice de Comércio Exterior (Icomex), da Fundação
Getúlio Vargas, referente a maio, confirma que somos o país das commodities.
Elas somaram 71% das exportações brasileiras. O setor agropecuário teve um
aumento de 44,2% entre os meses de maio de 2019 e 2020, seguido do
aumento de 11,3% da indústria extrativa. Já a indústria de transformação teve
nova queda, agora de 13,7%. O principal motivo para esses números são os baixos
investimentos do país em inovação e tecnologia industrial.
Enquanto países como China, Estados Unidos e União
Europeia tem mais de 50% de suas indústrias adaptadas à Indústria 4.0, por
aqui, dados da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial
(ABDI), mostram que temos menos de 2% das organizações prontas para a
automação. Assim, vamos nos tornando cada vez menos competitivos frente a
países que apostam na modernização de suas indústrias.
Somado a isso, o Brasil sofre de outro mal: sua
própria grandeza. Com mais de 8 milhões de quilômetros quadrados de extensão
territorial e mais de 210 milhões de habitantes, é comum percebermos que a
grande maioria dos empresários do país foca suas estratégias única e
exclusivamente no mercado interno. O Brasil parece grande o bastante para a
nossa classe empreendedora, que prefere limitar suas ações para as fronteiras
verde e amarelas.
Além de dificuldades em aprender outros idiomas e
experimentar outras culturas, os empreendedores tendem a não se preocupar muito
com a gestão de seus negócios, que são em boa parte conduzidos apenas pela
experiência do dono. Falta conhecimento em boas práticas e a pandemia só tem
evidenciado isso. Tanto é que já no primeiro mês de isolamento, centenas de
empresas fecharam as portas em definitivo por não terem fluxo de caixa para
sobreviver à queda brusca no faturamento.
Somado à isso, o empresário brasileiro não tem o
hábito de seguir modelos de gestão internacional, como as certificações ISO,
que atestam a conformidade em requisitos de padrões mundiais para exigências como
qualidade, meio ambiente, saúde e segurança ocupacional, inovação, entre
outras. Esses certificados são tidos como obrigatórios em muitos países e não
tê-los significa simplesmente não participar do mercado internacional.
Se, diante das atuais circunstâncias, os
empresários brasileiros insistirem em mirar apenas no mercado interno, eles
encontrarão sérios problemas no médio e no longo prazo. Com milhares de
empresas encerrando suas atividades, o nível de desemprego subindo e a renda
das famílias sendo drasticamente reduzida, o consumo interno será limitado
apenas aos itens básicos por um bom tempo. Dessa forma, diversos setores da
economia serão bruscamente afetados, gerando um ciclo de escassez enorme.
Por outro lado, se os empresários apostarem em inovação,
buscando mais eficiência operacional, mercadológica e tecnológica, teremos
produtos mais competitivos e atraentes ao mercado externo. Com o câmbio
favorável às exportações, o país conseguirá aumentar sua balança comercial,
trazendo dinheiro do exterior para ser investido por aqui. Com esses
investimentos, voltaremos a gerar empregos e renda para as famílias que
tenderão a consumir mais e melhor.
Portanto, para sair da crise, o Brasil precisa
investir em sua competitividade, rompendo as fronteiras e buscando a
profissionalização da gestão a fim de lutar em pé de igualdade com os países
desenvolvidos. E empresário nenhum precisa do governo para fazer isso! Ao tomar
a decisão de internacionalizar sua empresa, o empreendedor só precisa buscar o
apoio certo para inovar e implementar as melhores práticas de gestão do mundo.
Iniciar um ciclo de escassez ou de abundância está nas mãos da nossa classe
empreendedora. E aí, qual é a sua escolha?
Alexandre
Pierro - sócio-fundador da PALAS e um dos únicos brasileiros a participar
ativamente da formatação da ISO 56.002, de gestão da inovação.
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