A constituição do trabalho vinha, há alguns anos,
anunciando uma nova geografia, que incorpora, em sua estrutura, a tecnologia e
a adoção de processos mais maleáveis e inteligentes.
Em 2018, por exemplo, o IBGE registrou um total
de 3,85 milhões de profissionais atuando em home office, seguindo uma clara
tendência por relações trabalhistas baseadas em confiança, flexibilidade e
autonomia.
Mas, estas transformações, que caminhavam de
forma tímida e ainda representavam um estado futuro, foram antecipadas pela
pandemia da covid-19 e, de um dia para o outro, tivemos que nos ajustar a uma
nova realidade de trabalho.
Agora, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV),
67,4% dos trabalhadores formais estão operando remotamente no país. E, apesar
das muitas dificuldades apresentadas por este cenário, as empresas brasileiras
já demonstram um bom nível de adaptação.
Alguns benefícios socioeconômicos também se
tornaram perceptíveis com a nova dinâmica, entre eles: o fim do tempo de
deslocamento e a diminuição de grandes problemáticas urbanas, como trânsito,
transporte público e poluição.
De acordo com a Cetesb, na primeira semana de
isolamento houve uma queda de 50% da emissão de agentes poluentes na cidade de
São Paulo. E os trabalhadores, que gastavam, em média, 3 horas diárias com
locomoção, ganharam mais tempo e comodidade. Como aponta o estudo realizado
pelo Instituto Renoma, isto gerou um índice de 44% de satisfação entre os
profissionais contemporâneos.
O ecossistema empresarial, por sua vez, também
está colhendo frutos, como o aumento de até 30% na produtividade e uma economia
de 15% em infraestrutura para cada colaborador a distância.
Como sabemos, ainda que a crise atual seja
passageira, seus impactos na rotina social serão permanentes, e uma das poucas
previsões possíveis para o período pós-pandemia é a de que o mercado de trabalho
não voltará para seus moldes tradicionais.
Das muitas mudanças de cenário, a mais importante
é, com certeza, o estabelecimento de novos valores e aptidões nas relações de
trabalho.
As empresas atuais precisam, portanto, abandonar
características obsoletas, como a necessidade de controle e a desconfiança,
para adotar posicionamentos de compromisso e cuidado, físico e emocional, com
seus colaboradores.
É normal que, neste contexto, experimentemos
sensações de medo, insegurança e apego a tradições, afinal, processos seculares
estão sendo postos em xeque de uma só vez.
A distância e o home office, por exemplo, geram
angústias ao banir, de forma drástica, as relações de comando e controle com as
quais estávamos acostumados a aplicar e mensurar disciplina e produtividade.
Porém, isto não representa a extinção das boas práticas, apenas que elas foram
deslocadas de um ambiente simbólico para o outro. Sendo assim, confiança,
transparência e foco na entrega passam a ocupar um lugar central nas gestões
organizacionais.
O “novo normal” também exige a substituição da
velha mentalidade de chefes VS funcionários por uma outra, que convoca todos os
membros de uma empresa a se comportarem como sócios dela, incorporando mais
liderança, responsabilidade e protagonismo em suas atividades.
Assim, fica evidente que a pandemia não está
moldando apenas a forma de ser do trabalho, mas também dos próprios
trabalhadores, que precisam se adequar a necessidades e competências
diferenciadas.
O perfil do futuro, neste aspecto, é criativo,
resiliente, crítico, colaborativo, autogerenciável e capaz de tomar decisões e
solucionar problemas complexos com eficiência e autonomia.
No pós-pandemia, serão valorizadas as pessoas que
apresentarem posturas mais empreendedoras, no sentido de perseguir propósitos e
desempenhos relevantes.
A própria noção de “emprego” deve ser superada,
criando profissionais que sentem prazer em suas funções e desfrutam com a
possibilidade de agregar e contribuir para o crescimento geral. A busca por
significado, autoconhecimento e senso de utilidade são, portanto, umas das
principais características do colaborador pós-crise.
Por fim, não podemos nos esquecer do papel
essencial da tecnologia nestas transformações, entidade responsável pela
instituição de uma sociedade híbrida.
Na realidade atual, aparatos digitais se tornaram
indissociáveis das práticas sociais e, não apenas estão facilitando nossa
rotina, como nos ensinando outros modos de existência e relacionamento com o
mundo.
Inclusive, conceitos como espaço e tempo estão
ganhando novas perspectivas e a própria noção de “presença” está passando por
adaptações. O isolamento também provou, de forma incontestável, que a distância
é, de fato, apenas o trajeto de um ponto e outro e, não, um obstáculo.
A partir de agora, por exemplo, uma mesma equipe
poderá contemplar perfis heterogêneos e situados em locais distintos do globo,
com maior fluxo de saberes, culturas e opiniões. Afinal, já entendemos que a
proximidade física não é um fator decisivo na produtividade de um grupo.
Para concluir, fronteiras, materiais e
figurativas, foram ultrapassadas. Nossa missão, neste momento, é nos capacitar
para o futuro e abraçar, com criatividade e inovação, as mudanças em curso.
Otávio Amaral - CEO do Empresômetro – Empresa
voltada a inteligência de mercado. Suas ferramentas incluem listas de
prospecção, que possibilitam maior assertividade, além de oferecer
soluções que utilizam a mais alta tecnologia da informação, garantindo
segurança na tomada de decisão de gestores de grandes empresas, como também
proporciona conhecimento de mercado para pequenas e médias empresas através da
ferramenta online, Empresômetro Listas.
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