Instituições de ensino contam como estão trabalhando o afeto, a saúde e o bem-estar de pais, alunos e professores
A vida foi afetada e o afeto nunca
se fez tão necessário!! Psicanalistas, psiquiatras, psicólogos e educadores
conversam e trocam saberes junto às famílias de crianças e jovens que estão há
mais de 70 dias com aulas remotas. Garantir a saúde mental de toda a comunidade
escolar – pais, alunos e professores - é um ofício que exige a participação de
todos. As dúvidas, medos e questionamentos que surgem a cada dia em meio
ao pandemônio no qual todo brasileiro está passando são parcialmente
respondidas por profissionais das áreas da ciência, saúde e educação. Para os
especialistas, é importante cuidar agora, para que após a pandemia da covid-19
o brasileiro não seja surpreendido pela pandemia da depressão, da ansiedade ou
do estresse.
Flavio Cidade é orientador
educacional do 3º, 4º e 5º ano do Colégio Equipe, em São Paulo. Ele conta que
sentiu a necessidade de estar mais perto dos alunos, além das aulas remotas, a
partir de relatos dos pais dos alunos. Muitos diziam sentir os filhos
angustiados.
Segundo Cidade, foi a partir do
contato com uma mãe em que ela contou sobre como estava seu filho, que o
professor sentiu que precisava conversar com esse aluno. “O professor ficou uma
hora conversando com essa criança, e percebeu que mesmo de forma remota, é
importante proporcionar um espaço para as crianças se abrirem e contarem o que
estão passando”, conta.
“Não, você não está entendendo! Eu
estou viciado em série”. Essa foi a colocação de um aluno de 3º ano em uma live
que o Colégio Equipe organizou entre alunos do fundamental 1 junto aos
educadores da escola e as especialistas Julieta Juralinsky (psicanalista) e a
médica pediatra Ligia Bruni Queiroz.
Juralinsky explicou para essa
criança que assistir séries durante a quarentena não é ruim, pois distrai a
cabeça e estimula a imaginação. Mas o vício não é bom! Como tudo em excesso.
Como essa criança, muitas outras expuseram seus pensamentos e questionamentos,
que foram respondidos pelas especialistas nos aspectos relacionados às suas
áreas e respeitando a idade e ludicidade de cada um dos alunos.
“Tivemos de inserir as aulas de
Orientação Educacional na grade das aulas remotas”, conta Ana Claudia Esteves,
Orientadora Pedagógica da Escola Stance Dual, em São Paulo, após receber uma
demanda de aluno do 9º ano, solicitando conversar. Além das aulas de Orientação
Educacional com todos os alunos, a escola também cuida para que os pais dos
seus alunos sejam atendidos em seus questionamentos. A Stance organizou uma
live com a psicopedagoga Fatima Gola e os pais dos alunos, para conversarem
sobre tudo o que está acontecendo levando em consideração a faixa etária dos
estudantes.
Na live, Fátima Gola explicou que
todas as pessoas tiveram de se adaptar à nova realidade e depois que essa vida
foi acomodada, surgiu o tédio, a mesmice e uma série de restrições em nome da
proteção e preservação da saúde. “Ainda não sabemos a reverberação que a
pandemia vai causar nas crianças a partir de 8 anos de idade. Quando entram na
adolescência, começam os pensamentos extremados e os medos”, explica a
especialista. Segundo ela, algumas crianças e jovens verbalizam. Outros não, e
esses que têm dificuldade em se abrir as famílias devem prestar atenção e
contar para a escola qualquer alteração de comportamento. E a escola, por sua
vez, também deve relatar às famílias como seus filhos estão se comportando
durante as aulas e contatos remotos.
No Centro Educacional Pioneiro, zona
sul de SP, uma aluna do 8º ano escreveu uma carta ao colégio pedindo que
cuidassem da saúde mental dos alunos e dos professores. “Achei muito bacana a
atitude dessa aluna, e sua preocupação com todos. O 6º ano, por exemplo, nos
pediu mais aulas de ética e convivência, porque sentiam necessidade de
conversar mais sobre tudo o que está acontecendo”, conta o coordenador da área
de humanidades, Mario Fioranelli Neto.
Para responder aos questionamentos e
angústias dos pais, o colégio convidou o psicólogo Alexandre Coimbra para uma
live. O Pioneiro faz questão em ressaltar que os cuidados com a saúde vão
além dos alunos e pais. “Nossos professores têm de estar bem de saúde física e
emocional, para poderem cuidar dos seus alunos. Fazemos reuniões frequentes com
toda a equipe docente, e reforçamos a importância do bem estar de cada um”,
conta Mario.
O Instituto Singularidades,
faculdade que forma professores em Pedagogia, Letras e Matemática, em São
Paulo, encontrou uma maneira eficiente para garantir que todos os alunos da
graduação sejam olhados com afeto por cada um dos professores, durante as aulas
remotas.
“Nossos alunos são de realidades
diferentes. Temos alunos ricos, pobres, que moram em regiões mais abastadas e
que moram em regiões de grande vulnerabilidade. E todos eles têm de ser
atendidos respeitando sua singularidade”, conta Cristina Nogueira, coordenadora
pedagógica do curso de Pedagogia.
Segundo Cristina, um telefonema para
o aluno já faz toda a diferença. “Temos uma equipe especializada em apoio
emocional. Se notam que determinado aluno está ausente na aula, ou seu vídeo
não está visível ou outro problema qualquer, entram em contato para conhecer o
motivo e poder ajudá-lo”, diz.
Para que esse trabalho de
atendimento personalizado seja efetivo, o Singularidades criou uma planilha com
o histórico de atendimento dos últimos dois meses de cada um dos alunos, e
compartilha com todos os professores. “Está sendo muito bom. Dessa forma, cada
professor, antes de entrar em aula, vê a planilha e fica a par da história de
cada estudante, possibilitando a intervenção quando necessário”, diz.
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