A psicóloga Valeska Bassan comenta que a doença
afeta principalmente o bem-estar mental do indivíduo que pode ter depressão,
ansiedade e compulsão alimentar
Com o passar dos anos e as mudanças constantes na
sociedade sobre conscientização dos seus direitos e deveres, muitos hábitos
comuns nas décadas passadas foram sendo deixados de lado, mas isso não
significa que os preconceitos e julgamentos diminuíram, eles apenas mudaram de
formato.
Uma palavra usada nos dia de hoje é o termo
gordofobia, como o próprio nome já indica, caracteriza uma situação de
discriminação com um indivíduo que se apresenta acima do peso. A origem do termo
ainda é desconhecida. Alguns afirmam que a expressão vem do inglês
fatphobiae significa: aquele que teme ou tem uma percepção negativa de pessoas
gordas e/ou da obesidade.
Por muito tempo se acreditou que a obesidade era,
na verdade, um problema relacionado somente com o excesso de ingestão de
calorias diárias de uma pessoa. No entanto, a obesidade se relaciona com o
excesso do consumo de calorias, mas ela também apresenta um quadro metabólico e
inflamatório de difícil controle clínico, sendo classificada, por esse motivo,
como uma doença.
Pesquisa do Ministério da Saúde mostra que número
de obesos no país aumentou 67,8% entre 2006 e 2018. Já a
Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças crônicas por
Inquérito Telefônico (Vigitel), de 2018, do Ministério da Saúde aponta que
houve aumento da obesidade de 67,8% nos últimos treze anos, saindo de 11,8% em
2006 para 19,8% em 2018. Com o aumento da população acima do peso, cresce
também a gordofobia.
Para a psicóloga e coordenadora do Ambulatório em
Transtornos Alimentares e Obesidade (AMBULIM) da USP, Valeska Bassan a obesidade reflete
principalmente no bem- estar mental do indivíduo, e sofrer preconceito por ter
essa doença pode levar a pessoa a ter quadros de depressão, ansiedade, baixo
estima, uso de drogas, isolamento social e compulsão alimentar. “Desde criança
muito desses indivíduos já sofrem com a obesidade. Quando encontram essa
intolerância, esse preconceito em torno da doença, o aumento na ingestão de
comida, o que chamamos do “comer emocional” é muito comum, além do abandono das
atividades físicas, dietas restritas que instigam ainda mais a compulsão
alimentarem, tornando o tratamento ainda mais difícil”, explica.
A revista Nature Medicine publicou um artigo pelo
estigma ligado ao excesso de peso. Ele foi assinado por mais de 100 renomadas
instituições, entre elas a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e
Metabólica (SBCBM) que constataram que o preconceito compromete a saúde de pessoas
acima do peso e dificulta o acesso a medicamentos e tratamentos.
A gordofobia inclusive contribui para os altos índices
de obesidade no planeta. Entre adultos obesos, de 19 a 42% sofrem com
a discriminação. As taxas são ainda mais altas entre as mulheres e aqueles com
maior índice de massa corporal (IMC).
Valeska ressalta ainda que obesidade não é sinônimo
de doença, assim como magreza não é sinônimo de saúde. No entanto, mais do que
a aparência física, ela ressalta a importância das pessoas se reconhecerem da
forma que são, e se manterem saudáveis independentemente dos padrões físicos
impostos pela sociedade. “A questão da não aceitação da autoimagem está
totalmente ligada a doenças como anorexia, bulimia nervosa e a compulsão
alimentar. É muito importante saber que o peso por si só não determina a saúde
de uma pessoa. ”, diz. A especialista reforça que é fundamental termos uma
alimentação saudável e praticar exercícios físicos, independente da balança.
Valeska
Bassan - psicóloga especializada em transtorno compulsivo alimentar
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